Maskiót – Um Cavalo de Tróia no Vale do Jordão

1209

Relatório PAZ AGORA

Eis os fatos: em 1982, o exército criou um posto avançado militar, chamado Maskiót, no Vale do Jordão. Em 2002, o EDI e um programa pré-militar de educação religiosa, com algumas dezenas de alunos, moveram-se para moradias temporárias lá. Em setembro de 2005, colonos evacuados do assentamento de Shirat Haiam, na Faixa de Gaza, anunciaram planos para mudar para Maskiót. No final de 2006, o mundo ficou chocado ao saber que o então Ministro da Defesa Amir Peretz havia aprovado construções ali para acomodá-los. Após enormes críticas vindas de Israel e do exterior, Peretz congelou a aprovação.

Prêmio aos Infratores

Mas, planos de assentamento nunca morrem. Hoje o projeto voltou, possivelmente como parte de um “trato” entre [o atual ministro da defesa Ehud] Barak e os colonos. Em troca de Israel transformar Maskiót no primeiro novo assentamento em mais de uma década, os colonos poderiam consentir em evacuar alguns dos mais de 100 outposts ilegais. Em vez de fazer com que os colonos parem de prejudicar a reputação internacional de Israel, acabando com os postos avançados ilegais, o governo está oferecendo a eles um prêmio.

Apoiadores das obras em Maskiót dizem que o projeto não criará um novo assentamento, mas apenas mudará o status de um já existente. Esta lógica viola o espírito do compromisso que Israel em não criar assentamentos – o que foi feito de maneira muito explícita e pública no contexto do processo de paz com os palestinos.

Tal compromisso partiu do reconhecimento de que novos assentamentos poderiam minar fatalmente as chances de chegar a uma solução de dois Estados.

Que ninguém se deixe enganar: transformar uma base militar sem uso numa comunidade civil permanente – com novas construções, segurança, infra-estrutura, serviços e todos os recursos implicados – significa criar de fato um novo assentamento.

Defender o contrário é simplesmente tentar vencer o debate com uma tecnicalidade.

Radicalizando a Ocupação

Maskiot

Maskiot

Não é por acidente que os colonos e seus apoiadores estão tomando o Vale do Jordão como alvo. O futuro desta área está no coração do aspecto territorial do conflito israelense-palestino. E para grande decepção dos proponentes de um eterno controle israelense sobre o Vale do Jordão, nunca antes houve o enraizamento de assentamentos judeus.

A pequena população de colonos na área, que há muito vem estagnando ou mesmo diminuindo, consiste de pessoas que na maioria irão cooperar, quando não apoiar ativamente, com um futuro acordo de paz com os palestinos, mesmo que este demande a sua saída.

Dado este contexto, não surpreende que alguns observadores vejam o plano Maskiót como um ‘Cavalo de Tróia’ – um esquema para transplantar colonos de ideologia linha-dura, da Faixa de Gaza para o Vale do Jordão, com o expresso propósito de complicar – ou mesmo bloquear – qualquer futuro acordo de paz.

De fato, há poucas semanas, ficamos sabendo que a Ministra do Exterior israelense havia apresentado um mapa ao chefe da equipe negociadora palestina, Ahmad Qurei, representando a proposta de Israel para as fronteiras num futuro acordo. O mapa mostraria o Vale do Jordão – sem nenhum assentamento israelense – como parte do Estado Palestino. Como isto se enquadraria na decisão do Ministro da Defesa?

Ocupação ou Paz

Dois anos atrás, a sensatez prevaleceu e o plano de Maskiót foi congelado. Autoridades israelenses reconheceram então que  o estabelecimento desde novo assentamento contrariaria o compromisso declarado de Israel com a paz israelense-palestina. Que seria uma bofetada no rosto dos EUA, que haviam investido pesadamente na promoção da paz. E que representaria um golpe fatal para o presidente Abbas e outros palestinos moderados que apóiam negociações de Israel e os palestinos.

O bom senso é necessário novamente, hoje, para sustar o plano. A decisão de Barak precisa ser revertida.

O mundo está assistindo. E o mundo – incluindo os amigos de Israel – sabe que estabelecer novos assentamentos é incompatível com uma solução de dois Estados para o conflito. Agora e no futuro.

Esta é uma linha muito clara que os apoiadores desse plano não conseguirão apagar, uma linha que os líderes israelenses precisam ter a sabedoria de não ultrapassar.

O mundo está assistindo e irá dizer ‘não’ a novos assentamentos nos territórios ocupados. Nem agora, nem nunca. Não, se Israel leva a sério quando diz que quer a paz.

>> + informações sobre Maskiót => clique AQUI


Lara Friedman é diretora de política e relações governamentais do APN – Americans for Peace Now; Hagit Ofran é coordenadora da Equipe de Monitoramento de Assentamentos do PAZ AGORA.

[ publicado no Jerusalem Post em 05|08|2008 e traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]


Comentários estão fechados.