Líderes de Israel frequentemente levam visitantes a colônias judias que ocupam as terras altas ao norte da Cisjordânia em pontos de onde, num dia claro, podem ver as torres de vidro de Tel Aviv, as águas cintilantes do Mediterrâneo e os contornos da populosa planície costeira de Israel.
O foco é enfatizar os perigos estratégicos que, segundo os líderes, seriam inerentes a qualquer recuo israelense para dar espaço a um Estado palestino.
Num esforço para ilustrar o outro lado do problema, o PAZ AGORA, grupo esquerdista israelense que defende a solução dos dois Estados e monitora atividades nas colônias, levou recentemente um enorme grupo de israelenses – membros do parlamento, repórteres e fotógrafos – para um passeio aéreo sobre o norte da Cisjordânia.
O objetivo do grupo era dar uma visão geral do crescimento das colônias e postos de guarda ao longo das colinas, e argumentar que se as colônias não pararem de se expandir, as terras entre o rio Jordão e o mar logo se tornarão indivisíveis para qualquer finalidade prática – e a opção dos dois Estados deixará de existir.
“A ideia”, disse Yariv Oppenheimer, secretário-geral do PAZ AGORA, sobre o sistema de abordagem pública do avião, “é enxergar como a realidade mudou e como o Estado binacional está se aproximando”.
Os israelenses seguem profundamente divididos na questão das colônias. Embora a maior parte das pesquisas indique que a maioria acredita numa solução de Dois Estados como a única forma de garantir a continuidade de Israel como um estado forte e majoritariamente judeu, muitos também sentem uma ligação religiosa ou emocional à Cisjordânia como o coração bíblico do país.
A moratória parcial de Israel sobre a construção de novas casas para colonos terminou recentemente, representando uma séria ameaça às incipientes conversas de paz entre israelenses e palestinos. Com os palestinos prevenindo que um reinício das construções marcaria o fim das negociações, a aproximação do prazo final parecia ter concentrado as mentes de todos os lados.
O PAZ AGORA costumava usar pequenos aviões que voavam baixo sobre a Cisjordânia por motivos de pesquisa, mas citando motivos de segurança, as autoridades israelenses não mais permitem que aviões ou helicópteros civis sobrevoem a região a baixas altitudes. Assim, o jato de passageiros usado pelo grupo levantou voo ao meio-dia de Sde Dov, um pequeno aeroporto na orla de Tel Aviv.
Em alguns minutos, ele havia cruzado a faixa estreita de Israel e já voava sobre o território da Cisjordânia que Israel capturou da Jordânia na guerra de 1967. O cenário era arrebatador mesmo a 2.438 metros de altitude, com colinas avarandadas de um lado e a paisagem bege do Vale do Jordão do outro.
Entre as esparramadas cidades e vilas palestinas, as colônias, consideradas por grande parte do mundo como uma violação da lei internacional, se destacavam distintamente – fileiras organizadas de casas com telhados vermelhos, muitas vezes construídas em círculos concêntricos abraçando os topos das colinas.
300 mil israelenses
Diversas colônias, como Shiloh e Beit El, tiveram seus nomes retirados de marcos bíblicos. Muitas se expandiram em direção a colinas próximas, com fileiras ou pequenos nós de casas móveis formando novos postos de guarda que são ilegais pelos padrões israelenses. Algo em torno de 300 mil israelenses vivem hoje na Cisjordânia, cerca de 10% da população local, segundo o PAZ AGORA.
Num esforço para apresentar uma alternativa à solução de dois estados, algumas autoridades israelenses de direita e comentaristas ofereceram noções vagas de uma paz baseada na coexistência entre Israel e Palestina em algum tipo de acordo de estado único, confiando em descobertas de um pesquisador israelense que afirma haver menos palestinos na Cisjordânia do que se imagina atualmente. Outros na direita insistem que o estado palestino deveria ser estabelecido na Jordânia. Nenhuma dessas ideias tem apoio significativo em Israel.
Vendo do ar, fica claro que a Cisjordânia continua com trechos de terra vazios, oferecendo potencial para um número muito maior de construções. A questão é para quem.
Enormes pedaços de terra estão sendo movidos em um topo de colina ao norte da cidade palestina de Ramallah, onde os palestinos estão construindo sua primeira cidade planejada, Rawabi. Porém, Israel ainda não aprovou uma estrada de acesso direto.
Um dos membros do parlamento menos previsíveis no voo da Peace Now era Arieh Eldad, da União Nacional, um partido de oposição da extrema direita. “É sempre bom e aquece meu coração ver, de todos os ângulos, judeus vivendo em cada esquina da terra de Israel”, disse ele.
Joshua Sobol, aclamado diretor e roteirista de teatro israelense, também participou do voo, semanas após assinar uma carta de artistas do teatro com a promessa de não se apresentar num novo teatro na colônia de Ariel. Ele afirmou que o voo era como um exame de ressonância magnética, e os resultados vistos da janela eram “assustadores”.
“A doença”, disse Sobol, referindo-se às colônias, “está se espalhando e fazendo a metástase”.
Após ziguezaguear para cima e para baixo da Cisjordânia, o avião pousou de volta a Sde Dov em menos de uma hora, as curtas distâncias confirmando os aparentes perigos das duas soluções – dividir ou não dividir a terra.
[ Isabel Kershner do New York Times, traduzido por: Gabriela D’ávila para o Portal G1 ]