Um plano de paz entre Israel e Síria

n922

A paz com a Síria é possível AGORA!

O respeitado jornalista Akiva Eldar revelou um plano para um acordo permanente de paz entre e Israel e Síria.

A proposta foi formulada numa série de encontros extra-oficiais, ocorridos desde 2004 entre representantes dos dois países, com intermediação suíça.

Conforme o documento (veja íntegra ao final), Israel se retiraria das Colinas de Golan para as linhas anteriores à Guerra dos Seis Dias, que seriam desmilitarizadas e transformadas num parque turístico…

 

Um processo de paz entre Israel e Síria

Na surdina, desde 2004 vêm sendo costurados acordos que podem mudar radicalmente o mapa geo-político do Oriente Médio, e talvez trazer uma nova era para as relações entre o mundo muçulmano e o Ocidente.

Um entendimento entre o Estado de Israel e a Síria, país que desde sua criação foi seu vizinho mais agressivo e inflexível, deixou de ser um sonho impossível para se tornar uma realidade palpável.

Golan no Oriente MédioDentro de um acordo abrangente de paz, desenvolvido extra-oficialmente, Israel entregaria aos sírios as Colinas de Golan, que seriam totalmente desmilitarizadas, e a Síria concordaria em acabar com seu apoio ao Hizbolá e ao Hamas, além de se distanciar do Irã.

Um documento neste sentido, descrito como um “non-paper(» leia a íntegra abaixo).,  foi revelado pelo colunista do Haaretz Akiva Eldar. Foi preparado em agosto de 2005 e atualizado numa série de encontros na Europa, realizados com o conhecimento de altas autoridades dos governos israelense e sírio. A última reunião foi durante a recente guerra no Líbano.

Conversações Secretas

Autoridades israelenses eram informadas sobre os encontros por um mediador suiço e também pelo Dr. Alon Liel, um dos diretores da ONG pacifista IPCRI e antigo diretor-geral do Ministério de Relações Exteriores de Israel.

O mediador suiço e o representante sírio mantiveram oito reuniões com autoridades sírias, incluindo o vice-presidente Faruk Shara, o Ministro do Exterior Walid Mualem, e um general da inteligência síria.

Os contatos terminaram após Israel não concordar com uma exigência síria de se passar dos encontros não-oficiais para reuniões secretas a nível ministerial, com a participação de uma autoridade graduada norte-americana.

O representante sírio nas conversações, Ibrahim (Abe) Suleiman, cidadão americano, visitou Jerusalém e entregou uma mensagem a funcionários graduados do Ministério do Exterior com relação ao desejo sírio de um acordo com Israel. Os sírios também queriam ajuda de Israel para melhorar suas relações com os Estados Unidos.

O mediador suiço observou uma preocupação da liderança síria com a perda das receitas de petróleo, que poderia levar o país a uma grave crise econômica e desestabilizar o regime de Assad.

Rompendo o ‘Eixo do Mal’

De acordo com Geoffrey Aronson, da Foundation for Middle East Peace baseada em Washington, que esteve envolvido nas conversações, um acordo sob auspícios americanos demandaria da Síria a garantia de que o Hizbolá iria depor armas, e que Khaled Meshal, um dos líderes mais radicais do Hamas, deixaria a capital Síria.

Também emergiu, por uma mensagem síria para Israel, que o regime de Assad – a família Assad provém da minoria alawita – se considera como parte integrante do mundo sunita e se opõe ao regime teocrático xiíta e, particularmente, à política do Irã no Iraque.  Um importante oficial sírio sublinhou que um acordo de paz com Israel permitiria à Síria se distanciar do Irã.

A Síria também usaria sua influência para uma solução do conflito no Iraque, através de um acordo entre o líder xiíta Muqtada Sadr e a liderança sunita. E iria contribuir para resolver o conflito israelense-palestino, inclusive o problema dos refugiados.

Segundo Aronson, a idéia de um parque nas Colinas de Golan permite atender à demanda Síria de que Israel volte à fronteira de 04 de junho de 1967, e ao mesmo tempo elimina as preocupações israelenses quanto ao controle dos mananciais de água do lago Kineret (Tiberíades) pelos sírios.

Há cerca de dez anos, o engenheiro Robin Twite, diretor do departamento de água e meio-ambiente do IPCRI, produziu um plano para criação de um Parque da Paz nas colinas de Golan, idéia que parece ter prosperado nas conversações.

Conexão Istambul

Antes desses encontros, Aronson participara de um esforço para incrementar conversações entre Síria e Israel com mediação turca – após um pedido feito pelo presidente Assad ao primeiro-ministro da Turquia.

No verão de 2003, o ex-chefe do Estado Maior israelense recomendou ao então premier Ariel Sharon que acedesse aos acenos de Bashar Assad e entrasse em negociações com ele. Mais tarde, em setembro de 2006, revelou publicamente o fato, explicando que acreditava então que a simples existência de negociações com a Síria sobre o futuro do Golan poderia romper o alinhamento entre Irã, Síria e Hizbolá. A Guerra do Líbano teria sido evitada.

Já em dezembro de 2004, respondendo a repetidos pronunciamentos do presidente sírio a favor da abertura de negociações para um acordo de paz com Israel, o Movimento PAZ AGORA lançava um apelo público:

Assad está esperando Olmert para fazer a PAZ AGORA

Assad está esperando Olmert para fazer a PAZ AGORA

 “Um acordo de paz, baseado em fronteiras seguras e reconhecidas e normalizando as relações entre os dois países, é uma necessidade estratégica para os povos israelense e sírio…

 … Novas negociações com a Síria são a chave para o início de negociações com o Líbano, e certamente contribuirão para a criação de um novo clima internacional da região. Instamos o governo de Israel a responder positivamente a este chamado.

Evitemos a repetição de erros passados e as conseqüências trágicas de negociar acordos apenas após guerras sangrentas.” 

Em dezembro de 2006, o chefe da pesquisa da Inteligência Militar havia dito à Comissão de Segurança e Relações Exteriores do Parlamento que as aberturas de paz feitas então pelo presidente sírio eram verdadeiras. No início de 2007, numa reunião com a mesma comissão parlamentar, o major-general Amos Yadlin, da Inteligência Militar, afirmou que a Síria estava diminuindo sua disposição para a guerra.

O deputado Yossi Beilin (Meretz), articulador dos Acordos de Oslo e da Iniciativa de Genebra,  saiu da reunião dizendo que “se o primeiro-ministro tivesse escutado o que ouvimos hoje, saberia ser impatriótico deixar de lançar rapidamente um diálogo com a Síria numa aposta para alcançar a paz…  Acredito que a Síria é muito séria com relação a negociações e não é sério não abrir negociações com eles”.

Suiça Garante

Após as negociações do plano terem vazado para a imprensa em meados de janeiro, houve desmentidos oficiais tanto pelo governo sírio quanto pelo israelense.

Não obstante, a veracidade dos entendimentos reportados foi confirmada pela própria presidente da Suiça, Micheline Calmy-Rey, que revelou ter sido o seu país que arbitrou as conversações secretas.

Revelou ainda que o mediador suiço estava presentemente na Síria, e acrescentou que o secretário de assuntos estrangeiros da Suiça iria para Damasco na próxima semana. 

A recém eleita presidente do Conselho Federal da Suiça, a mais alta autoridade de seu país, revelou o papel suiço nos contatos entre Damasco e Jerusalém durante uma coletiva de imprensa realizada em 22/1, por ocasião de sua investidura: “As conversações secretas, que não mais são secretas após serem divulgadas pela imprensa na semana passada, foram de fato arbitradas por um mediador suiço”, revelou.

Calmy-Rey ocupou o cargo de Ministra do Exterior da Suiça no ano passado e tem muitos contatos no Oriente Médio. Teve papel importante no reconhecimento da “Estrela de David Vermelha” pela Cruz Vermelha Internacional.

‘Síria Quer Paz’

Por outro lado, numa rara entrevista, o representante sírio nas tratativas, Ibrahim Soliman, confirmou que estas foram feitas com o conhecimento e apoio dos governos de Jerusalém e Damasco.

“A Síria queria fazer a paz com Israel e construir relações com os Estados Unidos. O Presidente Assad disse e repetiu que queria ter boas relações com os EUA e ofereceu sua mão em amizade e paz a Israel e os EUA”, disse Suleiman.

Entrevistado no último dia 18,  o negociador israelense Alon Liel declarou que no auge da guerra do Líbano a Síria manifestou o desejo de um encontro imediato com as autoridades máximas do governo de Israel. E comentou sobre a posição de Israel após a guerra: “A guerra enfraqueceu Israel, e fortaleceu a autoridade dos americanos. Ficou mais difícil após a guerra dizer não a Washington”.

Sobre os acordos alcançados, comentou: “Desde o início, explicamos aos sírios que Israel não poderia se retirar simultaneamente das Colinas de Golan e de Gaza… e que não poderíamos à época discutir publicamente, pois já tínhamos a questão do desligamento sendo debatida entre o povo. Mas já faz seis meses que Olmert abandonou seu plano de realinhamento…”  


Assad é Sério, Mas Está Atado ao Irã

Sobre as intenções do presidente sírio, Liel observou: “Acreditamos que Assad é sério. Ele está muito interessado em lançar negociações… Apesar disto, os sírios deixaram claro que não podem iniciar negociações a partir de uma posição de isolamento e que não podem abrir mão de sua aliança com o Irã enquanto estiverem isolados pelo Ocidente”.

“Não há nada que impeça a Síria de romper sua aliança com o Irã. Eles não têm interesse nela, mas não têm escolha pois são rejeitados pelos EUA e Europa.

O participante americano nas negociações, Geoffrey Aronson, concordou na impressão sobre a sinceridade da Síria. Segundo ele, o cronograma da implantação do plano iria de 5 a 15 anos, e foi aceita a idéia de se considerar um corredor de acesso à cidade de Katzrin, no Golan, construída pelos israelenses e cujo controle seria por eles mantido.


Mobilização Civil

Com todos os desmentidos oficiais, a exposição dessas negociações no mínimo trouxe à tona a viabilidade de um tratado de paz entre Israel e o mais renhido adversário entre seus vizinhos, uma paz que poderia ter um efeito multiplicador para a estabilidade de todo o Oriente Médio.

Assentamento no Golan - Hermon ao fundo

Assentamento no Golan - Hermon ao fundo

Espera-se que o difícil caminho que foi aberto, trazendo chances efetivas para um entendimento justo e duradouro, seja oficialmente abraçado pelos governantes da Síria e do Israel. Ehud Olmert e Bashar Assad, apesar de estarem enfrentando momentos de alta fragilidade política, poderiam superá-los passando à História como estadistas que deram a paz tão desejada por seus povos.

A sociedade civil israelense está se mobilizando para pressionar seu governo a dialogar. Neste domingo foi oficializada uma ONG, constituída por expoentes da sociedade civil e mlitar de Israel, o “Movimento Nacional pela Paz com a Síria“. Mas de forma geral, os israelenses tendem a ser muito cautelosos quanto à disposição de abrir mão das Colinas de Golan, que até serem tomadas em 1967 serviam de plataforma permanente para freqüentes ataques às comunidades da Galiléia. 

Do lado sírio, não existem informações sobre o posicionamento da população sobre um eventual tratado de paz com Israel, pois os meios de comunicação são estritamente controlados pela ditadura de Assad. Mas os acenos do presidente podem representar uma real possibilidade de que ele se empenhe em reduzir a cultura de anti-semitismo e ódio a Israel que impera no país.

A proposta negociada extra-oficialmente apresenta inegáveis ganhos para os dois lados. Sírios e israelenses têm muito a ganhar com o diálogo, cujos resultados podem modificar radicalmente o mapa geopolítico da região.

Para o bem deles, e … de nós todos.


[ por Moisés Storch, com informações do PAZ AGORA, IPCRI, Haaretz e Ynet ]


 Paz Israel + Síria – Uma Proposta Extra-Oficial de Acordo

Preâmbulo

O objetivo deste esforço é estabelecer relações normais e pacíficas entre os governos e os povos de Israel e da Síria, e assinar um tratado de paz atestando esta conquista. O tratado irá resolver os quatro ‘pilares’ centrais das negociações: segurança, água, normalização e fronteiras. Não haverá acordo sobre qualquer uma destas questões em separado, sendo que todas essas questões devem ser resolvidas.

I. Soberania

1. A soberania síria, baseada na linha de 04/06/1967 nas Colinas de Golan, será reconhecida por Israel. A fronteira mutuamente acordada será determinada por ambas as partes (e garantida pelos Estados Unidos e a ONU).

II. Acordo de Intenções, Implementação e Fim do Estado de Beligerância

Um ‘Acordo de Intenções’ irá abordar as questões de segurança (incluindo alerta antecipado), água, normalização e fronteiras. As negociações para alcançar tal acordo deverão se seguir rapidamente.

 1. O estado de beligerância entre as partes irá cessar após a assinatura de um Acordo de Intenções entre as partes, e incluirão a cessação de ações hostis por cada parte contra a outra.

Israel visto de cima do Golan

Israel visto de cima do Golan

2. A aplicação da soberania síria sobre as Colinas de Golan, o estabelecimento de relações diplomáticas bilaterais e normais, e a implementação de todas as disposições relevantes relacionadas com água e segurança irão começar o mais cedo possível após a conclusão do Acordo de Intenções, e precederão a assinatura de um tratado de paz.

3. A implementação da retirada israelense para a fronteira mutuamente acordada ocorrerá durante um período (o tempo exato será mutuamente acordado) a partir da assinatura do Acordo de Intenções.

III. Tratado de Paz

1. A implementação satisfatória das disposições e obrigações estabelecidas neste Acordo de Intenções resultará na assinatura de um tratado de paz entre as partes.

IV. Segurança

1. Serão estabelecidas zonas desmilitarizadas nas áreas das Colinas de Golan das quais se evacuarão as forças israelenses.

2. Nenhuma força militar, armas, sistemas de armamento ou infra-estrutura militar será introduzida nas zonas desmilitarizadas. Apenas uma presença limitada de policiamento civil será alocada nessas áreas.

3. Ambas as partes acordam em não sobrevoar as zonas desmilitarizadas sem um arranjo especial.

4. O estabelecimento de um sistema de alerta antecipado inclui uma estação terrestre no Monte Hermon/Jabal al-Sheikh, operado pelos Estados Unidos.

5. Um mecanismo de monitoramento, inspeção e verificação será criado para monitorar e supervisionar os acordos de segurança.

6. Uma ligação direta entre as partes será estabelecida no sentido de: criar um instrumento de comunicação direto, em tempo real, sobre questões de segurança para minimizar o atrito ao longo da fronteira internacional, e ajudar a evitar erros e interpretações incorretas entre as partes.

7. Serão estabelecidas zonas de forças militares reduzidas em Israel (a oeste da fronteira internacional com a Síria), e na Síria (a leste das Colinas de Golan). As respectivas profundidades destas zonas (medidas em quilômetros) entre Israel e a Síria seguirão a razão de 1:4.

8. As partes irão cooperar no combate ao terrorismo, local e internacional, de todos os tipos.

9. As partes trabalharão juntas por um Oriente Médio estável e seguro, incluindo a solução de problemas regionais relacionados aos palestinos, libaneses e o Irã.

 V. Água

1. Israel irá controlar o uso e disposição da água no Alto Rio Jordão e Lago Tiberíades.

2. A Síria não interromperá ou obstruirá o fluxo natural de água, seja em qualidade ou quantidade, para o Alto Rio Jordão e o Lago Tiberíades.

3. O uso pelos sírios das águas do Alto Rio Jordão, dos seus tributários e do Lago Tiberíades, para uso residencial e pesca será reconhecido e garantido.

VI. Parque

1. Com o intuito de salvaguardar os mananciais de água da bacia do Rio Jordão, um território sírio a leste da fronteira mutuamente acordada será designado como um parque aberto a todos e administrado pela Síria. O parque será estabelecido nas Colinas de Golan após a conclusão da retirada israelense e a aplicação da soberania síria, em conformidade com o tratado de paz. O parque se estenderá desde a fronteira mutuamente acordada para leste até uma linha a ser determinada por acordo mútuo.

2. Características do parque:

* Será aberto ao turismo.

* Será policiado por um serviço sírio.

* Não terá residentes permanentes, exceto pessoal de conservação e de manutenção da lei.

* Não será exigido nenhum visto para entrar no parque [a partir do território israelense].

* Os sírios emitirão permissões oficiais de entrada por uma tarifa nominal.

* Os visitantes desejosos de entrar em outros territórios sírios a leste do parque deverão ter um visto apropriado, e haverá controles sírios de trânsito no perímetro leste do parque.

* A entrada para o parque será válida por um dia, durante as horas de iluminação natural.


O Presidente Assad Está Convidando Olmert para Conversar.

O que Israel Tem a Perder?


[texto publicado no Haaretz em 16/01/2007 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR]

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