30 anos conduzindo à paz!
No início de abril,para comemorar três décadas de atividades, o PAZ AGORA montou uma grande barraca branca na Praça Rabin de Tel Aviv – local das maiores manifestações pela paz em Israel. O movimento promoveu um seminário (» leia mais AQUI), com a participação de dirigentes políticos, como o ex-ministro Yossi Beilin, a atual ministra da Educação Yuli Tamir, e conhecidos acadêmicos e jornalistas.
Nos painéis de diálogo, a Autoridade Palestina (AP) foi representada, entre outros, por Sufian Abu Zaida, dirigente da Fatah. O ex-deputado palestino Qadura Fares – como Beilin, um dos redatores do Acordo de Genebra – leu carta do líder popular Marwan Barghouti, que cumpre penas de prisão perpétua em Israel por atividades terroristas.
Barghouti, cuja popularidade o poderia eleger à presidência da AP, havia sido um dos promotores do processo de paz de Oslo e voltara às armas após seu fracasso. Na saudação ao PAZ AGORA (» íntegra AQUI), propõe uma solução negociada para o conflito: “Vamos dar aos nossos filhos e aos seus filhos uma vida sem ameaças de guerra e derramamento de sangue…”.
Movimento pela paz nasceu no exército
Uma exposição de posters na praça documenta a História do PAZ AGORA, desde sua fundação em 1978 com base numa carta-aberta enviada por centenas de oficiais do Exército ao então primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, instando-o a corresponder aos acenos de paz enviados pelo Egito.
A “Carta dos Oficiais” (» íntegra AQUI) questionava a legalidade e a ética de continuar subjugando o povo palestino, e instava o governo a encetar negociações de paz com os vizinhos árabes, em troca dos territórios ocupados em 1967.
Teve repercussão enorme em Israel, porque vinha do coração de sua sociedade – da elite do Exército, sua instituição mais respeitada. Um ano depois, o presidente Anwar Sadat assinava um tratado de paz com Begin, tornando o Egito o primeiro país árabe a fazer paz com Israel.
Em 1982, um protesto convocado pelo PAZ AGORA – contra a conivência de forças israelenses no massacre de refugiados palestinos no Líbano por uma milícia falangista libanesa – resultou na maior manifestação popular de Israel em todos os tempos, reunindo 400.000 pessoas na mesma praça.
O Movimento continuou atraindo centenas de milhares às suas manifestações. Apesar de ser uma organização supra-partidária, ativistas seus têm sido eleitos como parlamentares e nomeados ministros por vários partidos.
Por Dois Estados: Israel e Palestina
Quando o PAZ AGORA foi criado, a idéia de negociar com a Organização de Libertação da Palestina (OLP) e criar um Estado Palestino ao lado de Israel era considerada radical pela maior parte dos israelenses. A divisão da população continuou muito dividida quanto a abrir mão das terras conquistadas na Guerra dos Seis Dias. Mas a negociação de “terras por paz” acabou trazendo uma paz estável com o Egito e a Jordânia, os maiores vizinhos de Israel. E há sinais de que o mesmo venha a ocorrer com a Síria num futuro próximo.
A principal bandeira do grupo – “Dois Estados para Dois Povos” – deixou de ser vista como um conceito radical, para ser hoje aceito em Israel pela grande maioria como única garantia para o futuro de um Estado judeu e democrático. Da mesma forma, é a base da plataforma política que levou Mahmoud Abbas à presidência da Autoridade Palestina, e tem hoje o aval internacional, incluindo a Liga Árabe.
O próprio Ariel Sharon, grande arquiteto do projeto da colonização dos territórios ocupados, ao decidir pela retirada de Gaza, adotou princípios do Movimento, ao declarar textualmente que “a ocupação não deve continuar” e que “Israel não pode continuar dominando milhões de palestinos”…
Mas, mesmo após a ascensão à presidência de Abbas, líder moderado disposto ao diálogo, Sharon e seu sucessor Olmert desperdiçaram a oportunidade de aprofundar negociações, insistindo em atitudes unilaterais.
Persistência no diálogo
A veterana ativista Galia Golan recorda os encontros secretos com representantes da OLP na Jerusalém Oriental, ocupada há quase 30 anos, para discutir possíveis conversações de paz. A grande virada na relação com os palestinos veio finalmente em 1993, quando Arafat e Rabin assinaram os acordos de Oslo, com o reconhecimento mútuo de Israel e a OLP. “Tivemos um papel em mudar o diálogo público, e o fato é que hoje existe uma maioria apoiando a solução de dois Estados, negociações e a retirada da Cisjordânia”, diz Golan, 69, interlocutora freqüente de lideranças palestinas.
Nos últimos anos, após apoiar a saída de Gaza (insistindo sempre numa coordenação com os dirigentes moderados palestinos), o movimento continua pressionando o governo a dialogar com lideranças árabes e palestinas e denunciando a expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia, através de manifestações públicas, monitoramento, denúncias e ações judiciais contra construções nos territórios ocupados.
A colonização dos territórios ocupados continuou sem cessar nas últimas três décadas. Cerca de 450.000 judeus vivem hoje em terras conquistadas na guerra de 1967, o que torna cada vez mais difícil criar um Estado Palestino viável. Os colonos, bem organizados, têm muitos recursos e influência nos vários escalões do governo. As colônias continuam se expandindo, apesar do compromisso internacional de Israel em congelar seu crescimento.
Com a permanência da dura realidade da ocupação, a confiança dos palestinos no processo de paz diminui, alimentando-se o radicalismo e a violência.
No lado israelense – cujos civis sofrem a ameaça constante de ataques terroristas – muitos duvidam que os palestinos possam implementar um acordo, face à crescente influência do Hamas, movimento fundamentalista islâmico que objetiva a destruição de Israel.
Paz e ocupação não combinam
O Movimento tem sido um contrapeso aos judeus linha-dura que colonizaram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza após aquela guerra. “Vimos, desde o início, a questão dos assentamentos como central para a paz”, diz Golan. Muitos deles, com a conivência do governo, foram construídos infringindo as próprias leis de Israel. Vários processos movidos pelo PAZ AGORA já chegaram à Suprema Corte de Israel, que vêm determinando a evacuação e desmantelamento de núcleos de assentamento.
Yariv Oppenheimer, porta-voz do grupo, mantém a esperança: “Se não conseguimos impedir novas construções, fizemos com que a questão se tornasse evidente para a opinião pública. A maioria já percebeu que precisamos nos livrar dos assentamentos”.
O PAZ AGORA ainda não pôde comemorar este aniversário com festas.
Mas, 30 anos depois, os princípios da “Carta dos Oficiais“ de 1978 continuam sinalizando a direção de uma paz justa e possível entre árabes e judeus no Oriente Médio.
[ Moisés Storch é coordenador dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA ]