Peres sobre Rabin: a nação perdeu seu pai

 Israel marca, no calendário hebraico, 15 anos desde o assassinato do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Numa cerimônia em sua residência oficial, o presidente Shimon Peres recorda a noite de 04|11|1995: ‘O assassinato não pode ser perdoado nem esquecido’.

Peres na ceremônia

“Yitzhak não tinha medo do futuro. Sabia que não havia escapatória, que o futuro deveria ser encarado de frente… estava determinado a avançar para a paz, mesmo sabendo das dificuldades externas e internas”.

Peres: 15 anos sem Rabin

Peres: 15 anos sem Rabin

Sobre a atmosfera na manifestação de paz que terminou com o assassinato de Rabin: “A demonstração tinha o objetivo de avaliar o apoio do campo da paz. Havia hesitações, o próprio Yitzhak sentia as ondas crescentes de ódio contra ele. Seus cartazes usando kaffiyah (tradicional turbante árabe) eram vistos em muitas esquinas em todo o país.

“Mesmo durante uma visita inocente ao Instituto Wingate, foi vaiado e quase atacado fisicamente. Um homem que era um patriota completo, que representava segurança, que representava paz, que sempre se dedicara ao povo, um líder corajoso que tomava decisões penosas e difíceis, sabendo que mesmo uma paz incompleta era melhor do que nenhuma paz.

“Na véspera da manifestação, concordamos em subir e descer juntos do palanque. Foi uma verdadeira declaração de unidade frente à violência que se avolumava”.

‘Não acreditamos nos nossos olhos’ 

Quanto à demonstração, Peres disse: “Quando subimos ao balcão da Prefeitura, não pudemos acreditar nos nossos olhos. Jovens cantavam ‘Rabin, Rabin. paz, paz’.  Abaixo do palanque, jovens pulavam no espelho d’água cantando ‘Rabin, Rabin.’

 “Yitzhak ficou surpreso pelo nível de entusiasmo, a magnífica espontaneidade que ninguém poderia ter organizado previamente. Foi uma corrente de amor da população. Todos fomos contagiados pelo clima positivo. Eu o ouvi cantar pela primeira vez. Senti um forte abraço amigo e emocionado como nunca antes. Era como se a paz estivesse novamente de pé e orgulhosa. Antes do fim da manifestação, os guardas de segurança nos pediram para sair do palanque separadamente”.  

Shimon Peres e os filhos de Rabin: Dalia e Yuval

Shimon Peres e os filhos de Rabin: Dalia e Yuval

Segundo Peres, a razão do pedido foi um alerta de que eles podiam ser alvejados por gente do Jihad. “Então, desci sozinho. O carro de Yitzhak estava estacionado na frente do meu. O motorista Damti estava de pé à porta. Olhei para trás e vi Yitzhak descendo os degraus.

“Quando entrei no carro, ouvi sons de desespero. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, os seguranças me empurraram para dentro do carro e dispararam para algum lugar seguro. Eu lhes perguntava “O que aconteceu? Onde está Yitzhak?’  Ficaram em silêncio. Só vários minutos depois me informaram que ele estava indo para o hospital.”

‘A nação perdeu o pai’ 

Peres falou que pediu aos seus seguranças para levá-lo imediatamente ao hospital, mas eles recusaram. “Disse a eles que eu sairia do carro e iria andando, e aí concordaram em me levar ao hospital. O hospital estava tomado por silêncio e ansiedade, e uma enorme tensão. Os olhos cheios de lágrimas, os lábios orando. O diretor do hospital se aproximou e murmurou no meu ouvido – ‘Lamentavelmente, Yitzhak se foi’. Fui até Léa (esposa de Rabin) e lhe dei a terrível notícia”.

Túmulo de Yitzhak Rabin - Jerusalém

Túmulo de Yitzhak Rabin - Jerusalém

 O atual presidente falou sobre ver o corpo de Rabin. “Léa e eu entramos no quarto onde Yitzhak estava deitado. No seu rosto vi uma calma que nunca antes tinha visto. Dei-lhe um beijo de despedida. Léa ficou com ele. Eu estava chocado, acabado. O rosto de todos estava sombrio. Lágrimas rolavam em nossos rostos.

“O povo começou a se juntar em massa em torno do hospital. Sentiam-se órfãos. Milhares de velas foram acesas, suas chamas brilhando nas lágrimas. Nesses momentos, a nação parecia ter perdido seu pai. As lágrimas não secavam…”

“Não esqueceremos esta imagem, não nos afastaremos do seu caminho. A paz é o seu testamento”.

 

[ Publicado no Ynet  em (19|10|2010 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR. ]

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