Quando o Messias chegar, a direita irá crucificálo, o ‘Im Tirtsu’ irá publicar anúncios e outdors exibindo-o com rabo e chifres.
Quando o Messias chegar, estará sem documentos.
Quando o Messias chegar, será levado para uma pequena sala, fria e cinzenta, com uma cadeira cinza de metal em cada lado de uma mesa cinza de metal.
Quando o Messias chegar, será interrogado por um policial iniciante do Shin Bet, e por um oficial do Ministério do Interior, que terá conseguido seu emprego através do sobrinho, que é inspetor de observância do ritual kasher numa padaria e que recebeu seu trabalho através do padrasto da sua irmã, terceiro assistente do vice-chefe do diretório do partido Shas em Ramla.
Quando o Messias chegar, ninguém irá saber.
Sua mula, que é branca e se chama ‘Snowpea’, ficará presa num terreno lamacento da delegacia de polícia clandestina, perto da estação ferroviária de Lod. Não haverá burocracia. Ao anoitecer, ela terá desaparecido, despejada num caminhão fechado pelo guarda do terreno, que após seu turno levará a mula para uma fazenda. O dinheiro mudará de mãos quatro vezes, assim como a mula, até que seja vendida por colonos a palestinos, descendentes de alguém cujas terras hoje ficam dentro da cerca de um assentamento.
Quando o Messias chegar, o primeiro sinal será uma ordem para amordaçá-lo.
Um relatório codificado num site de um jornal conceituado será ‘sumido’; e reaparecerá num blog em Seattle, e então no Guardian. O governo demorará a reagir e, finalmente, emitirá uma declaração atribuída a fontes de Jerusalém, dizendo que “Não temos nenhum conhecimento disto’. O exército, citando um oficial militar graduado não identificado, irá declarar que não existe evidência da chegada de qualquer tipo de Messias. Mais tarde irá suavizar a negativa ríspida, dizendo que está checando o relatório e dirigindo os repórteres ao Ministério da Defesa, que os manda ao gabinete do primeiro-ministro, que não poderá ser encontrado para comentar.
Quando o Messias chegar, rabinos irão tratá-lo como Jesus.
Irão taxá-lo de desleal, insano, reformista.
Quando o Messias chegar, será deportado de Israel
Em cartazes nas ruas, nos sermões de Shabat. decretos rabínicos e petições assinadas, cuidado para não usar seu título, rabinos-chefes de cidades advertirão sobre uma ameaça existencial ao caráter judaico essencial ao Estado. Em nenhuma circunstância judeus poderão vender ou alugar casas ou terrenos a alguém assim. As mulheres dos rabinos irão vilificá-los como ameaça carnal às moças judias.
As declarações dos rabinos dividirão o povo judeu e trarão fúria e desonra sobre Israel. Os rabinos continuarão a sugar grandes salários do serviço social, assim como generosas propinas, em dinheiro, bens e serviços debaixo da mesa e longe dos livros.
Quando o Messias chegar, a direita irá crucificá-lo. O ‘Im Tirzu’ publicará anúncios e outdoors mostrando-o com um rabo enrolado nos chifres.. No Maariv e no Jerusalem Post, sete colunistas estarão com ele no mesmo período de três dias. O monitor das ONGs pedirá que as doações discriminem as fontes financeiras.
Quando o Messias chegar, a ocupação irá acabar. Mas, antes que o faça, uma rede social global, liderada pela Coalizão de Judeus Republicanos, Fox News, a Zionist Organization of America e Daniel Pipes, lançarão uma campanha visando mostrar o Messias como muçulmano.
Quando o Messias for crucificado, o exército irá negar que estivesse mesmo presente no ato.
Quando o Messias chegar, um partido político de Israel, cujos eleitores rotineiramente são denegridos por israelenses nativos como prostitutas e não-judeus proporão leis declarando-o como deslegitimador de Israel e o exército (após a crucificação), como um blasfemador do sionismo (por sugerir que os palestinos não eram o único obstáculo à paz), tornando-o inelegível à cidadania a não ser que assinasse um juramento de lealdade, afirmando que, mesmo caso Israel pratique a crucificação, o faz de maneira democrática e judia.
Assessores de Michael Ben-Ari, deputado do Knesset, junto a fãs do time Beitar de Jerusalém, publicará uma página no Facebook intitulada “Mavet L’ Mashiach” [Morte ao Messias]…..
Quando o Messias chegar, receberá das Nações Unidas o status de refugiado, que busca legitimamente asilo, mas será mantido num campo de detenção na Área 51, próxima ao perímetro do reator nuclear de Dimona, onde um juiz o fará assinar um documento ilegítimo, que forçará a sua deportação para o Chade.
Quando o Messias deixar o Estado judeu, ele estará contente por sair.
[ por Bradley Burston publicado no Haaretz e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]