Israel não deve usar a força contra a próxima Intifada


Se os sudaneses do sul e os timorenses do leste ganharam a independência antes dos palestinos, alguma coisa está muito errada. Como pode alguém comparar esses lugares à situação religiosa e internacional da Palestina? Este deve ser o pensamento de qualquer palestino que tenha calculado seu balanço privado de lucros e perdas desde os Acordos de Oslo.

As revoltas contra reis, sultões e presidentes autocráticos  – no norte da África e no mundo árabe – estão causando aos palestinos algum desconforto: como é que em todos esses lugares a população está conquistando tais ganhos contra regimes opressivos, e aqui estamos presos pela ocupação israelense, que dita ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, o que fazer e o que deixar de fazer.

Que conclusões podem tirar os palestinos da agitação no mundo árabe? A salvação não virá dos Estados Unidos, que não apóia Abbas apesar das múltiplas concessões que ele fez. Os documentos divulgados recentemente pela Al Jazeera revelaram o quão distante ele estava disposto a ir nas negociações com Israel, mas que não recebeu assistência de Washington.

Como se não fosse o suficiente, os Estados Unidos decisivamente vetaram a resoução do Conselho de Segurança da ONU que condenava a expansão dos assentamentos. E tudo isto apesar do fato de que no passado – após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter provocado cores de cabeça em Washington expandindo assentamentos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia (interrompendo assim o processo de paz) – os próprios Estados Unidos condenaram o empreendimento de assentamentos.

Os eventos das últimas semanas demonstram que revoltas civis não-violentas, mais do que concessões diplomáticas, trazem apoio americano. Abbas, no passado, rejeitou firmemente propostas de vários círculos para que organizasse uma revolta de massas não violenta.

Altos representantes da Autoridade Palestina e da Fatah tomaram medidas para conter os protestos semanais em Bil’in e outros vilarejos da Cisjordânia. Estavam temerosos não apenas da ascensão de adversários políticos, mas também de uma escorregada para a violência que poderia prejudicar os palestinos, como o que de fato correu na segunda intifada. O equilíbrio do poder no caso de um confronto violento está nas mãos do governo de Israel, que tem interesse de estimular tal conflito de modo a reforçar o domínio sobre os palestinos.

 

6ª feira em Bil’in – 04/03/2011


Agora a situação é diferente. O modelo positivo dos rebeldes não-violentos por todo o mundo árabe, e seu autocontrole poderia ensinar aos palestinos que é este o caminho para ganhos históricos. Se Israel usar violência para reprimir as manifestações palestinas, ele será visto como outro Muammar Gadhafi ou Mahmoud Ahmadinejad.

Existe uma grande efervescência nas ruas palestinas. O desapontamento com o processo de paz e com Israel e os Estados Unidos está desenfreado. A sociedade palestina tem o tipo de infraestrutura tecnológica que, em outros lugares, foi o motor por trás das manifestações de massa – Internet, celulares e antenas parabólicas. O “acelerador geracional”, que foi um fator no Egito também existe aqui: a sociedade palestina é uma sociedade de jovens cujos futuros estão bloqueados pela ocupação. A segunda intifada e o punho de aço de Israel formaram os anos da adolescência daqueles que têm vinte e poucos anos, e constituíram seu primeiro contato com a política.

Soldados, assentamentos, checkpoints e restrições de todo tipo há muito tempo fazem parte da sua vida diária.  Tudo que é necessário é apenas uma fagulha. O futuro está escrito.


Menachem Klein ensina Ciência Política na Universidade Bar-Ilan.

 

[ publicado no Haaretz em  08|03|2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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