Hora de acabar com o silêncio

Os israelenses não podem continuar ignorando os crimes cometidos contra civis palestinos

As conversas na mídia são sobre o congelamento que já não há e aquele que está por vir, se a decisão de Abbas será acabar ou não as conversações, a janela de oportunidade que pode desaparecer a qualquer momento, interesses israelenses complexos, interesses americanos urgentes, um presidente americano que pressiona e um mundo que segura a respiração. Tudo isto é apenas ruído de fundo.

Os ouvidos estão selados, Os corações endureceram. Não precisam de palavras. Eles continuam silenciosos e agem, derrubando oliveiras florescentes à vista de todos. Os tocos de árvores arrancadas espalhados por muitos quilômetros, campos incendiados, agricultores violentamente removidos dos campos – que trabalharam por décadas e são a principal fonte de sustento das famílisa.

As mãos que arrancam essas árvores correm para instalar novos sistemas de irrigação para vinhedos plantados em terras roubadas, enquanto turistas descuidados são convidados para degustações em uma vinha-boutique.

Kfar Kadum: confronto entre colonos e palestinos

Kfar Kadum: confronto entre colonos e palestinos

E os responsáveis pelo que é conhecido como “manutenção da lei nos territórios” – a polícia de Israel e soldados do EDI – na maioria das vezes limitam-se a observar os eventos à distância, sofrendo de miopia aguda. Suas capacidades auditivas tampouco são notáveis.

Então, enquanto o governo fala de paz  – ninguém sabe o quão sériamente – alguns dos colonos usam a linguagem que conhecem há 43 anos: a tomada violenta de terras. Agora é lei na Cisjordânia. O que temos são os fortes e os fracos, e gente que define fatos consumados por conta de um país inteiro que prefere fechar seus olhos. Quando acordar, talvez toda esperança esteja perdida.

Senso de justiça, simples e natural

 Talvez ninguém queira nos ajudar nesse ponto – um país que não olha e não quer ver o que está acontecendo com seus vizinhos, como resultado das ações de cidadãos que agem em nosso nome e em nome do sionismo, cujo nome eles aviltaram. Porque nesses dias, enquanto falamos de paz (principalmente no rádio), na Cisjordânia estão falando de guerra contra civis, e um punhado de colonos bate a porta na cara de um Estado democrático, enquanto determina seu futuro e o futuro dos nossos filhos.

Um primeiro-ministro responsável e um ministro da defesa,  que cumpram elementrarmente seus deveres, devem combater isto. Precisam pôr fim ao negligente abandono que temos visto recentemente em todo lugar e impedir atos que para sempre irão manchar a sociedade de Israel e a sua própria reputação. Se não hoje, amanhã. Alguém lembrará disto em gerações futuras.

Colocar um ponto final nesses atos de abominação é primordialmente a tarefa das pessoas nomeadas para evitá-los.

Mas qual é o nosso papel, da população que escuta tudo isto, mas continua silenciosa?

Será esta uma questão de idéias políticas, ou de desafios ao mais simples e natural senso de justiça de cada pessoa?

Como pode um povo que sofreu o racismo mais do que qualquer outra nação da Terra, e que foi capaz de construir um memorial para todo gentio justo que salvou uma vida do horror terrível, fechar seus olhos e recusar ouvir os gritos civis dos seus vizinhos, reagindo ao roubo de terras e plantações, humilhações, repressão e ao atropelamento de direitos humanos, por concidadãos nossos em nome dos amor à terra? 

Nós, que aqui estamos em segurança, não podemos coninuar em silêncio. Chegou o tempo de gritar.

 

Talia Sasson, ex-procuradora do Estado de Israel, é membro do comitê público da ONG ‘Yesh Din’ [‘Há Justiça’] e redigiu em 2005 relatório governamental histórico sobre os postos avançados de assentamento na Cisjordânia (‘Relatório Sasson’), por solicitação de Ariel Sharon.

[ publicado no Ynet e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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