Ativistas pressionam autor inglês a recusar prêmio literário de Jerusalém em solidariedade à causa palestina.
Escritor afirmou que pretende receber o título e que não apoia assentamentos, “nem tampouco o Hamas”.
Em sua carreira literária, Ian McEwan já recebeu prêmios de muitos lugares no mundo ocidental, mas nenhum talvez seja tão potencialmente polêmico como o de Jerusalém, que lhe será entregue em uma feira de livros em Israel em fevereiro.
Na noite da última quarta, McEwan, autor de “O Inocente” e “Reparação”, assinalou que vai receber o prêmio em Jerusalém.
Ganhadores anteriores foram pressionados por defensores da causa palestina a recusá-lo como gesto de solidariedade. “Vou aceitá-lo, sem dúvida. É um prêmio de grande prestígio, e sinto-me honrado por integrar a lista de escritores agraciados no passado”, disse McEwan.
O prêmio de Jerusalém, que inclui o valor “simbólico” de US$ 10 mil (R$ 16,7 mil), é concedido a cada dois anos a escritores cujo trabalho trate da liberdade individual na sociedade.
O primeiro ganhador, em 1963, foi o filósofo Bertrand Russell (1872-1970). Entre os outros agraciados estão Simone de Beauvoir (1908-1986), J.M. Coetzee e Mario Vargas Llosa.
O último vencedor, o japonês Haruki Murakami, foi pressionado a recusar o título, mas o aceitou, dizendo: “Gosto de fazer o oposto do que me mandam. Acho que é parte de minha natureza de romancista”.
Ao “Guardian”, McEwan afirmou: “Acho que devemos sempre traçar uma distinção entre uma sociedade civil e seu governo. É a feira de livros de Jerusalém e não o Ministério do Exterior israelense que está me dando o prêmio. Eu exortaria as pessoas a fazer essa distinção. O prêmio é literário”.
“Não sou defensor do movimento israelense de construção de assentamentos, nem tampouco do Hamas. Eu me alinharia a muitos de meus amigos israelenses que receiam que nunca haja paz enquanto os assentamentos continuarem”, disse.
“Apoio o chamado do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por um congelamento dos assentamentos. Mas também não acho tolerável o Hamas lançar mísseis contra Israel.”
AMBIENTE TURBULENTO
Na escolha do premiado, o júri da feira de livros afirmou ter ficado impressionado com os personagens de McEwan e com o esforço que fazem para expressar suas ideias em um ambiente de turbulência política e social. “O afeto que ele evidentemente nutre pelos personagens e a maneira convincente em que descreve a luta deles fazem de McEwan um dos escritores mais importantes de nossa época.”
O prêmio vai se somar à grande coleção de outros troféus de McEwan, entre os quais o Booker, o Whitbread, o Somerset Maugham, o WH Smith, o Prix Femina Étranger e o Shakespeare.
[ publicadon pelo “Guardian” em Londres e traduzido por Clara Allain para a Folha de São Paulo ]