Intelectuais israelenses apóiam reconhecimento do Estado Palestino

 
Centenas de intelectuais e acadêmicos isralenses participaram nesta quinta-feira, em Tel Aviv, de uma manifestação pedindo o reconhecimento do Estado Palestino e advertindo que o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu “está levando os cidadãos do país a uma catástrofe”.

O protesto – feito diante do edifício onde foi proclamada a Independência de Israel – incluiu discursos da ex-deputada trabalhista (atualmente no Meretz) Yael Dayan, da professora Galia Golan do PAZ AGORA, os escritores Amós OzSefi Rachlevsky, o líder dos protestos estudantes franceses em 1968, Daniel Cohn Bendit, os professores David HarelYosef Agassi, Tal Harris da ONG One Voice entre outros.

A escolha do local foi feita para salientar o fato de que o Estado de Israel foi fundado, porém o Estado Palestino – que devia ser criado após a decisão da ONU, de 1947, sobre a partilha da Palestina – não existe até hoje.

> (veja o vídeo abaixo – legendas em inglês) 


Yael Dayan disse ser absurdo que o governo de Israel chame a iniciativa palestina de unilateral. Perguntou: “E a ocupação, não é unilateral?”

A manifestação ocorreu um dia antes do discurso do presidente palestino, Mahmoud Abbas, na ONU, no qual pediria o reconhecimento do Estado Palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.

Os manifestantes divulgaram um abaixo-assinado apoiando o reconhecimento da Palestina e criticaram Netanyahu. “Diante de nossos olhos estarrecidos ocorre uma cena inacreditável – o premiê de Israel conduz os cidadãos para Massada”, afirmaram, em referência ao suicido coletivo cometido no ano de 73 por guerreiros judeus que lutavam contra o Império Romano.

Numa entrevista à agência palestina de notícias Ma’an, Abbas instou Netanyahu a escutar as centenas de intelectuais judeus que disseram que Israel deve ser o primeiro país a reconhecer uma Palestina indendente.

Maio de 68

Um dos participantes mais famosos no protesto foi o ex-líder do movimento estudantil na França em 1968, Daniel Cohn-Bendit instou os líderes dos protestos sociais israelenses e ajudar à causa palestina: “Eu falei com os líderes do protesto social. Eles têm receio de associar as duas lutas. Mas não existe solução para os problemas sociais de Israel sem acabar a ocupação”.

Daniel Cohn-Bendit discursa em manifestação em Tel Aviv pelo Estado Palestino

Daniel Cohn-Bendit discursa em manifestação em Tel Aviv pelo Estado Palestino

Em entrevista à BBC Brasil, elogiou a decisão de Abbas de recorrer à ONU, pois com essa medida o presidente palestino “está obrigando a comunidade internacional a se mexer… Depois do pedido de Abbas algo terá que acontecer e tudo é possível, tanto para o mal como para o bem. Pode haver violência, mas também pode haver uma retomada das negociações”, disse.

Cohn-Bendit disse ainda que “os palestinos têm direito de ter o Estado deles exatamente como os israelenses têm direito ao seu Estado”. Na opinião do político, que hoje é membro do Parlamento Europeu, não são os palestinos que apresentam um entrave às negociações de paz, e sim o governo de Netanyahu.

Salvar vidas

Durante o protesto, o astrofisico da Universidade de Tel Aviv, Elia Leibowitz, disse à BBC Brasil que resolveu participar “para poupar vidas”.

“Se você colocar uma pluma na nascente de um rio ela vai acabar chegando até o mar. Não é mais simples colocar a pluma diretamente no mar?”, questionou Leibowitz, acrescentando que “o Estado Palestino vai ser fundado, a única questão é quantos mortos ainda haverá até que isso aconteça”.

 

PAZ AGORA

A Professora Emérita Galia Golan, da direção do PAZ AGORA, culpou a liderança israelense pela incapacidade de se mover para um tratado de paz com a Autoridade Palestina: ”Desde 1988, poderíamos ter chegado a um acordo e foi inteiramente por nossa causa que não o fizemos”.

Dizemos SIM à Paz

Dizemos SIM à Paz

“Em 1988, a OLP aceitou um compromisso histórico. Eles renunciarm a 78% da terra para ter a paz e o fim da ocupação. Nós exigimos deles dar mais, dar mais, e eles não têm mais nada a dar… Fomos os rejeccionistas durante todos esses anos”.

“As fronteiras de 1967 sempre foram, de fato, as bases para negociações desde Camp David e a idéia de trocas de terras acordada e equalitariamente (para acomodar interesses Israel, ou seja o maior número de colonos) já foi, em princípio, aceita pelas partes”.

Os acadêmicos israelenses chamaram Abbas de “o líder mais moderado que qualquer um poderia desejar. Ele trilhou o caminho da não-violência” e está pagando o preço com o seu povo”.

“Então, ele fez uma ação inteligente quando viu que nada estava indo para lugar nenhum e foi à ONU. Nós, em nossa estupidez não iremos com ele à ONU. Mas o Estado que ele deseja – nas fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Oriental – nos dará uma fronteira oriental e o reconhecimento de Jerusalém Ocidental como nossa capital, o que não tivemos até agora.”

O artista gráfico David Tartakover – ganhador do Prêmio Israel, a láurea mais importante outorgada pelo Estado – se mostrou mais pessimista.

“Estes deveriam ser dias de festa para nós os israelenses, com a declaração do Estado Palestino, mas infelizmente, por causa dos interesses eleitoreiros de Obama, estamos em uma situação sombria”, afirmou o artista, em referência ao discurso proferido pelo presidente americano na ONU, em que se opôs à aceitação do pedido de reconhecimento ao Estado Palestino.

O fotógrafo Alex Levac, também ganhador do Premio Israel, se mostrou ainda mais pessimista: “Este governo está nos levando para um desastre. Nasci na Palestina, na época do Mandato Britânico, mas a sede territorial e messiânica que vigora aqui mudou completamente a realidade. Acredito na igualdade entre os seres humanos e fico indignado com o fato de que nosso governo ignora a necessidade dos palestinos de ter um Estado independente”

Tensões

Em seu discurso, o ex-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores, Alon Liel [responsável por negociações de paz com a Síria, adiantadas no governo Olmert], descreveu o discurso de Obama como “um soco em Abu Mazen”, e disparou:

Conversar com a Síria
Conversar com a Síria

“O discurso eleitoreiro americano declarou apoio dos EUA aos rebeldes da Líbia, Tunísia, Yemen e Bahrain – mas não aos palestinos que estão frente ao Estado de Israel”… “É doloroso ver um presidente como Obama dar esta recepção a Abbas na ONU – onde ele vem caminhando pela trilha diplomática por três anos.

Liel também descreveu a recente visita de vários escritores famosos isralenses ao escritório de Abbas em Ramallah, onde instaram o líder palestino a não ceder à pressão. “Obama não domina mais o mundo. Existe uma ampla comunidade internacional…Vá em frente, Abu Mazen (apelido do presidente palestino), não perca a esperança por causa do discurso eleitoreiro de Obama, vá direto à Assembleia Geral da ONU e vocês, os palestinos, poderão obter 150 votos em seu favor”.

No Brasil, Fiszel Czeresnia – veterano líder da comunidade judaica, que combateu em 1948 pela Independência de Israel – escreveu hoje no Painel do Leitor  da Folha de São Paulo: “… [endosso] as palavras do ex-chanceler de Israel Shlomo Ben-Ami: Enquanto não terminar a ocupação [dos territórios palestinos] enquanto Israel não viver em fronteiras internacionalmente reconhecidas e os palestinos não recuperarem sua dignidade como nação, a existência do Estado judeu não estará assegurada”.

 

 [ editado pelo PAZ AGORA|BR com informações da BBCBrasil (Guila Flint), Haaretz e PAZ AGORA em 22|09|2011. O video é da Israel Social TV ]

 

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