Quase toda manhã, Dalia Rabin passa pelo Rabin Center, museu inaugurado recentemente em Tel Aviv para homenagear a vida do seu pai. Às vezes, acompanha visitantes. Às vezes passeia sozinha. A cada vez, o ultimo cômodo faz com que ela pause. É a sala que documenta a última jornada de Yitzhak Rabin: o seu funeral.
Dalia Rabin deposita flores no túmulo do pai
“Toda a jornada está apresentada nas paredes”, disse a filha do primeiro ministro assassinado. “Papai está viajando no jeep com seis oficiais, e toda a nação está perfilada ao longo da estrada”.
“Depois vem o próprio funeral, e o discurso de Noa (neta de Rabin), e eu chorando. É um discurso comovente de uma menina sobre seu avô assassinado. Houve a perda para a nação e o trauma para a democracia israelense. Mas pra nós é o nosso pai e o nosso avô, que amávamos”.
Quinze anos depois, Dalia Rabin diz ter certeza de que, caso seu pais não tivesse sido assassinado, o país “estaria completamente diferente”.
“Ouvi de muitas pessoas próximas ao meu pai que, pouco antes da sua morte, ele considerou interromper os Acordos de Oslo, porque o terrorismo estava desenfreado, e ele sentia que Yasser Arafat não estava cumprindo suas promessas”, diz ela. “Papai não era um homem cego correndo em frente sem pensar. Não descarto a possibilidade de que ela tenha considerado uma virada para trás… afinal era um homem que valorizava, acima de tudo, a segurança nacional”.
Quanto aos os Acordos de Oslo, ela está convencida de que Rabin lançou a base para negociações – mesmo que não haja mais ninguém para defendê-las.
“Então dizem que em Oslo eles trouxeram Arafat, deram-lhe armas e causaram a Intifada. Mas os processos históricos se desenvolvem, mudam e fluem…Não se pode pegar uma pessoa que foi assassinada em 1995 e julga-la por algo que aconteceu em 2000.” Após o assassinato e quando eles disseram que Oslo estava morto, muitos canais que foram abertos ali continuaram a existir”, adicionou.
Rabin assina a paz com o rei Hussein da Jordânia
‘Não é a paz da qual falamos’
Voltando a atenção para o parceiro de Rabin na estrada de Oslo, Shimon Peres, a filha do falecido primeiro-ministro disse que esperou que ele falasse mais incisivamente em favor do processo de Oslo. “Devo dizer que continuo surpresa até hoje pela atitude de Shimon Peres, de não mais defender Oslo. Aqui e acolá escuto alguma fraca observação que ele faz, mas não defende verdadeiramente Oslo”.
Entretanto, Dalia Rabin guarda sentimentos positivos pelo presidente. “Aprecio muito os seus feitos e a sua força, que são incríveis. Assim como o fato de ele estar sempre disposto a ir para qualquer lugar, e é sempre bem recebido… Acho que é a pessoa certa no lugar certo como presidente. Sempre me recebe bem e atende a qualquer pedido nosso. Na época do aniversário do assassinato, sempre o visitamos na residência presidencial.
A principal preocupação de Dalia Rabin é a mesma que ela acha que motivava o seu pai. Que Israel se torne um Estado binacional. Ela acredita que as negociações estão focadas em divisão de terras, no lugar de buscar a paz. E que o mapa final acabará novamente refletindo as fronteiras de ’67.
“O que eles chamam de processo de paz, não é a paz da qual se falava nos anos ’90. É separação, com um acordo ou outro… Não falam mais de dois povos que querem cooperar e produzir um sistema para viver em comum. Estas conversas estão vindo de um lugar diferente – o que, na minha opinião, é a diferença. É aqui que as coisas mudaram”.
Dalia Rabin, ainda filiada ao Partido Trabalhista – Avodá, concorda com o desejo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de ter o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, como seu parceiro nas negociações.
“Parece-me mais fácil aceitar Abbas do que Arafat”, diz.
Antecipando-se ao 15º aniversário da morte de Yitzhak Rabin, está sendo planejada uma manifestação para 30|10, mas circulam rumores na mídia de que este evento anual possa ser o último. Mas conforme Dalia Rabin, nenhuma decisão foi feita neste sentido.
É verdade que quase todo ano, desde o 5º, temos tido dúvidas sobre organizar outra manifestação, mas o público confirma que nossa decisão continua correta”, diz ela “Ainda acho que a manifestação é importante”.
[ publicado pelo Ynet e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]