A fala da Yael Dayan concentrou-se na aguardada Conferência de Annapolis e suas perspectivas para o início de um novo processo de paz entre israelenses e palestinos. Em particular, ela lamentou as expectativas baixas que todas as partes mostram no momento, citando como exemplo o fato de que a “conferência” agora está sendo chamada de “encontro”.
Estes sentimentos resultariam principalmente do ceticismo, fadiga e de esforços por agradar diferentes segmentos dentro das sociedades israelense e palestina.
Com o recente aniversário do assassinato de Rabin, e tantos anos passados desde Oslo, falta nas ruas de Israel o entusiasmo por um processo de paz. Todas as vezes que Israel e a Palestina chegaram perto da paz, enfrentaram cisões dentro das respectivas populações.
Em Israel, este clima emocional é reforçado por uma crença disseminada de que o Hamas está tendo sucesso em sua tomada de poder, assim como pelo temor de que uma nova evacuação (na Cisjordânia) iria fortalecer ainda mais o Hamas e colocar mais israelenses em perigo. Tais convicções são também expostas pelos serviços de inteligência.
Dayan salienta que, não importa o que aconteça na Conferência de Annapolis, é vital estar bem preparado para o dia seguinte. Ela será um sinal verde para negociações, e todos os setores do campo da paz deverão assegurar que os israelenses, palestinos e americanos promovam negociações.
Nessas conversações, Israel terá a responsabilidade de dar o primeiro passo – em grande parte porque fez muito pouco até aqui para facilitar as condições. De sua parte, as autoridade palestinas precisam asssumir um maior controle sobre a segurança na Cisjordânia. A Organização para Libertação da Palestina – OLP – também deverá negociar com o Hamas no sentido de reduzir o lançamento de foguetes Qassam contra Sderot.
Contudo, explicou Dayan, é também responsabilidade do governo israelense proporcionar um melhor abrigo e segurança para seus cidadãos da região de Sderot. Afinal, a única coisa que poderá interromper completamente o lançamento dos Qassam é a paz. Citando Yitzchak Rabin, “Precisamos combater o terrorismo como se não houvesse processo de paz, e devemos buscar a paz como se o terrorismo não existisse”. Explicou que é inútil ficar esperando pela tranqüilidade. Se Israel assim o fizer, a paz jamais virá. A segurança deve ser um resultado do processo de paz, não uma pré-condição para ela.
Finalizando, Yael afirmou que esperar a paz passivamente tem sido prejudicial para a sociedade israelense. Observou que apesar de ter uma economia forte, o país já foi muito mais forte em ciências, educação básica e outras disciplinas. Apontou também o enorme fosso entre os sistemas educacionais judeu e árabe, e entre a educação israelense em geral e a oferecida aos novos imigrantes. Essas coisas foram sendo negligenciadas com o entendimento de que quando a paz chegasse seriam melhor atendidas.
Mas Israel não pode se dar ao luxo de pensar que a paz está logo na esquina. Algumas reformas precisam ser feitas já. E a chegada da paz pode não ser suficiente para, por si só, impulsionar as mudanças necessárias urgentemente na sociedade israelense.
(*) YAEL DAYAN, filiada ao partido Meretz e ativista do Movimento PAZ AGORA. é vice-prefeita de Tel Aviv e Jaffa. Esteve no Brasil em 2004 a convite dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA e da Prefeitura de São Paulo. Na foto, palestra de Yael Dayan na PUC|SP (17|06|04), ladeada pelo então embaixador palestino no Brasil, Mussa Odeh.
[ síntese de palestra no Meretz USA – N.York em 12|11|07 – traduzida pelo PAZ AGORA|BR ]