Sexta-feira, meio-dia, centro de Jerusalém. Na rua Ben Yehuda, a mais movimentada da cidade mais politizada de Israel, não há nenhum vestígio de propaganda eleitoral. Nada lembra que este é o último fim de semana antes da eleição que definirá o próximo governo do país, na terça-feira.
Neste ano, os israelenses irão às urnas na ressaca da guerra em Gaza e em meio a um cansaço geral em relação à política e aos políticos. A indiferença poderia indicar uma provável vitória do continuísmo, mas não é isso o que deve ocorrer.
As últimas projeções apontam para o favoritismo do Likud, partido conservador de oposição liderado pelo ex-premiê Binyamin Netanyahu. Ele chega à reta final com uma vantagem pequena sobre o principal rival, o governista Kadima, mas Netanyahu terá maior facilidade para formar uma coalizão graças ao fortalecimento dos partidos de direita, aliados naturais do Likud.
Os 22 dias da ofensiva contra o grupo palestino Hamas em Gaza, apoiada pela esmagadora maioria dos israelenses, explicam em parte essa tendência. Grande parcela ficou desapontada por ela não ter se prolongado por mais tempo, até o colapso do regime do Hamas -a posição defendida pelo Likud.
Segundo as últimas pesquisas, o Likud terá entre 25 e 28 deputados no novo Parlamento, contra 23 a 25 do Kadima, da chanceler Tzipi Livni. No total, a direita deve conquistar entre 64 e 68 das 120 cadeiras da Knesset (Parlamento), garantindo maioria para um possível governo liderado pelo Likud.
Mas após uma primeira experiência como premiê (1996-1999) em que manteve relações tortuosas com EUA e Europa, Netanyahu deverá tentar uma coalizão mais ampla, de preferência com a participação do Partido Trabalhista. Essa aliança significaria a manutenção de Ehud Barak, o líder trabalhista, no cargo de ministro da Defesa.
Para os analistas, o desinteresse do público é resultado da combinação de três fatores: fadiga eleitoral (esta é a 18ª vez que os israelenses elegerão um governo desde a fundação do país, há 60 anos); desilusão com os políticos, ampliada pelos processos por corrupção contra o atual premiê, Ehud Olmert; e a pouca diferença entre os principais candidatos.
“Esta é a eleição menos importante da história de Israel”, decreta o articulista Gideon Levy, do jornal “Haaretz”, voz solitária da oposição à ofensiva em Gaza. “A guerra mostrou que não há diferença entre os principais candidatos.”
Para o escritor e pacifista Amós Oz, a análise é enganosa. Apesar da indiferença do público e da aparente semelhança entre os partidos, ele considera esta eleição “crucial”. “Sei que isso é dito em toda eleição. Mas, com a chegada de Obama ao poder, teremos uma janela de oportunidade para resolver o conflito com os palestinos.”
[ Publicado na Folha de São Paulo em 08/02/2009 ]