Acordo por libertação de Gilad Shalit pode fortalecer Hamas
O acordo firmado entre Israel e o Hamas, que prevê a troca de 1.027 prisioneiros palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit, deverá fortalecer o grupo islâmico e enfraquecer seus rivais laicos do Fatah e a Autoridade Palestina.
Shalit é o prisioneiro de guerra israelense que ficou o período mais longo no cativeiro. A história dele causou profunda comoção em Israel e, segundo as últimas pesquisas de opinião, 90% da população apoia o acordo entre Israel e o grupo islâmico Hamas para obter a libertação do soldado. Gideon Levy, colunista do jornal Haaretz, chegou a qualificar a comoção que se instalou em Israel como “psicose”.
O acordo foi anunciado na terça-feira pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e pelo líder do Hamas, Khaled Meshaal.
A Autoridade Penitenciária de Israel publicou neste domingo a lista oficial dos 477 prisioneiros palestinos que serão libertados em troca do soldado israelense Gilad Shalit, capturado por grupos palestinos há mais de cinco anos.
Logo depois da publicação, as autoridades começaram a deslocar as 27 prisioneiras que serão libertadas para a cadeia Hasharon, e os 450 prisioneiros para a cadeia de Ktziot, no sul de Israel.
O chefe do serviço de Inteligência Interna de Israel (Shin Bet), Yoram Cohen, reforçou essa avaliação: “O acordo levará ao fortalecimento do Hamas e ao enfraquecimento da Autoridade Palestina (que controla a Cisjordânia) e poderá incentivar novos atentados e sequestros”.De acordo com Cohen, o preço que Israel tem que pagar para libertar Shalit é “pesado”, mas ele afirma que as forças de segurança poderão enfrentar os riscos envolvidos no acordo: “Na Faixa de Gaza existem 20 mil guerreiros do Izadin al-Qassam (braço armado do Hamas), e mais algumas centenas não mudarão o quadro”, declarou.
‘Melhor possível’
O assessor de Segurança Nacional de Netanyahu, Yaacov Amidror, em entrevista à rádio estatal Kol Israel, também opina que o acordo dará força ao Hamas, considerado por Israel um grupo terrorista: “O Hamas ganha pontos e se fortalece às custas do Fatah”, disse Amidror, ressalvando que o acordo é o “melhor possível nas circunstâncias atuais”.
Ele mencionou as mudanças nos regimes do Oriente Médio, decorrentes da chamada Primavera Árabe, como um fator catalisador para o acordo, agregando que a instabilidade que vigora na região levou o governo israelense a se apressar em concluir o plano porque “ninguém sabe o que acontecerá no futuro”.
O fortalecimento do Hamas, que não reconhece a existência de Israel, e o enfraquecimento da Autoridade Palestina junto à opinião pública na Cisjordânia e na Faixa de Gaza podem tornar ainda mais remotas as chances de uma retomada do processo de paz entre israelenses e palestinos.
Acordo
O soldado Shalit foi detido em 2006, e desde então sua família faz campanhas pedindo a sua libertação.
O acordo anunciado na terça-feira estabelece que Israel irá libertar os prisioneiros palestinos em duas etapas. Na primeira, Israel soltará 477 presos, entre eles 280 que foram condenados à prisão perpétua pela morte de civis israelenses e 27 prisioneiras.
Palestinos e israelenses se preparam para troca de prisioneiros
Tanto em Israel como nos territórios palestinos há preparativos intensos para a troca de prisioneiros, e nos dois lados cresce a comoção pública com a aproximação da data da libertação, prevista para a próxima terça-feira.
A Cruz Vermelha deverá identificar e examinar os prisioneiros nessas duas cadeias, das quais eles serão transportados para postos de checagem militares na entrada da Faixa de Gaza e da Cisjordânia na terça.
Famílias de vítimas de atentados entraram com recursos na Justiça para impedir a libertação de responsáveis por ataques que causaram a morte de seus filhos. Porém, segundo precedentes, a Justiça de Israel não costuma interferir em decisões políticas do governo.
Décadas na cadeia
Na Faixa de Gaza, o braço armado do Hamas se prepara para transportar Shalit do local do cativeiro até o Egito – operação considerada de alto risco, pois há receios de que grupos extremistas islâmicos, ligados à Al-Qaeda, tentem sabotar a troca de prisioneiros.
Gaza, na Cisjordânia e em aldeias árabes em Israel, dezenas de famílias se preparam para se reunir com prisioneiros que estão há mais de 20 anos em cadeias israelenses.
O prisioneiro mais antigo é Sami Yunes, de 80 anos, da aldeia de Arara, no norte de Israel. Ele foi preso por assassinato em 1983. Outro prisioneiro dos mais antigos é Tawfic Abdallah, 56 anos, marido da brasileira Lamia Maruf, condenado à prisão perpétua em 1986 pelo sequestro e assassinato de um soldado israelense.
No entanto, nos territórios palestinos também há muitas famílias decepcionadas pelo fato de seus parentes não constarem da lista de libertados. Depois da soltura dos 477 prisioneiros nesta semana, e de outros 550 dentro de dois meses, ainda restarão mais de 6 mil prisioneiros palestinos nas cadeias israelenses.
[ fonte: Guila Flint | publicado na BBC Brasil em 12 e 16|10|2011 | editado pelo PAZ AGORA|BR ]