O terceiro presente para o Hamas


O Hamas já recebeu dois presentes nossos. O primeiro foi a saída unilateral da Faixa de Gaza. Não é preciso ser um falcão ou uma pomba para ver que o fato do governo Sharon ter deixado a faixa de Gaza sem nenhuma negociação, acordos militares ou arranjos econômicos, favoreceu o Hamas.

Ele se apresenta ao público palestino como uma organização capaz de fazer com que Israel fuja, através do uso da força e de ameaças, sem abrir mão de nenhum interesse palestino, enquanto a Autoridade Palestina gasta seu tempo em negociações infrutíferas com Israel.

O segundo presente foi dado ao Hamas pelo governo americano com sua briga boba pela “democracia global”, e pelo governo de Israel que se rendeu a ela.  Foi a decisão de permitir ao Hamas tomar parte nas eleições para o Conselho Legislativo Palestino, em completa contradição com o Acordo de Oslo.
 

O Hamas quer receber o terceiro presente agora. Uma incursão massiva do exército israelense na Faixa de Gaza contrariaria o interesse israelense, pois colocaria em perigo os residentes da parte oeste do Neguev, só porque “nós precisamos dar uma resposta a esta situação”.

A operação das Forças Armadas Israelenses em Gaza servirá para reunir as facções do Hamas, criar um denominador comum para o Hamas, Fatah e o Jihad Islâmico e diluir as diferenças entre aqueles que estão preparados para negociações e os que nunca irão reconhecer Israel.

O Exército de Defesa de Israel iria derramar sangue nas trincheiras dos campos de refugiados, a fraca Autoridade Palestina iria entrar em colapso e em seu lugar Israel precisaria impor uma administração militar que seria responsável por prover todas as necessidades da população palestina.       

Desta forma, em lugar de se pedir ajuda ao mundo, toda a responsabilidade será atribuída ao ocupante, o Acordo de Oslo acabará em Gaza, o que gerará desdobramentos na Cisjordânia.


A necessidade do cessar fogo na Cisjordânia 

Não estou certo de que o Hamas mereça o terceiro presente. Isto não significa que devamos permitir que ele aja como bem entender – uma atividade eficaz contra os bandos que atiram foguetes Qassam é obrigatória. Um esforço para chegar a um cessar-fogo na Cisjordânia também é imprescindível, e foi um erro dar ouvidos a autoridades de segurança que se opuseram a ele nos últimos meses.

Estava claro que um cessar fogo que só ocorresse em Gaza não poderia durar muito tempo e que o Hamas iria usar nossas operações na Cisjordânia para justificar “punições” no oeste do Neguev.

Evacuar os residentes do oeste do Neguev que desejem sair é uma atitude justificada. Essa população não é um escudo de segurança, e o fato o governo não ter construído abrigos reforçados não os obriga a permanecer em casa e a rezar para que o próximo Qassam não os atinja.

Mudar os moradores interessados para pensões no centro de Israel é mais barato do que fazer uma grande campanha militar na Faixa de Gaza. E não prejudicaria a imagem de Israel.

Esta é uma oportunidade rara para trabalhar em consonância com o mundo, a Liga Árabe e os palestinos pragmáticos em um esforço para alcançar entendimentos apesar da resistência do Hamas. Precisamos pressionar por um cessar-fogo completo, lançar negociações com a Autoridade Palestina no esquema da Iniciativa Árabe de Paz, valer-se de um maior envolvimento americano e isolar os radicais.

Será difícil anular os dois primeiros presentes. É difícil sairmos da confusão para a qual fomos arrastados por pessoas que queriam fazer de tudo para impedir negociações sérias com a Autoridade Palestina. Agora seria um grande erro se – após os dois presentes desnecessários e desastrados –  o governo falido de Olmert sentir não ter escolha a não ser embarcar em uma campanha militar que não deseja.

De qualquer forma, é difícil acreditar que aqueles que erraram tão gravemente no último verão, acertarão nesta primavera de 2007.

 

Yossi Beilin é presidente do partido Meretz-Yahad e principal promotor e interlocutor israelense, junto a lideranças palestinas, no Acordo de Oslo e da Iniciativa de Genebra.

[ Publicado pela Ynet em  26|05|2007 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR]

 

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