“Budrus” documenta um episódio histórico que mostra o fortalecimento e a eficácia da opção palestina pela resistência pacífica. Ayed Morrar conseguiu unir, em 2003, membros da Fatah, do Hamas e pacifistas israelenses num movimento para impedir que a aldeia palestina fosse dividida e tivesse parte de suas terras expropriadas para dar lugar à construção do Muro de Separação de Israel.
Dirigido pela brasileira Júlia Bacha e premiado em diversos festivais internacionais de cinema, como Berlim, São Francisco e Tribeca, o documentário “Budrus” está sendo lançado em outubro no Brasil.
AGENDE – São Paulo
3ª 25/10 – 20h | Casa da Cultura Judaica – R. Oscar Freire, 2.500 – Metrô Sumaré;
4ª 26/10 – 14h-18h | Coletiva de imprensa, exibição do filme e lançamento do DVD | Instituto Cervantes – Av. Paulista 2439 – Metrô Consolação;
4ª 26/10 – 20h | PUC-SP – R. Monte Alegre 936 – auditório 134 – Perdizes – São Paulo;
5ª 27/10 – 9h | Associação Palas Athena – R. Leôncio de Carvalho 99 – Metrô Brigadeiro;
Realização e apoios aos eventos (em ordem alfabética)
Amigos Brasileiros do PAZ AGORA – PAZ AGORA|BR Associação Palas Athena Casa da Cultura Judaica – CCJ Instituto Cervantes Instituto de Cultura Árabe – ICARABE Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP
Entrevista – Julia Bacha, de “Budrus”
[ por Fátima Lacerda | 01|06|2010 ]
Depois de sua recente projeção no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, Budrus, o filme da diretora brasileira Julia Bacha, prossegue em sua trilha internacional. Nos próximos dias o filme será projetado na Austrália e em Washington, além de première marcada para os dias 7 e 9 de julho próximo, respectivamente na Palestina e em Israel.
Durante sua recente estada em Berlim, o Adoro Cinema teve a possibilidade de uma entrevista com a diretora, que fala em detalhes sobre a experiência internacional com o filme na mala.
ADORO CINEMA: O que mudou na trajetória do filme depois do apoio da Rainha da Jordânia?
JULIA BACHA: Existem muitos filmes sobre a Palestina e Israel. O caráter inflacionário causa um certo desinteresse, mas quando se diz que a Rainha Noor da Jordânia está apoiando o filme as pessoas prestam mais atenção. Esta é a primeira vantagem.
A segunda é que ela nos ajuda a ter acesso a grupos os quais normalmente não teríamos, principalmente no mundo político, devido a sua posição no governo. Apesar de ser “somente” a rainha mãe, ela conhece muita gente, além de ser muito respeitada internacionalmente. Norte americana, ela se converteu ao islã quando se casou com o falecido rei Houssein, é arquiteta e sempre trabalhou muito. Além de ser muito renomada, ela sempre esteve muito envolvida com assuntos interculturais entre o mundo árabe e o mundo ocidental.
AC: Como é apresentar o filme no Rio de Janeiro?
Julia: Acho que o filme é uma história interessante para vários conceitos mundiais, inclusive no Rio. Qualquer lugar onde a violência é um problema, você pode constatar de forma prática como podem ser utilizadas atitudes pacíficas. Não tenho a pretensão de dizer exatamente o que deveria acontecer no Rio, mas acho muito pertinente a temática do filme na cidade.
AC: Quais foram as tuas impressões durante as filmagens de Budrus sobre a vida local dos israelenses e palestinos?
Julia: Tem muitos grupos e muitas comunidades de israelenses e palestinos que fazem trabalhos coletivos e de colaboração em diversas áreas. Tem o trabalho people-to-people no geral e também projetos de interação econômica entre israelenses e palestinos, com monitoramento recíproco.
Atualmente, como não há cooperação com o governo nem qualquer recurso do mesmo para esses trabalhos, há vários projetos, por exemplo, no setor do meio ambiente.
O meio ambiente está ficando totalmente abandonado nas regiões e ele não vai esperar mais cinco anos pela construção de uma estação de águas, por exemplo. Em cada uma dessas estações de água existem prefeitos que conseguem pequenas vitórias ao fazer um acordo entre diferentes grupos, onde eles limpam a água para, por exemplo, não deixar que a mesma entre poluída em terrenos israelenses. São pequenos aspectos, mas importantíssimos para um trabalho comunitário contínuo.
Vi também vários vilarejos que estão adotando a política pacífica mostrada em Budrus para proteger as suas terras e, com isso, suas respectivas memórias regionais. São “pequenas” vitórias, que se acumulam e incentivam mais pessoas a participarem dessas iniciativas regionais. Um dia uma derrota, no outro dia duas vitórias e assim vão se dando as iniciativas e as comunidades num trabalho duro, mas com muita recompensa.
[ entrevista em 01|06|2010 por Fátima Lacerda para o ‘adorocinema’ ]
Brasileira filma iniciativas pela paz no Oriente Médio
Como aconteceu com quase todos os moradores de Nova York, os atentados de 11 de setembro de 2001 tiveram um profundo impacto na vida da carioca Julia Bacha, 29, que havia chegado à cidade aos 17 com a intenção de estudar inglês.
O abalo provocado pelo choque de dois aviões comandados por militantes da al-Qaeda às torres do World Trade Center levou a então estudante de história na Universidade de Columbia a querer entender mais sobre o Oriente Médio.
Julia tinha deixado para trás o curso de direito na PUC do Rio, para a apreensão dos pais, o economista Edmar Bacha e a vereadora Andrea Gouveia Vieira. Ao concluir o curso, foi aprovada para uma das vagas no mestrado da Universidade de Teerã. Mas a invasão do Iraque pelos EUA em 2003 – um dos desdobramentos dos atentados de 2001 – endureceu as relações com o vizinho Irã, que negou o visto.
Enquanto esperava uma nova oportunidade para entrar no país islâmico, a brasileira se estabeleceu no Egito, para trabalhar como assistente da cineasta americana de origem egípcia Jehane Noujaim. Acabou assinando o roteiro e edição de “Control Room”, filme que marca sua estreia no cinema.
O filme chamou a atenção da israelo-canadense Ronit Avni, que convidou Julia para dirigir o núcleo de cinema da Just Vision, organização não-governamental fundada por ela nos Estados Unidos, com escritório em Jerusalém, para divulgar iniciativas pacifistas de israelenses e palestinos numa das regiões mais conflituosas do planeta.
Budrus
O mais recente filme dirigido por ela, o documentário “Budrus”, exibido por aqui no festival “É Tudo Verdade”, registra as mais de 50 passeatas organizadas pelo ativista Ayed Morrar ao longo de dez meses, no esforço de convencer Israel a alterar o traçado do muro que estava construindo nos territórios palestinos ocupados e que afetaria os 1.500 moradores do pequeno vilarejo homônimo.
Entre outros efeitos, a barreira destruiria parte de um campo de oliveiras, fonte de subsistência, além de dividir um cemitério e uma escola da vila. O que começa como um pequeno protesto dos moradores em frente às máquinas do Exército israelense, acaba chamando a atenção de organizações pacifistas e provoca uma impensável reunião dos rivais Hamas e Fatah pela causa.
Parte do material usado no filme foi filmado pelos próprios manifestantes, como forma de intimidar os militares. “A câmera tem esse efeito porque os soldados não querem ser filmados cometendo violações aos direitos humanos. Além disso, se alguma coisa acontecer, esse material pode ser usado como documentação ou pode ser repassado para a mídia”, explica Julia, que falou ao G1 do escritório da organização em Nova York.
Sessão de gala
Premiado com o segundo prêmio do público no Festival Internacional de Cinema de Berlim, “Budrus” estreou esta semana nos EUA no prestigiado festival Tribeca Film. Antes, teve uma sessão de gala patrocinada pela rainha Noor, da Jordânia, que entregou a Julia e Ronit na ocasião o prêmio King Hussein Leadership Prize, concedido a indivíduos e organizações com ações de destaque em direitos humanos.
Com diversas produções no currículo, duas delas dirigidas pela brasileira, a Just Vision tem no seu acervo mais de 80 entrevistas de personagens dos dois lados do conflito, disponíveis em árabe, hebraico e inglês. O próximo projeto da ONG é uma série de curtas sobre o conflito.
A crescente visibilidade conquistada por “Budrus”, ironicamente, pode atrapalhar as próximas produções da organização na região do conflito.
“Não sabemos como vão ser os próximos filmes. Não somos conhecidos e isso é uma vantagem. Mas esse filme está recebendo muita atenção na mídia israelense. Já é muito difícil entrar em Israel por conta do nível de segurança. Fora isso, trabalhar na Cisjordânia é sempre complicado, o Exército pode a qualquer momento decidir quem entra e quem não entra de forma arbitrária”, diz Julia.
Quanto a registrar movimentos pacifistas numa das regiões mais conflituosas do mundo, em constante risco de bombardeio, a brasileira relativiza: “Meus pais ficam preocupados, mas eu sinceramente acho que Rio e São Paulo não são menos perigosos do que o Oriente Médio”.
[ publicado no site da Rádio Nova Joá ]
Ficha técnica