Nas últimas semanas, no auge das operações price tag, deputados de direita correram para se disassociar de minoria extremista e para protestar contra a generalização dirigida à população de colonos, cuja maioria respeita as leis.
Em sua resposta pública aos incidentes na Brigada Efraim, o primeiro-ministro chamou os revoltosos de “anarquistas”, um punhado de extremistas que não representam a população dos territórios. As soluções propostas por Binyamin Netanyahu e seus ministros também incluíram uma determinação à polícia para agir com mão forte contra o punhado de anarquistas.
Ninguém parou para perguntar por que milhares de jovens colonos chegaram a desafiar as regras do jogo democrático, e a seguir cegamente rabinos fanáticos, enxergando as leis do país como mera recomendação.
Em vez de se referir às raízes do problema, o primeiro-ministro limitou-se a incumbir novamente o comandante da polícia e os policiais do “Distrito de Samária e Judéia [Cisjordânia]”.
Vários dias depois – que surpresa! – irromperam novas revoltas, violência e atentados contra valores democráticos. Desta vez em choques sobre o caráter religioso do Estado de Israel. O que começou como oposição de soldados do movimento sionista religioso a ouvir soldadas cantarem, evoluiu para uma discussão acalorada e incisiva sobre discriminação de gênero, violência contra mulheres e extremismo religioso em espaços públicos.
A deputada Tzippi Hotovely, que há poucos dias apresentou um projeto de lei que permitiria a soldados deixar o local em que mulheres cantassem. Também objetou contra os fenômenos recentes e se referiu aos revoltosos como “anarquistas”. O primeiro-ministro, de sua parte, recriou sua resposta aos incidentes price tag, requisitando novamente o comandante da polícia para administrar o problema. Como é conveniente para a deputada Hotovely legislar a regulação sobre discriminação de mulheres e no dia seguinte pronunciar-se contra a violência e chamar os perpetradores de “anarquistas”, sem observar o contexto simples de causa e efeito…
O esforço da liderança de direita para subestimar os dois fenômenos e chamar os revoltosos de “anarquistas” é também uma tantativa de se isentar de responsabilidade e de evitar um tratamento sério do assunto. Os perpetradores foram inspirados por ministros do gabinete do próprio governo, que estão em estado de atenção perante o Conselho de Colonos e prevêem que as primárias do Likud apóiem a legitimação de postos avançados de assentamentos com o roubo de terras palestinas sob os auspícios do Estado.
Os amotinados da população religiosa e haredi [ultraortodoxa] buscam sua inspiração em leis como a da deputada Hotovely, de prefeitos que regulam a exclusão e discriminação efetiva de mulheres, tudo sob os olhos atentos dos ministros do gabinete.
Em ambos os casos das últimas semanas, em que o crescente extremismo foi exposto ao público, não serão suficientes condenações e declarações. O uso do rótulo “anarquistas” tampouco ajudará.
A batalha contra o extremismo só poderá ser vencida por uma liderança autêntica que saiba como mantê-la frente a representantes dos colonos e dos haredim, mesmo quando o confronto com eles for difícil, inconveniente e – principalmente – exija um preço político.
Qualquer um que não esteja pronto a evacuar postos avançados ilegais e a mostrar que o domínio da lei é um valor básico da democracia, estará apoiando a “juventude das colinas” e os amotinados de direita.
Qualquer um que deixe de agir contra prefeitos, rabinos e ativistas politicos que desejam um aumento do poder político do fundamentalismo religioso, será incapaz de lidar com o extremismo religioso e o fenômeno da exclusão de mulheres.
Na batalha sobre a identidade da sociedade israelense, não deve haver vacilações e não há alternativas. O Estado de Israel está mudando dramaticamente diante dos nossos olhos. O primeiro-ministro deve decidir se deseja interromper a deterioração ou apoiá-la.
YARIV OPPENHEIMER é secretário-geral do Movimento PAZ AGORA
[ Publicado no Maariv em (01/01/2012 | e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]