É Hora de criar uma coalizão árabe-israelense de sanidade


Ministros árabes de relações exteriores estão planejando levar a Iniciativa Árabe de Paz – apresentada inicialmente em 28/03/2002 – para aprovação pela Assembléia Geral da ONU, e talvez até pelo seu Conselho de Segurança. Entretanto, a resposta condicionada pavloviana de Israel deverá ser rejeitá-la por todos os meios e instar seus apoiadores a fazer o mesmo.  

 Numa coletiva de imprensa conjunta realizada por Ehud Olmert e o premier britânico Tony Blair neste domingo, Olmert anunciou sua disposição a retomar, com o líder palestino Mahmoud Abbas, conversações baseadas no Road Map. Aquele mesmo plano que Israel e os palestinos exaltaram – da boca para fora – por mais de três anos e meio, sem esboçar qualquer intenção de implementar. 

Se esta for realmente a única base para o encontro, talvez ele nem deva se realizar.

Por outro lado, um esforço de convocar uma reunião baseada na Iniciativa Árabe pode talvez fazer renascer o processo político, congelado nos últimos seis anos.


A Iniciativa Árabe de Paz, publicada no dia seguinte ao horrendo ataque terrorista no Park Hotel em Netânia numa noite de Pessach, evaporou dentro do clima pesado que prevaleceu na ocasião e com a subseqüente operação militar “Escudo Defensivo”.

 Caso isso não tivesse ocorrido, ela teria despertado um sério debate que poderia ter levado a evoluções mais significativas que as do minguante Road Map, proposto às partes um ano depois. Numa pesquisa publicada em 29/03/2002 no Yediot Ahronot, maior jornal de Israel, a iniciativa recebeu o apoio de 41% da população.


Uma Surpresa em Setembro?

A Arábia Saudita apresentou a Iniciativa Árabe de Paz, que foi liderada pelo então herdeiro ao trono Abdullah Bin Abdul Aziz, que mais tarde se tornou rei. A iniciativa foi aceita pela Liga Árabe um mês depois.

Junto ao chamamento a Israel a se retirar para as fronteiras de 1967 em todas as frentes, a iniciativa incluía um compromisso de estabelecer laços normais entre os países árabes e Israel. Também incluiu um posicionamento sem precedentes com relação à questão dos refugiados palestinos, pelo qual esta seria resolvida de forma acordada. 

A decisão da Liga instava Israel a aceitar a Iniciativa, de forma a garantir chances para a paz. A acabar com o derramamento de sangue. A permitir uma vida pacífica e relações de boa vizinhança. A proporcionar segurança, estabilidade e prosperidade para as gerações futuras.


O fato de os ministros árabes estarem relançando a Iniciativa agora, após anos de Intifada, após a vitória eleitoral do Hamas e em seguida à segunda guerra no Líbano – apresenta a Israel uma oportunidade de avanço em seus interesses nacionais.

Numa época em que cresce no mundo o número de líderes que questionam abertamente o próprio direito de Israel a existir, é evidente que só ações políticas, como esta, podem reforçar a legitimação da existência de Israel como lar nacional do povo judeu, assim como obter o reconhecimento internacional de suas fronteiras, e de Jerusalém como sua capital.

Somente tais iniciativas podem solucionar a questão dos refugiados e assegurar a existência de Israel como um Estado judeu democrático.


Israel poderia criar uma “surpresa de setembro”. Poderia vir à ONU com uma proposta conjunta israelense-árabe que ajudaria a renovar o processo diplomático – seja por meio de uma segunda Conferência de Madri ou por outros meios mais modestos.  Ou irá Israel retomar os métodos antigos e frustrantes de esforços diplomáticos fúteis?

Caso os ministros do exterior árabes decidam transformar a mais positiva decisão da Liga Árabe, desde sua fundação, numa proposta de resolução à Assembléia Geral da ONU, ela certamente terá amplo apoio. Se for levada ao Conselho de Segurança, receberá a maioria dos votos, e só um veto americano a impediria de ser aprovada.


O desprezo à Iniciativa foi típico do governo Sharon. Hoje estamos pagando o preço. À luz da loucura das ameaças fundamentalistas, esta é a hora de criar uma coalizão de sanidade entre os israelenses e árabes que querem viver.

Isto ainda pode se tornar realidade neste mês de setembro, mas a janela de oportunidade não ficará aberta por muito tempo.


Yossi Beilin é presidente do partido Meretz e foi o principal articulador israelense dos Acordos de Oslo e da Iniciativa de Genebra com os palestinos.

[ publicado n Ynet em 11|09|2006 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]


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