Como todo ano durante os dias ao redor do Yom Kipur, a grande questão emerge novamente: Como é possível que nós não tenhamos percebido os sinais da Guerra [de 1973] que se aproximava?
Mas não são apenas guerras que dão sinais prévios – eventos destrutivos, social e politicamente, tampouco aparecem como um raio no céu azul. Existe uma tendência crescente na direita para se distanciar dos vândalos da “etiqueta de preço” (“price tag“) e de nos fazer esquecer o fato de que esses grupos beligerantes, que cada vez mais lembram os fenômenos da Europa no período entre guerras, são a vanguarda do movimento de assentamento.
Claro, a vasta maioria das pessoas que vivem no outro lado da Linha Verde estão indignadas pelos incêndios de mesquitas, mas eu não me lembro de muitos deles terem saído para se manifestar contra o pogrom que ocorreu em Anatot no fim da semana passada, nem que condenem o assédio diário de agricultores palestinos, o arrancamento de árvores e o terror constante em Hebron.
Eles consideram o incêndio de mesquitas desnecessário e nocivo, mas o controle diuturno sobre as vidas de palestinos os ajuda a perpetuar o regime de ocupação. E aí as gangues das colinas têm um papel importante a serviço dos assentamentos: a atividades dos vândalos é prova viva da desesperança em contemplar qualquer mudança nos territórios.
Afinal, essas gangues estão traçando as fronteiras de poder do governo: Mesmo se, algum dia, a direita não estiver mais no poder ou Israel seja forçado a ceder por força de sanções internacionais, a política nos territórios não mudará substancialmente, porque os desordeiros estão no controle. Em cooperação com a polícia e o exército e o consenso geral de silêncio.
Eles têm todas as cartas. Ameaçam com uma revolta violenta contra qualquer governo que não sirva aos seus interesses. Nessas circunstâncias, quaisquer negociações para um acordo com os palestinos, sejam diretas ou indiretas, não passam de uma piada triste. A verdade é que a sociedade israelense e suas instituições governamentais estão perdidas face ao regime dos colonos ou temem suas chantagens.
O outro braço da pinça que tolhe Israel é o da “direita respeitável”. Os dois braços se combinam simbolicamente na pessoa do atual ministro da justiça: bem confortável entre os israelenses mais ricos, Yaakov Neeman apóia neste governo o ministro do exterior – o secular e “socialmente orientado” Avigdor Lieberman. Ao mesmo tempo, não oculta o fato de torcer pelo domínio do sistema legal pela lei haláchica (religiosa).
Os religiosos integristas e os ultranacionalistas seculares têm, na verdade, uma base comum e objetivos comuns. Ambos consideram o princípio da supremacia judaica como a única base para o sionismo e para a existência de Israel.
Como os ultranacionalistas na Europa durante o período negro do século passado, assim como os racistas espalhados hoje por toda Europa, os ultra-nacionalistas israelenses nutrem a solidariedade étnica através da xenofobia e do ódio pelo outro. Aos seus olhos, a comunidade de todos os cidadãos do Estado, incluindo os árabes, é uma comunidade artificial. Assim como o conceito de cidadania seria artificial , e portanto inferior à comunidade étnico-religiosa, a qual consideram natural.
A religião é usada como ferramenta para exaltar o judeu privilegiado e para pisotear os inferiores a ele. Neste conceito abrangente, valores universais e direitos humanos são vistos como princípios infantis. Nesta situação, sinais de desintegração multiplicam-se em vários setores da vida.
A legislação antidemocrática, recentemente aprovada no Knesset com apoio do Kadima, e a legislação ainda por vir, estão estimulando a erosão dos componentes liberais da educação pública. Também foi assim que aceitamos como natural a expulsão de estrangeiros, cujos filhos haviam nascido em Israel e – conforme prática aceita em todo o mundo ocidental – deveriam ter sido considerados israelenses para todos os efeitos.
Estes são apenas alguns exemplos que fazem o ultra-nacionalismo israelense mostrar-se retrógrado e afastado das melhores tradições democráticas. E podemos presumir que isto continuará.
[ Publicado no Haaretz em 14/10/2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]