Suicídio Moral

O rabino Shlomo Aviner, árbitro de legislação judaica de grande influência entre a população religiosa-nacionalista, foi questionado recentemente sobre como deveríamos considerar Baruch Goldstein. Seria ele um “homem correto de abençoada memória” ou, pelo que fez na Tumba dos Patriarcas em 1994 – massacrando 29 árabes que lá rezavam – um imperdoável assassino?

O rabino respondeu que esta era uma questão complexa: por um lado, precisamos lembrar que Goldstein salvou muitos judeus, como médico, e agiu num período de atentados terroristas brutais. Por outro lado, ninguém tem o direito de tomar em suas próprias mãos os assuntos relativos a segurança.

 “Claramente, Baruch Goldstein não agiu por sentimentos pessoais de vingança. Precisamente por causa disto, ele deteria ter pedido a permissão da nação, pois a nação inteira teria que arcar com a responsabilidade. Se ele nos tivesse perguntado, teríamos dito para não fazê-lo. Esta não é a maneira certa. Mas ele não nos perguntou. E foi morto. Afinal, ele sabia que o que estava fazendo era perigoso, portanto ele é um homem correto de abençoada memória, uma homem santo de abençoada memória. Mas o ato não foi correto”.

 É duro e deprimente ler isto, ainda mais porque Aviner não é um dos rabinos extremistas kahanistas cuspidores de fogo, que justificam o que Goldstein fez, e outros assassinatos similares. O rabino Aviner é uma pessoa de status e autoridade elevados, da corrente principal dos religiosos de direita. Não se pode dizer que ele justifica o massacre; ao contrário, dele se dissocia, citando razões de disciplina cidadã, boa ordem e administração adequada. Em questão de disciplina, o distinto rabino é razoável – mas em questão de assassinato, passa longe.

 Não deve ser difícil para qualquer homem religioso achar as palavras certas para condenar um assassinato como tal. Mas, na prática, não é segredo que muitos religiosos no Oriente Médio achem isto extremamente complicado.

O rabino Aviner é capaz de chamar um assassino de homem santo e correto, mas é incapaz de condenar na linguagem mais simples e clara o assassinato em massa de gente inocente. Ele tem um tipo de deficiência moral. Como se pode explicar a alguém que sofre de tal deficiência ? Quão horríveis e indecentes são suas palavras?

Imaginemos que alguém fosse descrever como correta e santa uma pessoa que, D’us o livre, fosse matar filhos do rabino Aviner (observando que o ato em si é inaceitável, pois não tinha a autorização necessária das autoridades). Alguém que falasse assim não estaria supondo que as vidas dos filhos do rabino não têm nenhum valor? E, neste caso, como poderíamos evitar a conclusão de que as vidas das pessoas que foram assassinadas por Goldstein não têm nenhum valor para o rabino Aviner? 


[ publicado no Haaretz em 11|03|2009 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 

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