O atual ambiente politico faz 1989 parecer um brinquedo de criança.
Desde os meus 14 anos, até fazer aliá aos 22, fui um ativista e líder no movimento juvenil sionista. ‘Aliá’, como nos ensinamos – e como repassamos a muitos outros que inspiramos a seguir os nossos passos – não era simplesmente uma mudança de endereço. “Subir” para Israel tinha que envolver uma mudança qualitativa da vida, baseada no mais importante dos valores – tikkun olam – consertar o mundo, ou mais especificamente, tornar nosso mundo um lugar melhor. Esses foram os princípios mais fundamentais sobre os quais eu me tornei a pessoa que sou hoje.
Durante meus primeiros 10 anos aqui, devotei-me a buscar melhorar as relações entre cidadãos judeus e árabes. Fui voluntário por dois anos e vivi Kafr Kara, nos quadros dos Interns for Peace. Convenci então o governo de Menachem Begin a me tornar o primeiro servidor público responsável pelo avanço de relações árabe-judaicas.
Trabalhando com Aluf Hareven, do instituto Van Leer, a primeira Comissão Estatal de Educação para a Democracia e Coexistência foi formada no Ministério da Educação. Com a assistência da fundação Hans Seidel e com o apoio de Begin e o Ministro da Educação Zevulun Hammer, criei o ‘Institute for Education for Jewish-Arab Coexistence’, que dirigi por 7 anos.
Nesses 10 anos, pensei que – com um conflito com os palestinos tão amplo e tão longo – havia um limite muito claro à extensão em que poderíamos melhorar as relações entre judeus e árabes. Isto era frustrante (e continua sendo), mas em 1976, estudante em Nova York, procurei lançar o diálogo com palestinos, apenas para descobrir como o embaixador da OLP na ONU me disse, quando apelei a ele para reconhecer Israel e apoiar a solução de dois Estados: “Só por cima do meu cadáver”.
Entendi então que não havia ponto de entrada para um verdadeiro diálogo com palestinos, até que eles expressassem disposição para reconhecer os nossos direitos, como judeus, a viver em nossa terra soberanamente. É por isto que, durante esses anos, decidi trabalhar em questões sobre democracia e coexistência dentro de Israel.
Em novembro de 1987, as coisas começaram a mudar. A primeira intifada irrompeu e manifestações de massa dispararam em Gaza e depois em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Essas demonstrações eram diferentes das vistas até então. Milhares de pessoas, lideradas por mulheres e crianças, enfrentavam soldados em todos os territórios ocupados. Após muitos dias desses distúrbios, o Ministro da Defesa, Yitzhak Rabin, foi questionado por um jornalista se talvez ele não deveria voltar imediatamente de sua visita a Washington para por fim à revolta. Ele respondeu que a situação iria voltar ao normal em poucos dias. Não foi o que aconteceu. Alguns líderes palestinos nos territórios, percebendo o futuro, começar a ligar a revolta em massa a novas posições políticas, claras e coerentes.
O Comando Unido da Intifada começou a emitir declarações políticas nas quais não apenas o tom era novo, mas também a substância. Saíra a idéia de um “Estado democrático secular” em todas as terras palestinas. Entrou a mensagem “fim da ocupação dos territories ocupados em 1967! Dois Estados vivendo lado-a-lado em paz!”
Após vários meses de ler essas declarações novas, decidi ver a nova realidade pessoalmente. Numa manhã, do início de março em 1988, fui ao campo de refugiados Dehaishe, ao sul de Belém. Abordado por alguns jovens, explique que eu era um israelense que queria entender do que se tratava a intifada. Após uns 20 minutos de conversa, fui convidado para a casa de um deles. Umas 25 pessoas vieram juntas. Levei seis horas dialogando sobre paz. Disseram-me que a ocupação de 1967 precisa acabar e que lhes deve ser permitido estabelecer seu próprio Estado independnte. Estavam dispostos a reconhecer Israel e viver em paz. Havia chegado o momento que eu esperava.
Renunciei da diretoria do ‘Institute for Education for Jewish Arab Coexistence’ e comecei a criar o IPCRI – Israel Palestine Center for Research and Information – uma instituição dedicada ao avanço da solução de dois Estados.
Em dezembro de 1988 programei minha primeira rodada de palestras nos EUA, para difundir as idéias IPCRI e levantar fundos. Meu plano era levar comigo minha filha de 2 anos, deixa-la com seus avos e fazer meu trabalho. Para minha surpresa, choque e horror, quando cheguei ao controle de passaportes do aeroporto Ben-Gurion, meu passaporte foi confiscado, junto com o da minha filha. Disseram que eu estava proibido de deixar Israel. Nenhuma explicação. Estava em lágrimas. Senti-me humilhado. Estava confuso, eu não havia feito nada de errado, por que estava sendo tratado assim? A cada 20 minutos perguntava sobre o meu status, e respondiam para eu sentar.
Dez minutos antes da decolagem, fomos levados ao avião. Ninguém nunca explicou porque eu fora detido.
Nos 4 anos seguintes, a cada vez que eu saía do país e quando entrava, era detido. Algumas vezes era questionado sobre onde tinha estado e o que tinha feito, algumas vezes minhas bagagens era checadas. Tirei a roupa e me deixaram nu numa pequena sala. Nunca me disseram a razão de eu estar na “lista de segurança”.
Jamais fui acusado de ter feito algo errado. Nunca fui acusado ou preso por cometer um crime.
Eu era culpado de falar com nossos inimigos e chamar outros israelenses e palestino para se conversar. As pessoas que trouxera incluíam funcionários graduados do governo, oficiais aposentados do exército, do Shin Bet (serviço secreto de Israel), do Mossad, especialistas em água, economistas, empresários e outros. Um crime terrível, admito.
Em 1994, um mês após ser removido da “lista de segurança”, tornei-me assessor da “equipe da paz” de Rabin, no escritório do Primeiro Ministro.
Fui uma vítima do ambiente politico daquele tempo. Mas o ambiente político atual faz 1989 parecer uma brincadeira de crianças. Avigdor Lieberman e seus aliados acadêmicos, como a ONG ‘Monitor’, estão brincando com fogo e nossa democracia está em jogo, junto com muitos cidadãos inocentes, cujo ‘crime’ é trabalhar para que este seja um verdadeiro Estado democrático, vivendo em paz com seus vizinhos.
Gershon Baskin é co-diretor do IPCRI – Israel/Palestine Center for Research and Information (www.ipcri.org) e está fundando o Center for Israeli Progress (http://israeli-progress.org).
[ Publicado no Jerusalem Post em 17|01|2011 e traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]