Por que só 400?’ , perguntou Eli Yishai. Precisamos construir 5.000 casas, mil para cada assassinado.
O governo israelense aprovou neste domingo a construção de 400 unidades habitacionais em Judéia e Samária [nomes bíblicos usados pelos colonos para designar partes da Cisjordânia], em resposta ao assassinato em Itamar. ‘
De certa maneira, Yishai está certo. Se a resposta adequada ao desprezível assassinato da família Fogel é a expansão de assentamentos, 400 é um número patético. Não reflete o choque, a repugnância e a fúria. Não traz conforto. Quanto muito, serve como tentativa de apaziguar, com uma pílula imobiliária, a linha dura dos colonos.
Ministros do Likud reagiram à decisão com declarações entusiasmadas. As do ministro dos transportes Katz e do ministro de assuntos estratégicos Ya’alon foram particularmente notáveis. Ao se ler suas declarações pode-se erroneamente pensar que, até o último fim-de-semana, uma luta renhida acontecia dentro do governo quanto à construção em Judéia e Samária. Os ministros pressionavam, ameaçavam e suplicavam, mas Netanyahu e Barak frustravam seus esforços.
A verdade é bem diferente. A questão da construção de assentamentos só incomodava os próprios colonos. A decisão ministerial de se unir ao lobby das obras, nesse momento, deriva da sua necessidade de dizer algo nacionalista e ativo face ao assassinato e, claro, de cálculos políticos frios: os simpatizantes dos colonos têm forte influência no Comitê Central do Likud.
Isto nos deixa com Netanyahu. A questão de qual é a coisa certa para Israel fazer com os territórios o acompanha, desde o dia em que decidiu entrar na política. Ele pensou em várias soluções, todas envolvendo partilha territorial. Nenhuma dessas opções incluía Itamar, um assentamento situado no coração da população árabe.
No seu primeiro mandato, Netanyahu me disse: “Observe quais os assentamentos que eu não visito”. Ele não viajava para assentamentos localizados no coração da Cisjordânia, porque achava que eram partes do problema, não da solução.
Bibi, para onde você vai?
A construção em Judéia e Samária já foi percebida como uma punição adequada para o terrorismo palestino. ‘Enquanto eles se engajam em atentados, nos engajamos em atividades de assentamento’. Mas, essa doutrina perdeu qualquer substância quando a maioria dos israelenses percebeu que não há forma de se perpetuar tal situação.
A escolha que temos é entre dividir a terra entre dois Estados ou ver a emergência de um Estado onde judeus não serão a maioria. A partilha seria um assunto difícil e doloroso. Um Estado bi-nacional seria um desastre.
Dada esta realidade, expandir assentamentos no coração da Cisjordânia é uma punição para Israel, não para os palestinos.
O massacre em Itamar foi uma notícia terrível para qualquer pessoa em Israel, desde a esquerda até a direita. É difícil entender porque o governo escolheu nos punir, ainda mais, com a expansão dos assentamentos. Os que querem transformar Israel num país de apartheid ou, alternativamente, num Estado dominado por uma maioria árabe, merecem este prêmio? Por que todos os demais têm que ser punidos?
Nesses dias, Netanyahu tenta agradar a todos, em quase todas áreas. Este é o jeito dele lidar com pressões, esta é a sua forma de sobreviver. Sua disposição para concessões é legítima. O compromisso é parte inseparável de um regime democrático. O problema é que, com tantas coações, acordos e negócios, perde-se a visão do objetivo.
Em vez de se perguntar, toda manhã, como terminará o seu dia, o primeiro-ministro de Israel deveria se questionar – e nós devemos questioná-lo: para onde você está indo?
[ publicado em 15.03.11 pelo Ynet e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]