O sionismo não nasceu como ideologia unitária. Havia o sionismo liberal de Theodor Herzl; o sionismo cultural de Ahad Ha’am’s e Judah Magnes’. O sionismo socialista inicialmente era o mais forte e dominou a política israelense pelas primeiras três décadas do país. Nas décadas seguintes, o sionismo revisionista assumiu o poder, fundido com o sionismo messiânico que deu significado religioso à terra e nenhum para os direitos humanos.
Até há poucas décadas, a discussão entre correntes diversas do sionismo ainda era possível. Agora, porém, os auto-nomeados representantes da causa sionista – basicamente da direita – fazem parecer que o sionismo requer uma obediência cega aos governos israelenses; que um sionista é alguém que admira a força dos judeus, de qualquer forma que tenha; e que o sionismo requer que as críticas se calem. Eles tornaram como hábito chamar de ‘pós-sionistas’ aqueles que deles discordam e os acusam de deslealdade.
Bem, isto faz de Herzl e Ahad Ha’am pós-sionistas ao pé da letra. Herzl acreditava que enquanto o Estado judeu deveria proporcionar espaço para a religião judaica e e seus religiosos, suas institições deveriam ser completamente isoladas das do Estado e da política. Ele também não via espaço para noções teológicas de que os judeus teriam algum direitodivino sobre a Terra de Israel. Ele simplesmente acreditava que os judeus precisavam de seu próprio Estado.
Ahad Ha’am seria, hoje, acusado de ser um pós-sionista que odeia judeus: Ele se afastou de algumas manifestações de força dos judeus do Ishuv, e enfatizava um renascimento cultural, em vez de militarismo.
David Ben-Gurion manteve um diálogo intensivo de décadas com um dos seus mais acirrados opositores ideológicos, Shmuel Hugo Bergman, ex-reitor da Universidade Hebraica de Jerusalém e membro da Brit Shalom, organização que apoiava a cooperação pacíica com árabes. Ben-Gurion acreditava em dialogar com os que tinham posições ideológicas distintas, não em calá-las.
O excelente artigo de Peter Beinart no The New York Review of Books mostra como a linha política do partido do tradicional establishment judaico afastou a nova geração: Ela não acredita na política de poder ilimitado, estão dispostos a aderir às linhas do partido e estão profundamente descontentes com a ladainha interminável da vitimização judeica. Muito deles sentem que se o sionismo significa seguir os preceitos do governo israelense – como suas iniciativas equivocadas de Hasbará, seu apoio aos assentamentos na Cisjordânia e a despossessão de propriedades palestinas em Jerusalém – eles não são sionistas. O mesmo é verdade para muitos jovens em Israel, que repudiam o triste espetáculo da política israelense. Muitos quase não ligam mais. E caso o façam, estão desanimados, como se não fizessem nenhuma diferença.
Beinart insta por um “sionismo desconfortável… com raiva do que Israel arrisca se tornar, e apaixonado pelo que ainda poderia ser”. Esta é uma excelente definição do que é necessário hoje. Isto nem precisaria ser inventado – só temos que nos reconectar com o sionismo progressista de Herzl e Ahad Ha’am, como mostrei numa detalhada proposta para uma nova visão sionista, “Knowledge-Nation Israel“.
O sionismo progressista rejeita o pânico do chamado por uma voz unificada para todos os judeus e os gritos alarmados para não se lavar a roupa suja de Israel em frente a não-judeus. Ele recusa ser ensinado sobre o significado de ser um bom judeu ou de ser leal a Israel. E categoricamente rejeita a demanda de que a política dos governos israelenses e suas ações devam ser apoiados, mesmo quando sejam destrutivas, desumanas ou míopes.
O sionismo progressista está realmente irritado com o que Israel se tornou: ele aponta como os sistemas educacionais de Israel, primário e secundário, nas mãos de ideologias partidárias, vêm deteriorando em qualidade e doutrinando as crianças em vez de ensiná-los a pensar criticamente.
Ele mostra exaustivamente como os serviços civis foram ocupados por burocratas da direita que apóiam a expulsão de palestinos de suas propriedades, como em Sheikh Jarrah. Ele ressalta como o sistema educacional superior de Israel foi destruído, enquanto as verbas são desviadas para a construção de ainda mais estradas para colonos que têm pouca utilidade para os valores democráticos e os direitos humanos, e que oprimem e degradam os palestinos.
O sionismo progressista dará à maioria da geração jovem dos judeus, tanto em Israel quanto na Diáspora, um caminho para expressar sua identidade e seu amor pelo que Israel poderá ser caso não seja asfixiado por direitistas com posições totalitárias. O sionismo progressista não demanda que se abdique da clareza moral e do humanismo universalista em nome do pertencimento tribal – ele irá assegurar que o Estado do povo judeu permanecerá democrático não apenas no nome, mas em sua essência.
O sionismo progressista celebra os mais autênticos traços da tradição judaica: a disposição para debates incisivos; o espírito do contraditória de minorias; a recusa a compactuar com o autoritarismo.
Ele valorizará a energia criativa – que tem sido a marca da contribuição judaica para a cultura Ocidental – da indústria hi-tech de Israel, das artes cênicas e da academia, para libertar a política israelense dos dogmas e da inércia.
E para nos mover para um futuro do qual possamos nos orgulhar.
Publicado no Haaretz em 26|05|2010 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR