Quando o senhor começou a pensar em Israel?
Antes da guerra, na Polônia, minha família era sionista. E a tia que cuidou de mim na França era ativista do Fundo Nacional Judeu. Havia cartazes, havia atividade, eu ouvia coisas. E, quando jovem em Avignon, eu lia três jornais por dia e por eles acompanhava os acontecimentos na Palestina.
Então veio a Declaração de criação do Estado, em maio de 1948. A sua geração não pode entender a excitação que nos tomou. Foi só quatro anos após o Exército Vermelho ter-nos libertado, seis anos após os nazistas terem liquidado o gueto. E a transição daquele horror, daquele abandono, para um Estado judeu que vencia uma guerra.
Como menino de 13 anos, fiquei com muito medo de que os árabes massacrariam os judeus. Parecia haver apenas 60.000 judeus e milhões de árabes em volta. E aí o fato de que o exército dos judeus tenha combatido e vencido e de o Estado ter surgido – para mim, era algo além da imaginação.
O próprio fato de que esses judeus, que tinham sido mandados para os guetos, que foram caçados pelas ruas, que tinham sido mortos e massacrados, estavam agora se levantando e criando um país para si mesmos, eu realmente via como um milagre.
Foi um evento histórico informado por uma dimensão quase metafísica. De repente, havia judeus que eram ministros de Estado, judeus que eram autoridades. E um passaporte, um uniforme, uma bandeira.
Agora os judeus são como os ‘goim’ [gentios]. Não são dependentes dos ‘goim’. Podem cuidar de si mesmos. A criação do Estado foi como a criação do mundo para mim. Transportou-me para um tipo de êxtase.
– O senhor está dizendo que a excitação com a criação do Estado deveu-se em parte ao fato de que o que acontecera ali, no gueto, não tinha sido apenas uma catástrofe terrível: foi também uma humilhação…
Humilhação é uma palavra inadequada. Houve algo muito além disto no gueto. Foi a transformação do judeu num grão de areia. Em nada. Em alguém cuja vida não valia nada. Esta foi a coisa mais terrível naqueles anos. A criança que via a sua mãe e irmã sendo dela tiradas. A criança que via judeus sendo espancados como animais e levados para sua aniquilação. E, de repente, na Terra de Israel, os judeus estavam lutando como gente. Lutando e vencendo. Ali estavam eles, em fotografias e noticiosos no cinema – jovens e fortes, portando rifles. Sim, eram seres humanos como qualquer ser humano. Capazes de lutar por sua liberdade como os italianos em’Heart’ de [Edmondo] De Amicis. Não eram mais criaturas que podiam ser mortas, escravizadas ou caçadas. Não mais podiam ser tratados como animais.
– O senhor está dizendo algo brutal: que no mundo de antes, o mundo do Holocausto, os judeus perderam sua imagem humana, e só com a criação do Estado de Israel ela foi restaurada.
Não foi nem a perda da imagem humana. Porque lá nunca houve uma imagem humana. O judeu ali era nada. Nada, nada, nada. Os judeus dali eram pó de gente. Gente que era abatida a tiros de um jeito que nem gatos e cães o são. Quero dizer que eles eram não-entidades, menos que animais. Por um animal pode-se sentir pena. Por judeus não se sentia pena. O judeu era sub-humano.
E agora, apenas poucos anos depois, o judeu se tornou um ser total e completo. De um ser defeituoso, o judeu transformou-se num ser completo. E florescia. Mostrava as qualidades humanas da coragem e do auto-sacrifício. E para mim, no sul da França, havia um certo encantamento sobre isso, algo que não consigo definir.
A ÚLTIMA PARADA
– Cuidado, o senhor está soando como um sionista…
Não sou apenas sionista. Sou super-sionista. Para mim, o sionismo era e continua sendo o direito dos judeus a controlar seus próprios destinos e seus futuros.
Considero o direito dos seres humanos a serem seus próprios senhores como um direito natural. Um direito do qual os judeus foram privados pela História e que o sionismo lhes restaurou.
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