Se 430.000 pessoas, 7% da população total de um país, tivessem tomado as ruas de qualquer outra parte do mundo exigindo justiça social, aluguéis mais acessíveis e custo de vida mais baixo, todas placas teriam sido tomadas por símbolos de que a tão esperada revolução tinha por fim chegado.
Mas como essas pessoas são israelenses, o protesto foi tratado pelo mundo como uma curiosidade de verão. Não o deveria ser. Cada um desses manifestantes merece crédito pela construção de um movimento popular sério, que não se amotinou, mas questionou os valores da era hipercapitalista com a qual todos nós, em alguma medida, colaboramos.
Daphni Leef, uma das líderes dos protestos das barracas em Israel, merece um elogio especial.
Não só por um discurso no qual encara direto no olho a democracia (“não somos uma coleção de indivíduos solitários, cada qual sentado diante de uma caixa, a TV, e que a cada quatro anos deixa um papel em outra caixa – a urna eleitoral”), lembrando da inclusão dos que estão na base da pirâmide israelense – os beduínos.
A discriminações sofridas pelos árabes-israelenses que perfazem um quinto da população do país são o ‘elefante na sala’ de qualquer debate sobre justiça social.
Esta é uma demanda universal e não setorial e, uma vez lançada, será difícil ser barrada. Poucos teriam previsto que a manifestação de cabanas iria acabar no tipo de cenas que vimos este sábado nas ruas.
Leef abordou não apenas a desigualdade da sociedade israelense, mas as suas desigualdades inerentes. Que esta linha de pensamento dure bastante.
[ Editorial do The Guardian publicado em 07/09/2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]