A doutrina mais bizarra de retaliação foi colocada nesta semana pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu durante sua visita de condolências à família Fogel. “Eles assassinam e nós construímos“, disse Netanyahu a Tamar Fogel, 12 anos, que lhe perguntou: “O que aconteceria se você fizesse algo; a América faria algo para você?”
“Eles assassinam e nós construímos?” O que significa isto? Que assassinato é equivalente a construção, e que continuaremos construindo em resposta a qualquer assassinato por parte deles? E quanto à segunda parte da equação – irão eles nos assassinar a cada casa que construirmos?
Aliás, qual é o preço a pagar por 500 apartamentos? É o preço adequado para a vida de uma família inteira? Uns 150 apartamentos pelo sangue de um adulto e 50 apartamentos por cada criança? E o que acontecerá se os palestinos extraditarem os assassinos – iremos demolir as casas que construímos?
Não há dúvida. Netanyahu é uma fábrica de slogans, Tem um slogan para cada ocasião. Não se pode evitar pensar que o que motiva suas declarações é o desejo de agradar as pessoas com que ele está naquele momento. Ele jamais pronunciaria tal declaração se estivesse visitando uma família enlutada num kibutz e não em Itamar.
Direitistas insultados
As palavras pronunciadas na casa da família de Ruth Fogel, que descanse em paz, não se tratavam de política. Foi algo que Bibi improvisou. Depois de Netanyahu se ter tornado o primeiro premier a congelar obras de ocupação em troca de negociações, ele também é o primeiro deles a declarar que a construção de assentamentos é uma punição para os palestinos: ou noutras palavras, o empreendimento de assentamento é uma reação ao terror.
Assim, existe alguma surpresa que, após esta declaração, a simpatia global imediatamente se transformou em condenação, enquanto este desastre deixava um desagradável odor de negócio com sangue? Este não foi apenas o sentimento entre a comunidade internacional, mas também no campo da direita israelense,
Foi um insulto, disseram dirigentes do Conselho Yesha nesta semana. Ligar as construções a este assassinato é simplesmente um insulto. Foi como se o primeiro-ministro estivesse oferecendo-nos um trato: Aqui, você merece 500 apartamentos por este assassinato. E, mesmo assim, o número desceu para 400 casas. Aí, descobrimos que 200 deles, em Beitar Ilit, já estavam aprovados um mês antes e destinados a jovens casais ultraortodoxos. Assim, com grande cinismo, Netanyahu também usou esta ocasião para tentar resolver um problema político interno.
[ publicado no Ynet e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]