Num momento em que a instabilidade no Egito e em outros países árabes gera incertezas sobre o futuro do Oriente Médio, o governo israelense fortalece posições de direita e abre caminho para aumentar o orçamento do Exército, segundo analistas locais.
O analista Yossi Verter, do jornal Haaretz, diz que, desde o início dos protestos no Egito, em 25 de janeiro, ministros israelenses têm ouvido avaliações “sombrias” dos serviços de inteligência sobre o que deverá acontecer quando o líder egípcio, Hosni Mubarak, deixar o poder.
“As previsões são negras e incluem orçamentos de segurança monstruosos, aumento do tempo de serviço militar dos reservistas e tensão nas fronteiras”, afirma Verter.
Para os analistas, além de favorecer o orçamento do Exército, o clima de incerteza também fortalece os partidos de direita.
“Quando ao seu redor reina a instabilidade, o israelense se desloca para a direita. (Num momento em que) regimes na região estão prestes a desabar e cair nas mãos de radicais, os israelenses não pressionarão o governo para se apressar em voltar à mesa de negociações”, diz.
“Se o apoio tradicional do Egito ao processo de paz e à Autoridade Palestina já não está garantido, o lado israelense, que até hoje não demonstrou grande generosidade, se tornará ainda mais resistente a concessões aos palestinos, e o público provavelmente aprovará essa resistencia”, acrescentou.
‘Instabilidade’
Em discurso recente no Parlamento, o premiê israelense Binyamin Netanyahu declarou que “estamos em uma situação de instabilidade”.
“Nesse tipo de situação é preciso olhar ao redor com olhos abertos e lúcidos. Nos lembramos do que havia aqui quando não havia paz, como lutamos no canal (de Suez), na Jordânia. Todos nós lutamos”, disse Netanyahu.
“Neste momento devemos entender que a base para qualquer acordo futuro é solidificar a força de Israel, com tratados de segurança de maneira que qualquer paz que seja alcançada possa se manter apesar das reviravoltas que caracterizam esta região (o Oriente Medio)”, afirmou o premiê.
A lider da oposição e ex-chanceler Tzipi Livni, do partido Kadima, acusou Netanyahu de “manipular a incerteza e os temores legítimos e verdadeiros dos cidadãos não para fortalecer a segurança, mas sim sua própria posição”.
“Sabia que ele (Netanyahu) iria falar de incerteza, instabilidade e medo. O mesmo medo que paralisará qualquer iniciativa (…) e levará o publico a buscar uma liderança forte”, disse Livni.
Nos últimos dias, o primeiro-ministro de Israel repetiu diversas vezes que o Egito “pode vir a se transformar em um Irã”, mencionando a possibilidade de que a Irmandade Muçulmana assuma o poder no país.
Para o ex-embaixador de Israel no Egito Eli Shaked, a paz com o Egito “está em risco”.
“Se as eleições no Egito forem realizadas de acordo com o que os Estados Unidos pedem, o mais provavel é que a Irmandade Muçulmana ganhe a maioria”, opinou Shaked. “Portanto é só uma questão de tempo – pouco tempo – até que nossa paz com o Egito pague o preço.”
Existe um quase consenso entre politicos e analistas locais sobre um suposto aumento da ameaça à segurança de Israel caso haja uma mudança de regime no Egito e sobre a necessidade de fortalecer o Exército para que este possa lidar com o novo cenário.
‘Não atemorizem’
Já o especialista em estratégia militar da Universidade de Tel Aviv Reuven Pedhatzur apresenta uma avaliação totalmente diferente.
Em artigo publicado no Haaretz, sob o titulo “Não atemorizem e não tenham medo”, afirma que “a ameaça por parte do Egito não vai aumentar, mesmo se o regime de Hosni Mubarak cair”.
“E, se a Irmandade Muçulmana tomar o poder no Egito, a ameaça vai diminuir de maneira significativa”, afirmou.
Para Pedhatzur, caso a Irmandade chegue ao poder, os Estados Unidos vão suspender imediatamente o fornecimento de armas ao Egito, enfraquecendo o Exército do país, que ficará sem peças de reposição para seus tanques e aviões.
O analista afirma ainda que o Egito “considera Israel uma ameaça real, pois é um país instável, com tendência de utilizar força para resolver problemas políticos”.
“O Egito acredita que em Israel existem forças radicais, que poderão conduzir atos de hostilidade contra o país, como Avigdor Lieberman (atual chanceler), que em 2001 advertiu que o Exército israelense é capaz de destruir a barragem de Assuã (no rio Nilo).”