Seqüelas de 1967 duram até hoje

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Quatro novos territórios e meia cidade sagrada anexados; mais de 800 aviões inimigos destruídos; um Exército nacional devastado por completo; 18 mil mortos. Em 1967, a vitória militar de Israel contra as três nações da Frente Árabe (Egito, Síria e Jordânia), na Guerra dos Seis Dias, foi incontestável. Todavia, passados 40 anos, a comunidade internacional ainda questiona o preço desse triunfo.

Apesar do acordo de paz firmado entre Israel e alguns atores envolvidos na guerra após o seu desfecho, as seqüelas dos Seis Dias ainda martirizam a região. Os palestinos não conseguem vislumbrar um tempo de paz, pois vivem em confronto com os israelenses e, agora, entre eles mesmos.

Israel, por sua vez, enfrentou uma guerra no sul do Líbano no ano passado, e tem constantemente realizado ações militares para conter o lançamento de foguetes contra suas cidades ao norte, realizado por militantes palestinos.

Em maio de 1967, a Frente Árabe tinha meio milhão de soldados nas fronteiras com Israel, quando Gamal Nasser, presidente do Egito, fechou o estreito de Tiran, isolando a cidade portuária israelense de Eliat.

Um mês antes, Israel já havia atacado bases árabes nas colinas de Golã. Até hoje, há controvérsias históricas sobre a eminência de um ataque árabe, mas, antecipando-o, as Forças de Defesa do premiê Levy Eshkol iniciaram os bombardeios que culminaram no conflito.

Questão Secundária

Para o egípcio Mohamed Habib, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade de Campinas (Unicamp), a guerra não terminou no sexto dia. “Por trás do conflito, havia planos estratégicos ligados ao fortalecimento econômico e militar de Israel. Além disso, por muito tempo, a questão palestina permaneceu como secundária porque o Egito e a Jordânia passaram a se empenhar na reconquista de suas terras”, acredita.

Habib era professor na Universidade de Alexandria quando a guerra explodiu. “Passei por momentos traumatizantes e tristes”, comenta, sem querer detalhar. Ele contou ao jornal O TEMPO que, com a eliminação da Força Aérea de Nasser, logo no primeiro dia de conflito, todas as tropas terrestres egípcias que guardavam os limites do deserto do Sinai foram expostas. “Os soldados corriam para as cidades do canal de Suez. Foi uma decepção para todo o mundo árabe ver o Exército mais forte da região ser aniquilado em seis dias”, lembra.

Extensões da Guerra

A devolução do Sinai, em 1982, os acordos de Oslo, de 1993, e os acordos de paz entre Israel e o Egito e a Jordânia não apagaram as seqüelas do conflito. O que se observou, de uma forma geral, foi o crescimento do anti-sionismo em vários países da região. No Irã, por exemplo, o presidente Mahmoud Ahmadinejad não hesita em prometer, em alto e bom tom, que o país será riscado do mapa.

O ódio por Israel é compartilhado pela vizinha Síria, que apesar de não bancar um confronto direto, alimenta hostilidades com o país através do financiamento do Hezbollah – grupo que atua no Líbano – e do Hamas, partido extremista da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Além disso, a transformação do Exército israelense (originalmente de defesa) em forças de ocupação, na região da Cisjordânia, é um fato ainda não digerido pela população palestina. Mas há mais.

Investimento

Se na década de 1960 Israel era um modelo de Estado de bem-estar social, comparável à Suécia e Finlândia, hoje apresenta alta desigualdade social, com 21% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza. Há cerca de dois anos, uma pesquisa do instituto Market Watch averiguou que, para 53% dos israelenses, o governo investe mais nos assentamentos do que em suas próprias cidades.

Cerca de 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado são direcionados a gastos militares. “O Estado vive ligado à questão da ocupação (da Cisjordânia) e canaliza uma verba imensa para essas terras que, teoricamente, vão ser devolvidas”, avalia Moisés Storch, representante no Brasil da organização israelense PAZ AGORA. Inicialmente, a tomada dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias seria uma garantia para barganhar, futuramente, relações pacíficas. Para Storch, contudo, a implantação de colônias militares e civis, ao longo das últimas quatro décadas, foi um dos grandes erros de Israel.

Colonos

Nos meses seguintes à ocupação na Cisjordânia, postos militares se estabeleceram como defesa da região, e a alguns colonos civis foi permitido alojar-se ao redor. No entanto, governos do partido Likud passaram a dar suporte financeiro para quem quisesse ocupar as terras tomadas.

“Houve os colonos ideológicos, que queriam tomar posse do que chamavam de ‘sua terra’, e os que simplesmente teriam melhores condições financeiras na Cisjordânia do que em Israel”, explica Storch. Houve um desvio do bem-estar social da economia de Israel para financiar esse projeto de ocupação. “Abriu-se espaço para uma minoria de fanáticos que acabou ditando a política do Estado e tem tornado a paz cada vez mais distante.”

[ Entrevista de Mohamed Habib Moisés Storch para Glória Paiva, publicada no jornal “O Tempo” de Belo Horizonte ]

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