Matzeivá. Uma lápide para Juliano Mer-Khamis
Um vídeo de Silvio Tendler
Legendas/Subtitles – Português/English
Fotografia: Ecatherina Brasileiro | Montagem: Felipe Vianna | Produção: Shlomo Azaria.
Versão em inglês: Kaith Cattley, Valéria e Cary Wasserman
[ Silvio Tendler é membro dos AMIGOS BRASILEIROS DO PAZ AGORA ]
Ator e ativista israelente Juliano Mer-Khamis é assassinado
Mer-Khamis, 52, levou cinco tiros em frente ao teatro que fundou em Jenin.
Ele recebia ameaças desde que criou instituição na Cisjordânia.
O ator e diretor israelense-palestino Juliano Mer-Khamis em sua casa em Haifa, em foto de 2004 (Foto: Alex
Rozkovsky / AP)
O ator, diretor e ativista politico israelense-palestino Juliano Mer-Khamis, 52, foi baleado e morto em 04/04/2011 por homens mascarados. O assassinato ocorreu em frente ao ‘Jenin Freedom Theater [Teatro da Liberdade], que fundara em um campo de refugiados na cidade de Jenin, na Cisjordânia.
Seu pai, Saliba Khamis, era um árabe cristão que foi dirigente do partido comunista em Nazaré. Mer-Khamis nasceu e cresceu naquela cidade. O ator ficou conhecido por seus papéis no teatro e, desde 1984, no cinema. Ao longo dos anos tornou-se também diretor e intenso ativista político.
Sua mãe Arna, judia que lutou pela fundação do Estado de Israel, tornou-se ativista pelos direitos palestinos. Ficou conhecida por ter montado um grupo de teatro em Jenin para ajudar crianças traumatizadas pela primeira Intifada, iniciada em 1987.
Mer-Khamis se associou ao teatro criado por sua mãe em Jenin. Em 2006, Mer-Khamis foi co-fundador do ‘Freedom Theater’ na cidade. Recebia constantes ameaças de extremistas. Embora seu trabalho fosse muito apreciado por palestinos, seu trabalho de juntar rapazes e moças e o conteúdo satírico e contestatório das peças enraiveciam elementos muçulmanos conservadores em Jenin.
A sede foi incendiada duas vezes no passado, mas Khamis continuou dividindo seu tempo entre Jenin e Haifa .
Em vez de jogarem pedras ou aprenderem a atirar, seus pequenos atores podiam falar, dançar, declamar poemas e cantar no ‘Freedom Theater’.
Segundo o prefeito de Jenin, Qadura Moussa, “ele era um cidadão palestino de origem israelense. Um ator e um artista mas, mais do que tudo, um verdadeiro ser humano. Não sabemos porque isto aconteceu, mas todo mundo do campo condena a morte deste nosso filho cuja mãe também fez muito para a gente de Jenin”.
Já Adnan al-Hindi, presidente do “comitê popular” do campo de refugiados disse que “ele dizia que sua mansagem era para libertar cidadãos da autoridade dos seus líderes e as crianças de seus pais. Havia mistura de sexos e danças. Tentamos conversar e persuadi-lo de que ele estava errado, mas não ajudou. A opinião pública se virou contra ele”.
Dentro do campo, reconstruído desde a sua destruição parcial, as pessoas relutam em falar sobre Mer-Khamis. Um grupos de anciãs sentadas à beira da estrada deu sua opinião: “Só Deus sabe o que aconteceu, mas o teatro era um lugar vergonhoso”.
O cineasta israelense Amos Gitai, que dirigira Mer-Khamis no filme “Kippur” (2000) se disse chocado com a morte do ator. “Existem pessoas como Juliano, que usam seus próprios corpos para servir como ponte sobre o abismo do ódio. Ele é maior que a vida”, disse Gitai.
Do G1, em São Paulo, Economist, Guardian, Haaretz