A paz está na mesa. Por enquanto…


Países da Liga ÁrabeA Iniciativa Saudita é um desses eventos históricos nos quais o “timing” é mais importante do que o conteúdo. A primeira proposta pan-árabe de normalização total com Israel foi aprovada na páscoa de 2002 – no dia do atentado terrorista que matou 30 israelenses no Park Hotel de Natania, num “seder” de Pessach. A atrocidade, a subseqüente invasão da Cisjordânia pelo exército de Israel, não deixou espaço para notícias vindas da cúpula da Liga Árabe em Beirute.

E com Israel tendo acabado de voltar para cidades de Cisjordânia das quais tinha saído, um plano árabe para retornar Israel às fronteiras de 1967 parecia irrelevante.

Em todas as primaveras dos seis anos que se seguiram, a Liga Árabe reafirmou o seu plano de paz, o primeiro que chegou a produzir. Mas ele ficou em banho-maria.


Agora, três fatos o trouxeram de volta à cena: a eleição de Barack Obama como próximo presidente americano, a possibilidade de o presidente do Likud, Benjamin Netanyahu tornar-se o próximo primeiro-ministro de Israel em fevereiro, e o temor de que o domínio já frágil de Mahmoud Abbas na Autoridade Palestina caia. E como Obama assumirá o cargo 20 dias antes das eleições israelenses, ele poderá ser capaz de influenciar o resultado ao apoiar publicamente o plano de paz saudita: qualquer um que tenha votado em Netanyahu saberá então que estaria desafiando Obama. 


Num encontro com seus contrapartes egípcio e jordaniano em julho, a ministra do exterior Tzipi Livni classificou a iniciativa saudita como “um oportunidade histórica que não pode ser perdida”. Oficialmente, porém, o governo Kadima-Avodá nunca respondeu ao plano. Até o presidente Shimon Peres, que recentemente falou em seu favor, não demonstrou interesse por ele quando participava do gabinete.

Reunião da Liga Árabe no Cairo

Reunião da Liga Árabe

Há cinco anos, o então ministro do exterior jordaniano Marwan Muasher disse-me que estava decepcionado pela apatia do campo da paz israelense com relação ao plano. Ele não podia entender tal apatia para uma proposta que demandava uma solução “acordada” para o problema dos refugiados – palavras que – conforme o especialista em Oriente Médio Dr. Matti Steinberg, davam de fato a Israel um direito de veto nesta questão. O significado desse termo também ficou evidente pela reação furiosa do Hamas e da Jihad Islâmica. O chefe desta, Ramadan Shalah, disse numa conferência em Damasco, em janeiro, que a Iniciativa Saudita era ainda pior que a Declaração Balfour de 1917, que lançou as fundações para o Estado judeu.

Os 22 membros da Liga Árabe, como os outras 35 países muçulmanos que adotaram o plano, não esperavam que Israel anunciasse que iria deixar a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golan já no dia seguinte. Entrevistado em Bruxelas há duas semanas, Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe, explicou que, após aceitar os princípios do plano, Israel teria que realizar negociações bilaterais com seus vizinhos para determinar fronteiras precisas (trocas de território seriam possíveis) e arranjos de segurança.


Mas, caso Israel preferir manter os assentamentos, advertiu, a Iniciativa Saudita será tirada da mesa e substituída por uma outra idéia, que tem ganhado impulso ultimamente: um país único,  binacional.


[ publicado no Haaretz  – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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