Palestinos irão aceitar que os judeus vivam no ‘seu’ país
O fato de que nem tenhamos de perguntar se “judeus poderiam viver num Estado Palestino” mostra o quão ruins as relações entre israelenses e palestinos se tornaram. Explica qual é o real problema – má atitude e medo exagerado
É claro que judeus podem viver num Estado Palestino. Eu perguntaria se eles seriam tratados melhor do que os cidadãos árabes de Israel que não fugiram ou não foram expulsos pelo Haganá e o Irgun em 1948.
Mas aflora agora no contexto de um possível – embora relutante – esforço para chegar a um acordo de paz.
Por que não permitir que alguns dos assentamentos judeus na Cisjordânia permaneçam, mas como parte de um Estado Palestino, com os colonos vivendo sob governo palestino? Poderia se pior do que os palestinos vivem sob a lei israelense?
A única questão é sobre terra, claro. Os israelenses que se opõem a compromissos – e portanto rejeitam a paz – argumentam que o conflito não é sobre terras mas sobre a recusa de palestinos e árabes a reconhecer Israel. Os palestinos e os árabes já reconheceram Israel. A questão real é: os israelenses reconheceram a Palestina?
Têm os palestinos o direito de se autogovernarem na Palestina histórica? Por favor, não jogue aquele argumento racista (sim, é racista!) de que a Jordânia é palestina. Ninguém nunca chamou a Jordânia de Palestina, exceto judeus europeus. E será que os judeus reconheceram tanto a Palestina que alguns poderiam viver lá como “cidadãos judeus da Palestina”? Alguns assentamentos judeus podem ser anexados a Israel no contexto de uma paz definitiva, mediante uma troca de terras: Israel daria um dunam de terra israelense por cada dunam de assentamentos retidos na Cisjordânia, incluindo aqueles em torno de Jerusalém, como Guiló.
Os assentamentos judeus que restassem fora do território atribuído a Israel, poderiam e deveriam permanecer no Estado Palestino. E mereceriam a proteção e igualdade que qualquer um deve receber, não só na Palestina mas também em Israel.
Um Israel pós-conflito, acabará mudando. Não será governado por extremistas manipulando o medo para inflar a luta. Palestinos unir-se-ão a israelenses para impor a justiça e o domínio da lei. E trabalharão juntos para combater o crime e o terrorismo. E o terrorismo não virá só do pequeno punhado de extremistas palestinos restantes. Espero e acredito que um Estado Palestino também supere os mesmos obstáculos que serão enfrentados por uma paz definitiva.
A questão da propriedade da terra também será discutida. Assentamentos construídos em terras expropriadas de palestinos terão que ser resolvidos na forma de compensações e outras negociações.
Conheço muitos palestinos que se oporão a tudo isto. Claro que o farão. São como os israelenses, cegados por líderes políticos, que também os manipulam pelo medo. Mas a paz será como um analgésico na ferida. À medida que a dor for embora, quase toda a raiva e ódio irão com ela.
Israelenses irão aceitar os não-judeus, os árabes palestinos que vivem hoje no país deles. E, ao final, os palestinos irão aceitar que os judeus vivam no país deles, também,
Direito de retorno
E, sobre a questão da imigração de judeus para a Palestina? Presumivelmente, a Palestina será aberta a imigração de qualquer um, inclusive judeus, na medida que vivam sob as leis palestinas. Serão eles tratados da mesma forma como Israel trata os cidadãos árabes…? Talvez esta seja a razão para alguns israelenses temerem viver na Palestina.
A Palestina, porém, não se tornará um Israel. Não deverá se tornar um Estado baseado numa religião. Os palestinos repetiriam a lei declarando o Islã como sua religião oficial? Tal lei isolaria não-muçulmanos e insultaria os palestinos cristãos e os cristãos de todo o mundo árabe. Como poderiam os palestinos reclamar que Israel seja um Estado judeu, enquanto se tornasse um Estado muçulmano? A Palestina pode oferecer o direito de retorno a cada palestino da Diáspora, especialmente àqueles refugiados que vivem em campos.
Todo palestino que não viva na Palestina ou em Israel é, no meu ver, essencialmente um refugiado. O sucesso da assimilação não elimina o status de refugiado.
Não seria diferente do que Israel faz – permitir a qualquer judeus vir ao Estado de Israel, enquanto requer de não-judeus que se candidate à imigração. A Palestina poderia fazer o mesmo.
Um dia, teremos paz. Só me pergunto como palestinos e israelenses passarão o tempo quando não tiverem que acordar de manhã e lidar com todos estes conflitos, medos, debates e raiva?
Ray Hanania é um premiado comediante e colunista de origem palestina. Vive em Chicago, onde faz um talk show no radio. Tem estreito contato com grupos pacifistas israelenses e palestinos. Conheça seu site www.YallaPeace.com.
[ publicado no Jerusalem Post em 09|11|2010 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]