Na tarde deste domingo, 18|01|2009, cerca de 2 mil pessoas se reuniram diante do “Muro da Paz”, no centro de Paris, a chamado dos Amigos do PAZ AGORA na França [ “La Paix Maintenant”], sob a palavra de ordem: “Dois Povos, Dois Estados, Uma Paz”. O ato contou com o apoio de dezenas de instituições francesas (veja relação ao final).
Fizeram uso da palavra:
David Chemla, presidente do “La Paix Maintenant”;
Yariv Oppenheimer, secretário-geral do “Shalom Achshav” [PAZ AGORA de Israel];
Pierre Shapira, assessor do Prefeito de Paris, que trouxe a saudação fraternal de Bertrand Delanoé;
Sihem Habchi, presidente do “Ni Putes Ni Soumises”;
Karim Hervé Benkemla, pelo “Conselho Francês de Muçulmanos Laicos”;
Dominique Sopo, presidente da “SOS Racisme”.
Segue o texto integral do discurso de David Chemla:
Defendamos os Dois Povos!
Discurso de David Chemla – Paris, 18|01|2009
A presença de todos vocês aqui, diante deste muro no qual a palavra Paz está escrita em todas as línguas da Terra, é a forte mensagem que desejamos hoje passar a esses dois povos do Oriente Médio que se enfrentam, mais uma vez, num conflito sangrento.
Shalom, Salam!
Eu sei que alguns nos dirão: como vocês podem falar de paz enquanto a fumaça dos canhões ainda não se dissipou, os hospitais transbordam de feridos e enquanto tantas famílias estão de luto? Eu lhes respondo: se nós não falarmos de paz, agora, para dar esperança aos dois povos, então quando o faremos?
Acreditamos na paz, porque aqueles dois povos não estão condenados a ver suas crianças, geração após geração, sem conhecer nada além da guerra ou, no máximo, algum tempo de tranqüilidade entre guerras.
Acreditamos na paz, porque aqueles dois povos não estão condenados a viver, uns sem esperança, sob ocupação e sem um Estado, e outros sob o ódio dos atentados e dos Qassams.
Acreditamos na paz, porque qualquer outro caminho significa a morte para todos.
O La Paix Maintenant milita, desde sua criação há 30 anos, pela única paz possível no Oriente Médio: a partilha dessa terra tão santa, entre esses dois povos, o palestino e o israelense, que a reivindicam. Essa paz é possível, os dois povos a esperam e estamos aqui para ajudá-los.
Convocamos esta manifestação, porque quisemos, face a todas as outras manifestações recentes nas ruas, seja em apoio aos palestinos, seja em apoio aos israelenses, fazer ouvir a voz da razão, defendendo ao mesmo tempo os dois povos. Já é hora desse conflito parar!
Dezenas de associações uniram-se a nós aqui, e eu lhes agradeço. Eu lhes agradeço ainda mais, porque sei que para muitos deles não é fácil estar aqui. Os bombardeios sobre Gaza acabaram de cessar, após terem feito centenas de vítimas civis, e os Qassams ainda ameaçam as cidades do sul de Israel. Mas, apesar dos vínculos que possamos ter, uns e outros com diversos campos, o que hoje nos une aqui é mais importante do que aquilo que nos separa.
O que nos une é o respeito mútuo que temos uns pelos outros, o respeito às nossas diferenças e o apego profundo à laicidade que é o fundamento de nossa República.
O que nos une é a recusa que compartilhamos à instrumentalização que alguns querem fazer, tentando importar esse conflito para incitar o ódio entre as comunidades. O conflito do Oriente Médio não é um conflito entre judeus e árabes, não é um conflito entre duas civilizações, não é um conflito religioso. É uma disputa entre dois povos que disputam uma mesma terra.
O que nos une é o repúdio a todos esses rompantes anti-semitas que acompanharam certas passeatas em apoio à causa palestina.
O que nos une é a mesma indignação diante de todos esses atos criminosos de agressões contra os locais de culto judaicos ou muçulmanos ou contra pessoas em nome de uma pseudo-identificação a um dos dois campos envolvidos numa guerra que acontece a 5 mil quilômetros daqui.
O que nos une é a convicção de que sabemos viver juntos aqui e que – apesar dos respectivos vínculos que possamos ter – podemos nos virar para esses dois povos que se estão despedaçando do Oriente Médio para lhes dizer: “Olhem, nós aqui, franceses, de confissões judaica, muçulmana, cristã ou outra – laicos, crentes ou ateus -, nós lhes dizemos juntos, numa única voz: Vocês também podem, aí, encontrar o meio de compartilhar essa terra, construir seus dois países lado-a-lado, com segurança para todos.
O que nos une é, enfim, a convicção de que a única solução para esse conflito é a partilha desta terra entre os dois povos: um Estado Palestino viável nos territórios da Cisjordânia e de Gaza, desocupado da presença de colônias israelenses, e um Estado israelense livre dessa ocupação que o corrompe há 40 anos.
É hora de a comunidade internacional assumir plenamente suas responsabilidades com a História dos dois povos daquela região. É hora dessa comunidade internacional se comprometer a aplicar a única solução possível, a de dois Estados para dois povos.
Agora que Israel anunciou um cessar-fogo unilateral, dirigimo-nos à comunidade internacional a fim de que intervenha para exercer todas as pressões possíveis sobre as duas partes, para que o cessar-fogo seja consolidado, total e recíproco, colocando fim assim às operações militares israelenses e aos disparos de foguetes do Hamas. Que garanta a segurança das duas populações e permita a retirada das tropas israelenses da faixa de Gaza.
Dirigimo-nos à comunidade internacional a fim de que intervenha para exigir do Egito e de Israel a suspensão do bloqueio de Gaza, ao mesmo tempo impedindo o contrabando de armas na sua fronteira.
Dirigimo-nos a essa comunidade internacional a fim de que intervenha para acelerar a retomada das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina com vistas a alcançar, afinal, um acordo global e definitivo, aceitável para os dois povos.
Pedimos que esta reunião seja silenciosa, por respeito às vítimas civis desse conflito. Peço, assim, que escutem os oradores em silêncio e com respeito, sem aplausos ou vaias.
Agora, vou passar a palavra a algumas personalidades que discursarão, seja em nome das principais associações que apoiaram esta manifestação, seja por seu próprio engajamento pessoal neste combate pela paz que nos une. Após essas intervenções, iremos nos dispersar com calma. Obrigado novamente por sua presença.
[publicado pelos Amigos do Paz Agora na França – La Paix Maintenant – e traduzido por Cláudia Storch para o PAZ AGORA|BR ]
Organizações que aderiram à manifestação :
La Paix Maintenant
Ni putes ni soumises
AJHL (Association pour un Judaïsme Humaniste et Laïque)
SOS Racisme
Centre MEDEM-Arbeter Ring
Human Rights Voices
Cercle Bernard Lazare – Grenoble
Histoires de Mémoire
Collectif Dialogue & Partage
Amal – association culturelle franco-maghrébine (Grenoble)
Cercle Martin Buber (Genève)
Collectif Désirs d’avenir de Montreuil
Cercle Bernard Lazare
RéSo – Réformistes & Solidaires
Collectif Deux Peuples Deux Etats de l’Est parisien
Nouvelle Gauche
ULR CFDT St Nazaire
Modem Mouvement Démocrate (section de Gentilly 94)
Conseil français des musulmans laïques
Paroles de Femmes
CLEJ (Club Laïque de l’Enfance Juive)
Association pour un Judaïsme Pluraliste – Grenoble
Pax Christi
Centre Communautaire Laïc Juif (Bruxelles)
Pax Médicalis
Palestisrael City
AMJHL (Association Montpelliéraine pour un Judaïsme Humaniste et Laïque)
PS (section Gentilly)
AACCE- Association des Amis de la Commission Centrale de l’Enfance
Sources des Sept Dormants
SOS Racisme Grenoble-Isère
Association “Les VidéObstinées” (Toulouse)
Carrefour des mondes et des cultures
Diasporablog
Collectif Deux Peuples Deux Etats Pays de Loire
Ecole de la paix – Grenoble
UJRE – Union des Juifs pour la Resistance et l’Entraide
Peacelink (Italie)
00216, magazine de la diaspora tunisienne
Cercle Gaston-Crémieux
Laicité et République Sociale
Bagdam Espace lesbien (Toulouse)
Karavan (Toulouse)
CMC (Cultures Médiations Communication) Toulouse
ACSTE (Association des Centres de Soins de Toulouse et Environs)
Confédération Etudiante
Peacelink (Italie)
Euroscopie-Eurometrie
Neapolis – Association des Mères Tunisiennes
Association culturelle juive de Nancy