Prezado Sr. Netanyahu,
No seu discurso rememorando o assassinato de Yitzhak Rabin, você disse que é parceiro de Rabin em sua visão de paz. Com todo o respeito, Sr. primeiro-ministro, isto é falso.
Rabin assumiu riscos pela paz. Ele sabia que iria fazer muitos inimigos ao assinar um aordo com os palestinos renunciando à Grande Terra de Israel. Ele não brincou; disse o que queria fazer e o fez. Assumiu tantos riscos, que pagou com a própria vida.
Você, Sr. Netanyahu, diz uma coisa e faz outra. Ninguém sabe realmente o que você quer, e há muitos comentaristas que acham que nem você sabe. Claro que todos conhecemos a sua desculpa: mesmo que Israel tenha a melhor oportunidade jamais chegada para um acordo final com os palestinos, você diz que não pode seguir adiante, porque a sua coalizão de governo iria se desmanchar. Assim fazendo, você dá a entender que esta coalizão é um fato imutável. Convenientemente esquece que você mesmo escolheu criar esta coalizão.
Rabin assumiu riscos. Você nem corre o risco de uma coalizão com Tzipi Livni e o [partido] Kadima, porque tem medo que ela não o vá apoiar caso você não leve a sério o processo de paz. Isto não é ser parceiro de Rabin na visão de paz.
Seu discurso foi temperado por mais falsidades.
Você diz que Israel está em sua melhor forma: “Agora estamos menos divididos entre nós… Ouvimos menos gritos, as pessoas se ouvem mais, e as diferenças sociais estão diminuindo”.
Não sei se você acredita seriamente no que disse. Israel jamais esteve tão dividido pelo ódio entre religiosos e seculares, entre esquerda e direita, entre judeus e árabes, como agora. Existem, sim, menos gritos. O campo da paz tende a não gritar. Tampouco chama pela violência. Mas não se engane pela ausência de manifestações violentas e cheias de ódio, do tipo das que você participou contra Rabin, como se houvesse harmonia política e união.
Rabin também fez muito para estreitar as distâncias sociais. Mas, o que você quer dizer quando fala que “as diferenças sociais estão diminuindo?” Significa que Israel alcançou um grau de concentração de poder econômico sem comparação no mundo livre? Ou quer dizer que as diferenças de renda entre ricos e pobres atingiram níveis sem precedentes?
Você também declarou que “nos quinze anos que passaram, o fundamentalismo islâmico foi fortalecido. Ele venceu as eleições em Gaza, tomou o controle do sul do Líbano, e ameaçou os Estados Unidos”. Não há dúvida de que o radicalismo islâmico é um fator importante, não só no Oriente Médio mas na política global. Mas você poderia explicar como isto está conectado com a sua insistência em retomar a construção nos assentamentos? Pode dizer como exatamente os assentamentos nos protegem dos foguetes do Hizbolá?
Em sua ênfase no medo, você convenientemente ignora todos os fatos que poderiam dar razão para otimismo. Por que você não mencionou que [o primeiro-ministro palestino] Salaam Fayyad criou uma força de segurança na Cisjordânia que é respeitada tanto pelo nosso exército quanto pela população palestina?
Existe, claro, uma explicação: Sr. Netanyahu, você construiu uma careira capitalizando o medo e o ódio. No seu primeiro mandato como primeiro-ministro, ficou fomentando o ódio pelos que chamava de “as elites”, e que incluíam todos que não concordavam consigo. No atual governo, você não mais gera ódio contra as elites: você só permite que seus aliados na coalizão desclassifiquem qualquer um que não esteja alinhado com a direita como sendo desleal ao Estado de Israel.
E, mais do que tudo você agora está fazendo uma carreira construída sobre um ódio cego contra os cidadãos árabes de Israel. Claro que nunca promoveu legislações anti-árabes. Apenas acompanhou Avigdor Lieberman e Eli Yishai em tudo que propuseram, incluindo a idéia fenomenalmente destrutiva do ‘juramento de lealdade’. Desde que você chegou ao poder, a quase toda semana foi proposta uma lei anti-liberal, e não consigo lembrar de você se ter oposto a qualquer uma delas. Você tem a responsabilidade pelo prejuízo feito à democracia de Israel.
Sr. Netanyahu, penso que você realmente acredita na democracia liberal. Mas por você ser incapaz de assumir riscos, prende-se aos seus “parceiros naturais” e comanda uma coalizão que empurra Israel para uma etnocracia anti-liberal.
Então, por favor, não se intitule como parceiro de Rabin, até que esteja disposto a assuamis o mínimo risco político pela paz e pela verdadeira democracia.
[ publicado no Haaretz – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]