Não está claro o que está por trás dos atuais ataques contra a sociedade civil e a academia israelense. Será apenas uma campanha enganosa de uma pequena, inconsequente (mas rica) minoria da extrema-direita? Será a fragilidade de um governo fraco respondendo a pressões e críticas externas? Ou, mais provavelmente, a expressão de uma ideologia que está agora no poder – a dos direitistas, do Likud e seus apoiadores?
Se olharmos para trás, poderemos ver sinais disso quando o Likud chegou ao poder pela primeira vez. Não apenas o populismo contra o ‘elitismo ashkenazi’ e o anti-intelectualismo, mas também as acusações contra o campo da paz como ‘quinta coluna’, ‘faca nas costas da nação’, e outras similares.
Isso teve uma parada abrupta pela granada de mão jogada contra uma manifestação do PAZ AGORA com o assassinato do ativista Emil Grunsweig. O governo enviou um representante ao funeral e começou a referir-se ao movimento da paz como uma ‘oposição leal’.
Tal cuidado foi esquecido no período de Oslo, e os resultados novamente foram trágicos. Mas de um ano para cá temos visto esse comportamento voltar com toda a força – na verdade bem mais pesado e mais perigoso do que em qualquer tempo no passado.
Isso pôde ser visto, no ultimo verão, no ataque da polícia à ONG ‘New Profile’, e depois nos ataques ao funding da ‘Breaking the Silence’. Pôde ser visto na pletora de projetos de lei como a lei do ‘Nakba’, da draconiana lei dos imigrantes (chamados de infiltrantes) e a proposta de lei para controlar o funding de ONGs.
Isso pode ser visto não apenas como iniciativas ‘privadas’, como os anúncios e posters da [organização de extrema-direita]‘Im Tirtzu’ culpando organizações de direitos humanos (e aqueles que as financiam) por isolar Israel do mundo. Mas, talvez mais alarmante, também na discussão, dentro da comissão de educação do Knesset, do relatório daquela organização sobre o que era chamado de anti-sionismo dos acadêmicos e do ensino nas universidades israelenses.
Contrato Social
A comissão do Knesset chamou o Conselho de Educação Superior para, com base no relatório do ‘Im Tirzu’, investigar o que o presidente da comissão, Zvulun Orlev, denominou de ‘subversivos e anti-sionistas’. Esses (e outros mais) não são casos isolados. Somam-se a uma política, uma campanha dirigida a golpear a sociedade civil, sufocar críticas e eliminar a oposição. Eles põem em perigo a própria essência da democracia liberal e da sociedade livre, ou seja o pluralismo – de pensamento, de ações e de expressão.
Por meio do contrato social entre o povo e o Estado, os cidadãos aceitam voluntariamente limites às suas liberdades, pelo bem da comunidade.
Mas sociedades democráticas também estão comprometidas a proteger as minorias da tirania da maioria. As liberdades de criticar, de chamar o Estado a prestar contas, de proteger os direitos das pessoas são, todas, fundamentais para a preservação da democracia.
Por décadas ficamos assistindo parados enquanto governo após governo negava as liberdades democráticas aos milhões de palestinos sob a ocupação israelense – em nome da preservação do caráter judeu e democrático de Israel.
Agora, temos um governo que parece estar a caminho de aplicar a mesma abordagem à própria sociedade israelense, em nome, aparentemente, de alguma versão distorcida do sionismo.
Não só Herzl [ocriador do sionismo político] deve estar se revirando em seu túmulo.
Provavelmente também está Jabotinsky [ideólogo do sionismo de direita].
GALIA GOLAN, veterana ativista do PAZ AGORA, é Professora Emérita da Universidade Hebraica de Jerusalém e leciona Governo, Diplomccia e Estratégia no Centro Interdisciplinar de Herzlia,