Fracasso das negociações em Annapolis seria perigoso

Medo – e não coragem – é o que será preciso na conferênciaa de paz israelense-palestina planejada para o próximo mês em Annapolis sob os auspícios dos Estados Unidos, afirma o líder moderado palestino Sari Nusseibeh.

“O que é preciso nos dois lados é de uma sensação de temor. Que as pessoas estejam conscientes dos perigos que afligirão os dois lados caso não cheguemos a um acordo”, disse ele. “Precisamos de gente que possa enxergar quais horrores nos aguardam adiante, caso não nos entendamos tão logo quanto possível”.

A data exata para a conferência de paz ainda não foi definida. Os palestinos querem um acordo detalhado e um cronograma para implementação de soluções nas questões mais sensíveis, enquanto os israelenses querem u m documento mais vago, deixando as questões centrais para depois.

Os parceiros direitistas da coalizão de governo, os partidos Israel Beiteinu e Shas já ameaçaram sair do gabinete israelense se essas questões forem discutidas na conferência.

Galia Golan, ativista do movimento israelense PAZ AGORA, escreveu que o encontro “poderia ser a oportunidade mais importante e promissora para um processo genuíno de paz desde a malfadada conferência Camp David II em julho de 2000.”

Sari Nusseibeh

Sari Nusseibeh, presidente da Universidade Palestina de Al Quds

Nusseibeh adverte que seria um equívoco subestimar a urgente necessidade de definir um “ponto de chegada” para seguir no road map: “Não se pode ter paz a não ser que os dois lados assumam compromissos. Caso contrário, ficaremos rodando em círculos… Ambos os lados precisam desenvolver uma solução viável, e isto deve ser feito logo.”

As “questões dolorosas”, que demandam um entendimento mútuo tratam da resolução da questão dos refugiados palestinos, do status de Jerusalém Oriental e o que os muçulmanos chamam de “Santuário Nobre” – o local da Mesquita de Al Aqsa – e os judeus chamam de Monte do Templo.

“Os israelenses têm que recuar na questão de Jerusalém, enquanto os palestinos igualmente tem que recuar na questão dos refugiados. Essas coisas vão juntas… Ambas as concessões são claramente dolorosas, mas têm de ser feitas para que as pessoas dos dois lados possam criar um novo futuro”.

Sob a fórmula de Nusseibeh, os palestinos que desejassem seriam reassentados no novo Estado Palestino, “com compensação”. Em retribuição à renúncia de suas reivindicaçõe por suas antigas propriedades, Israel teria que concordar com que Jerusalém Oriental se torne a capital do novo Estado.

Quanto aos mais de 800.000 judeus que deixaram países árabe, ele disse que “todos que saíram contra sua vontade devem ser compensados, caso também não seja concedido o direito ao seu retorno”.

Nusseibeh reconheceu que o reassentamento de refugiados dos descendentes dos 700 a 750 mil árabes que fugiram ou foram expulsos de Israel em 1948 seria uma tarefa enorme, mas rebateu que “seria menor do que se a deixássemos por resolver.”

Quanto aos assentamentos judeus na Cisjordânia, seria possível que alguns fossem incorporados a Israel por acordo, em troca de “território equivalente em quantidade e qualidade… Mas isto não pode ser feito unilateralmente”.

O muro, ou barreira de segurança, que está sendo construído além da “Linha Verde” de 1967 terá que ser negociado.

“O Hamas e as forças de direita em Israel irão rejeitar os compromissos”, diz Nusseibeh. Mas ele acredita que se houver uma opção de paz aceitável, a maioria nos dois lados irá votar por ela.


Sari Nusseibeh, 58, nascido em Jerusalém, é filósofo formado em Oxford e presidente da Universidade Al-Quds em Jerusalém.  Publicou recentemente o livro de memórias “Once Upon a Country: A Palestinian Life“.

[ entrevista para Irwin Block publicada no The Gazette – Montreal em 28|10|2007 e traduzida pelo PAZ AGORA|BR.


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