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Quarenta anos depois da Guerra dos Seis Dias, muitos debates e programas na televisão e rádio têm sido apresentados sobre esse tema na mídia e entidades judaicas. O coordenador do Movimento PAZ AGORA no Brasil, Moisés Storch, concedeu entrevista ao Nosso Jornal Rio onde fala sobre a origem desse movimento, bem como da situação no Oriente Médio.
– O que é o PAZ AGORA e como se compõe?
O PAZ AGORA é o mais antigo movimento pacifista de Israel e o de maior base popular do país
Foi criado em 1978 durante as conversações de paz entre Israel e Egito. Num momento em que essas negociações estavam prestes a fracassar, um grupo de 348 oficiais e soldados do exército israelense publicou uma carta aberta ao então primeiro-ministro Begin instando o governo a fazer o possível para não deixar se perder aquela oportunidade de paz. Dezenas de milhares de israelenses escreveram em apoio à carta, dando luz ao movimento
Os princípios básicos do movimento desde então foram o direito de Israel viver em fronteiras seguras e o mesmo direito aos seus vizinhos, incluindo o direito dos palestinos à autodeterminação. O movimento desde sempre viu a criação de um Estado Palestino nos territórios ocupados na guerra de 1967, ao lado de Israel, como única solução viável para o conflito.
Quando a OLP, em 1988, aceitou o princípio da solução de Dois Estados, o PAZ AGORA promoveu uma massiva manifestação de 100.000 pessoas pedindo que o governo negociasse com a OLP. Alguns de seus membros participaram das negociações secretas com lideranças palestinas que culminaram com os Acordos de Oslo em 1993, que representaram um marco histórico de reconhecimento mútuo dos direitos nacionais israelenses e palestinos.
O PAZ AGORA atua através de campanhas populares, propaganda, petições, distribuição de material educativo, conferências e palestras, pesquisas de opinião, grupos de diálogo, atividades de rua, vigílias e manifestações. O movimento organizou a maior manifestação já realizada em Israel, com cerca de 400.000 pessoas (de uma população àquele tempo de 5 ½ milhões) em 1982, exigindo uma comissão de inquérito sobre o massacre de Sabra e Chatila no Líbano, que recomendou o afastamento de Ariel Sharon do cargo de Ministro da Defesa, por responsabilidade indireta pelo crime perpetrado por falangistas libaneses.
Um importante projeto atual do PAZ AGORA é sua Equipe de Monitoramento de Assentamentos, que rastreia a construção de colônias nos territórios ocupados, emitindo relatórios objetivos que muitas vezes são utilizados pelo próprio governo israelense.
Pouco após o início da Intifada de al-Aqsa, o movimento estimulou a criação da COALIZÃO ISRAELENSE-PALESTINA PELA PAZ, composta de personalidades políticas e populares israelenses e palestinas. Esta Coalizão foi formada com base na Declaração Conjunta Israelense-Palestina, a qual também inspirou a reorganização dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA (PAZ AGORA|BR) em setembro de 2001, com a coleta de mais de quase mil assinaturas de personalidades brasileiras em apoio à Declaração.
O PAZ AGORA tem prosseguido na realização de atividades conjuntas com diversos agrupamentos do campo da paz israelense e palestino, apoiando iniciativas como o Acordo de Genebra e o Plano Nusseibeh-Ayalon, que podem ser lidos na íntegra em português em www.pazagora.org/genebra e www.pazagora.org/voz .
– Em que outros países existe o PAZ AGORA?
Além do PAZ AGORA|BR – que mantém o site www.pazagora.org e uma lista de informações com mais de 3000 inscritos – existem núcleos organizados de Amigos do PAZ AGORA na Argentina, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França e Reino Unido.
– Quarenta anos depois da Guerra dos Seis Dias, quais as perspectivas de paz a médio prazo?
A espiral de violência gerada pela opressão dos palestinos na Cisjordânia e Gaza, da inaceitação do Estado judeu por lideranças árabes, o terrorismo contra civis israelenses e os castigos coletivos conta a população árabe não favorece o otimismo.
Por outro lado, há evidências comprovadas por sucessivas pesquisas de opinião de que a grande maioria das populações, israelense e palestina, já chegaram à conclusão de que não existe uma solução militar para o conflito, e que só uma solução que contemple a criação de um Estado Palestino ao lado do Estado de Israel, convivendo pacificamente, trará uma paz justa. Mas para isto, são necessários líderes, de ambos os lados, com carisma para convencer os povos a aceitar concessões inevitáveis
– Que países árabes são favoráveis a um acordo de paz com Israel?
Até 1967, nenhum país árabe admitia a existência de Israel. A Guerra dos Seis Dias, neste aspecto foi um divisor de águas. Aos poucos, países como o Egito e a Jordânia foram aceitando que Israel estava ali para ficar. Foram seguidos pela própria OLP. Em 2002, todos os 22 países da Liga Árabe aprovaram a Iniciativa Saudita que propõe o estabelecimento de relações diplomáticas normais de cada um de seus membros com Israel, em troca de sua retirada dos territórios ocupados em 1967 e uma solução para o problema dos refugiados palestinos.
– Movimentos como o Hamas e o Hezbolá podem impedir que as negociações avancem?
Sim. Os movimentos extremistas árabes, assim como grupos extremistas israelenses sempre fizeram e sempre farão de tudo para sabotar qualquer progresso em direção à paz. O importante é que essas atitudes não sirvam de pretexto para se aproveitar toda e qualquer oportunidade de negociações. Como dizia Rabin, devemos combater o terrorismo como se não existissem negociações, mas devemos também persistir nas negociações apesar dos terroristas.
– Qual a posição do atual Governo israelense em relação a um Estado palestino?
Ariel Sharon, considerado o grande arquiteto da colonização dos territórios ocupados, reconheceu explicitamente em maio de 2003 que “Israel não pode continuar dominando milhões de palestinos, e que a ocupação deve acabar”.
Ehud Olmert, seu sucessor e herdeiro político, já naquela época, enfatizava o problema demográfico. As populações árabes somadas do Mediterrâneo ao Jordão (ou seja incluindo Israel, Gaza e Cisjordânia) superariam em breve a população judaica. Esta tendência significaria o fim de Israel como Estado judeu, ou o fim da democracia israelense.
A partilha daquele pequeno território cobiçado por judeus e árabes em Dois Estados já foi decidida pela ONU em 1947. Creio que hoje, com a aceitação mútua cada vez mais consolidada dos dois lados, a paz é afinal possível.
Mas para ser justa deverá ser fruto de negociações. Qualquer solução unilateral tem forte risco de fracasso.
[ entrevista de Moisés Storch por Denise Wasserman publicada no “Nosso Jornal-Rio” de julho/07 ]