Tempo para solução de Dois Estados está acabando

PAZ AGORA NO CANADÁ

TORONTO – Para um dia haver paz em Israel, e para Israel se manter como Estado judeu democrático, o país precisará dispor-se a partilhar Jerusalém com os palestinos, diz Yariv Oppenheimer, secretário-geral do Movimento PAZ AGORA.

Ele acredita que um tratado de paz que seja aceitável para os dois lados deverá incluir um compromisso na questão de Jerusalém.

“Não é um jogo de soma-zero… Não é simples, envolve concessões. Teremos que pagar um alto preço, assim como os palestinos. Mas, para sobreviver como Estado judeu democrático… haverá uma luta”, afirmou Oppenheimer para mais de 100 pessoas no Templo Sinai.

Ele dialogou num painel sobre o Oriente Médio com Amir Gissin, cônsul-geral de Israel em Toronto.

Cônsul de Israel em Toronto, Amir Gissin, em debate na Ryerson University ao lado do moderador Myer Siemiatycki e do secretário-geral do PAZ AGORA.

O evento foi organizado pelo ‘Canadian Friends of Peace Now, ONG de esquerda que prega o estabelecimento de um Estado Palestino em terras ocupadas por Israel em 1967, e pelo  ‘National Jewish Campus Life’. Foi moderado por Myer Siemiatycki, professor do departamento de Política e Administração Pública da Ryerson University.

Oppenheimer disse que o governo israelense deve procurar chegar a uma solução de dois-Estados.

“Não apenas os palestinos irão ganhar. É também de interesse de Israel e do sionismo… Sem tal solução, ou iremos nos tornar um Estado não-democrático, ou deixaremos de ser Israel”

Enquanto boa parte da discussão focalizava os desafios de paz no Oriente Médio, o Cônsul Gissin falou de sua frustração pelo fato de Israel não falar ao resto do mundo numa voz unida: “Não existe qualquer esforço significativo… para apresentar Israel ao mundo, e nós pagamos o preço por isto a cada dia”, disse.

Falando de sua experiência como antigo chefe do departamento de Hasbará’ [comunicação externa] do goveno israelense, Gissin acrescentou que Israel não faz de sua imagem uma prioridade, como fica claro em seu orçamento para comunicações, menor do que o de grandes corporações.

Ele disse que Israel deve enfrentar hoje desafios novos, como a ameaça nuclear iraniana e a incapacidade da comunidade internacional de aplicar uma pressão eficaz sobre o Irã, assim como os contínuos ataques de foguetes vindos de Gaza.

“Mas o que se está tornando muito crítico é o esforço dos nossos opositores e adversários… apresentam Israel ou taxam Israel de uma nova África do Sul… chamam Israel de um país de apartheid.” Falou que grupos anti-Israel mudaram seu foco de descrever Israel como ocupante dos territórios, passando a falar de “uma entidade Palestina”, para a qual pregam uma solução binacional em vez da de dois Estados. “Este é um fenômeno novo”, disse.

Oppenheimer disse não achar que os problemas de Israel estejam em comunicação externa (‘hasbará’). Falou que, se as condições de fato não mudarem, o mundo irá continuar vendo os palestinos como as vítimas oprimidas.

Quando Israel cortou a eletricidade de Gaza em resposta a ataques de foguetes do Hamas, “em apenas uma hora, todo o mundo ficou contra Israel, e ninguém se lembrou dos mísseis Qassam que estava caindo em Israel”, disse.

“O pensamento do governo israelense é de que para derrubar o governo do Hamas precisamos tornar a vida em Gaza tão miserável que os moradores irão se opor ao Hamas. Mas aconteceu exatamente o oposto”.

Afirmou ainda que esta tática só cria o caldo de cultura para visões mais radicais, mais ódio contra Israel e mais simpatia pelos extremistas: “A imagem de Israel piora, as pessoas em Israel tornam-se mais extremistas – ainda mais direitistas ou esquerdistas – assim como os palestinos …”.

Oppenheimer afirmou que o Hamas está se apoderando da agenda do Oriente Médio ao se criar uma existência violenta e miserável para ambos os lados, a qual afasta o foco de um tratato de paz: “Quem se preocupa com um tratado de paz – sobre dividir Jerusalém ou resolver problemas de assentamentos – quem quer falar sobre isto, quando se têm Qassams voando de Gaza sobre Israel?”.

“É isto que o Hamas quer… Eles querem tornar impossível alcançar um acordo”.

O líder do PAZ AGORA disse que o fato de o Hamas ser um grupo religioso, e não político, torna a situação muito mais complicada: “É fácil falar ‘vamos conversar com o Hamas, vamos fazer a paz com eles’. Não sei se existe uma parte do Hamas disposta a conversar com israelenses. Duvido disto… Mas sei que, além do Hamas, existe a Fatah. Eles não fazem parte do movimento sionista judeu, mas estão dispostos a falar com israelenses”.

Oppenheimer concluiu advertindo que o tempo não está trabalhando a favor dos que apóiam a solução de Dois-Estados.

“O conflito está se transformando cada vez mais de político para religioso, e temo pelo dia em que dentro da sociedade israelense haja um conflito religioso, e dentro da sociedade palestina haja um conflito religioso. Aí será muito difícil resolver… Eu acredito que o tempo certo para fazê-lo é agora!”.


[ publicado pelo Canadian Jewish News em 21|02|2008 e – traduzido pelo PAZ AGORA|BR  ]

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