Os ‘Parâmetros do presidente Bill Clinton’, de dezembro de 2000 conseguiram delinear os detalhes de uma paz possível entre Israel e os palestinos. Nenhum dos lados os endossou da forma como foram apresentados, e a proposta teria supostamente sido retirada da agenda após o final do mandato de Clinton um mês depois. Ainda assim, esta é, ainda hoje, a proposta mais concreta existente. Baseados nela, as duas delegações fizeram negociações oficiais em Taba, há uma década; Baseados nela, chegamos aos entendimentos não-oficiais da Iniciativa de Genebra em 2003. E, nelas baseados, a OLP chefiada Mahmoud Abbas manteve conversações com o governo Olmert em 2008.
Um dos parâmetros importantes da proposta Clinton era de que todos os bairros árabes de Jerusalém Oriental iriam fazer parte da capital Palestina, enquanto os bairros judeus que Israel construiu na parte oriental da cidade desde a Guerra de 1967 seriam anexadas à Jerusalém Oriental. Os palestinos aceitaram este princípio. O fato de que alguém, cuja agenda é prejudicar a liderança pragmática palestina esteja expondo esta aceitação – pública e bem conhecida – não transformam essa aceitação numa conspiração.
Os documentos vazados apresentam a verdade quando às negociações que se realizaram após Oslo e, particularmente, na última década: ambos os lados chegaram muito perto, mas não o bastante.
Israel aceitou a solução de dois Estados, a divisão de Jerusalém Oriental e o retorno às fronteiras de 1967 com trocas mútuas de terras no montante de 3 a 6%. Israel não reconheceria o direito de retorno de refugiados palestinos e não estaria disposto a implementá-lo, mas estaria disposto a oferecer compensações financeiras e proporcionar o retorno simbólico de um número limitado de refugiados, sob a decisão soberana do país.
Os palestinos insistem um uma anexação limitada israelense de terras que não superem 2 a 4%, e querem que um número maior de refugiados sejam absorvidos em Israel (a discussão entre Olmert e Abbas situou-se entre 25.000 a 100,000 ao longo de dez anos). Não houve entendimento quanto à Bacia Sagrada de Jerusalém (que foi alcançado na Iniciativa de Genebra), mas quanto a arranjos de segurança, incluindo espaço aéreo, chegou-se a soluções satisfatórias.
Esta é a verdadeira história. A revelação dos documentos a confirmou. Os palestinos não precisam se envergonhar por terem feito um progresso significativo rumo a um compromisso. Israel também nada para ficar embaraçado. Os dois lados superaram seus slogans dos anos ’60, ’70 e ’80. Não chegaram a um acordo, porque nenhum governo israelense se dispôs a pagar o preço sugerido na Iniciativa de Genebra – com que o lado palestino em nenhum momento comprometeu-se oficialmente, mas que sugeriu informalmente estar disposto a endossar.
É possível que o momentum criado possa ser utilizado para aproximar os lados e lhes perguntar se, como resultado da insistência de Israel em incluir assentamentos distantes, no coração da Cisjordânia – Ariel, por exemplo – os pequenos gaps restantes não se teriam tornado intransponíveis.
Talvez, este seja o momento de os americanos perguntarem às partes se elas reconhecem os documentos publicados e se estão prontos para negociações intensivas por um acordo baseado nos Parâmetros Clinton, nas conversações de Taba, na Iniciativa Ayalon-Nusseibeh, na Iniciativa de Genebra, nas conversações Olmert-Abbas e Netanyahu-Abbas.
Será que eles não estariam dispostos e desejosos de por um fim a este conflito – que persiste desde a 2ª Guerra Mundial – antes que os fundamentalistas da região celebrem, como resultado da fraqueza de compromissos e da ausência de forças nacionais israelenses e palestinas?
[ por Yossi Beilin – publicado no Israel Haiom de 26/01/2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]