Por toda a existência do Estado de Israel, a população secular teve que se acomodar, involuntariamente, ao monopólio do Grande Rabinato sobre matérias relativas ao status pessoal. Muitos israelenses se ressentiram por serem obrigados a casar numa cerimônia religiosa, sem a qual o Ministério do Interior não reconheceria o matrimônio.
Mesmo cidadãos que contornam esse procedimento, através de uma onerosa cerimônia civil no exterior, acabam descobrindo que, se quiserem o divórcio, o Estado não o reconhecerá a não ser que seja realizado pelo mesmo establishment rabínico que tentaram evitar.
Esta situação ultrajante tem sido especialmente prejudicial para judeus que não são considerados como tais sob a lei religiosa judaica, a halachá, incluindo centenas de milhares de imigrantes da Etiópia e da antiga União Soviética, mas também gente nascida aqui que abomina tal compulsão.
Nos últimos anos, vimos uma tendência do rabinato para uma interpretação da halachá de maneira mais ultra-ortodoxa e mais extremista. Isto cria grandes dificuldades para a população como um todo, Também intensifica o choque entre os cidadãos do país e o establishment rabínico, ao limitar a capacidade dos jovens de exercer seu direito fundamental a formar uma família.
Pode-se supor que apenas a silenciosa população secular vem sendo vítima desta pobre combinação de religião com Estado. E que só essa comunidade precisa se valer de ações contornando o sistema, como casamentos civis e cerimônias de casamento em Chipre. Mas, na verdade, boa parte da comunidade nacionalista-religiosa também está farta. Por falta de qualquer outro recurso, tomam ações como cerimônias de casamento privadas.
Tais esforços para driblar o sistema refletem uma angústia real, que levanta a questão: se a maior parte da população está sofrendo pela ditadura dos burocratas haláchicos que fornecem serviços que nem a comunidade ultra-ortodoxa usa, quem ainda precisa do rabinato, exceto os partidos religiosos?
De qualquer ponto de vista – social, civil e econômico – seria melhor transferir os poderes dos rabinatos para as autoridades locais, que serviriam a população baseados nas necessidades da comunidade.
O Parlamento precisa mudar a lei e proporcionar casamento civil para todos, além do casamento religioso. A sociedade israelense está despertando, ainda que muito polidamente, contra a coerção religiosa. O governo precisa decidir o que é mais importante – sua aliança com os partidos ultra-ortodoxos ou o bem estar do povo.
[ Editorial do Haaretz publicado em 24/10/2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]