Um Discurso de Estadista – Apresentação
Elias Zanariri (*) – PPC – Ramallah, 19/02/2006
– traduzido pelo PAZ AGORA|BR –
Desde a vitória do Hamas nas eleições para o Conselho Legislativo Palestino (CLP) realizadas no último 24 de janeiro, muitos têm se perguntado sobre quais os planos para o futuro da liderança palestina sob o presidente Mahmoud Abbas.
No sábado, 18/02/2006, o presidente Abu Mazen proferiu um discurso na sessão de abertura do CLP, no qual explicitou seus planos políticos. Foi consistente, como vem sendo há anos.
Abbas enfatizou que só um acordo negociado pode por fim ao conflito do Oriente Médio. Instou Israel a engajar-se em negociações frutíferas e genuínas com a OLP, que é o supremo termo de referência para negociações entre os palestinos e Israel.
Sublinhou que iria continuar cumprindo seus encargos com o mandato que recebeu diretamente dos palestinos que nele votaram nas eleições presidenciais em janeiro do ano passado.
O discurso de Abu Mazen neste sábado é de grande importância e deve ser lido cuidadosamente. Apesar das ondas de pessimismo que invadiram tantos círculos domésticos e internacionais com a subida do Hamas ao CLP, o discurso do presidente deixa muito claro: A janela de oportunidade para uma paz justa, duradoura e abrangente ainda está aberta.
Agora depende de o governo israelense decidir cooperar com ele ou não. Irá Israel engajar-se em negociações autênticas e sinceras com a liderança palestina sob Abu Mazen? Ou continuará aderindo ao unilateralismo que, entre outros fatores, fortaleceu o Hamas e enfraqueceu o campo palestino que advoga paz e negociações?
Leia abaixo, por favor, a íntegra do texto.
(*) Elias Zanariri é Diretor Geral da COALIZÃO PALESTINA DA PAZ (setor palestino da INICIATIVA DE GENEBRA – www.pcc.org.ps)
Discurso do Presidente da Autoridade Nacional Palestina e do Comitê Executivo da OLP, MAHMOUD ABBAS na sessão de abertura do Segundo Conselho Legislativo Palestino – CLP
Ramalah 18/02/2006
– traduzido pelo PAZ AGORA|BR –
Caros membros do Segundo CLP,
Membros do Corpo Diplomático,
Prezados visitantes,
Senhoras e senhores,
Este é um grande dia na vida do nosso povo palestino, e de sua luta nacional. Hoje nós constitucionalmente inauguramos a nossa segunda legislatura, eleita pelo nosso povo palestino na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém, em eleições abertas e livres, testemunhadas pelo mundo inteiro, através de centenas de observadores, e realizadas pacificamente do início ao fim.
Estas eleições não teriam sido possíveis se qualquer facção política ou partido tivesse sido excluída, ou se nossos compatriotas de Jerusalém Oriental tivessem sido proibidos de participar. Eu enfatizei esta questão firmemente, apesar de todas as pressões.
Vejo agora, entre vocês, os que representam Jerusalém, e os que representam todas as facções políticas palestinas. Minhas congratulações vão para os irmãos e irmãs membros do Conselho, com a confiança depositada sobre eles pelo eleitorado, com meus desejos de sucesso na realização das responsabilidades que lhes foram confiadas.
Nesta ocasião, eu gostaria de saudar o Comitê Eleitoral Central e expressar minha apreciação por sua conquista nesta tarefa, da maneira mais responsável e capaz. Gostaria também de expressar a minha gratidão e apreço pelos observadores árabes e estrangeiros da eleição, por seu papel em monitorá-las, e gostaria particularmente de mencionar o presidente Jimmy Carter.
Nosso povo provou sua maturidade em espírito e desempenho democrático através da conclusão destas eleições legislativas e as eleições presidenciais e municipais precedentes. O mundo inteiro deve considerar este fato como um certificado da capacidade do nosso povo para construir um presente e um futuro no moderno Estado que nosso povo merece.
Este Estado terá um sistema democrático pluralista, governado pelo domínio da lei, e o espírito e o ethos desta era, onde cada homem e mulher faz jus a direitos e liberdades garantidos pela lei.
Senhoras e senhores,
A partir deste pódio, eu saúdo nosso povo palestino na terra natal e na diáspora. Eu ressalto para cada palestino que nossa verdadeira satisfação só será completa quando conquistarmos nossa liberdade. Com o estabelecimento de nosso Estado independente, com Jerusalém como capital. Com a libertação dos nossos prisioneiros. No dia em que a questão dos refugiados for resolvida de uma maneira justa e acordada, baseada na Resolução 194. No dia em que realizarmos o sonho do líder de nossa revolução, e construtor da primeira Autoridade Palestina, o presidente Yasser Arafat.
Saúdo os membros deste Conselho que estão sentados atrás de barras e prisões israelenses, ao lado de milhares de nossos melhores. Eu lhes asseguro a todos que não pouparemos nenhum esforço até que sejam soltos, e até que eu possa ver cada membro tomando seu lugar neste Conselho, e cada prisioneiro obtendo seu lugar justo na sociedade.
Senhoras e senhores,
Os resultados das nossas eleições levaram à criação de uma nova realidade política, na qual o Hamas ganhou a maioria do CLP. Portanto, ele receberá a tarefa de formar um novo governo. Espero que seja designada a pessoa para formar o governo, e que comecem as consultas com respeito ao assunto. Tudo isto será acompanhado pela eleição do órgão diretor do CLP e a criação de seus vários comitês, para que esteja pronto para receber o novo governo e seu programa, de forma a ser acreditado.
Aguardamos a conclusão deste processo de acordo com os procedimentos, tão logo quanto possível, porque as tarefas que esperam são grandes, na verdade enormes. Vocês encontrarão de minha parte toda a cooperação e estímulo que precisarem, porque o interesse nacional é nosso objetivo primeiro e último, e está acima de qualquer indivíduo ou facção.
Tomo esta oportunidade para saudar nosso primeiro CLP que, trabalhando sob circunstâncias difíceis, votou um grande número de leis. Ele acompanhou e monitorou tanto quanto possível os trabalhos de sucessivos governos que, por sua vez, também merecem nosso apreço por todas suas iniciativas e conquistas. Esperamos que o novo governo continue este processo e desenvolva seu desempenho de forma a alcançar os interesses e anseios do povo que o elegeu e que irá monitorar a atuação do parlamento e do governo eleitos.
Irmãs e irmãos,
Senhoras e senhores,
Hoje, diante do Segundo CLP, eu gostaria de me dirigir a vocês, nosso povo e ao mundo inteiro, num espírito de responsabilidade, clareza e honestidade, para elaborar sobre as etapas iniciais de nossa experiência nacional, com suas dificuldades, complexidades e conquistas.
Um processo que foi conduzido pelo Organização de Libertação da Palestina – OLP – liderando este povo, e a mais alta referência política para seus comitês e instituições. Nossas conquistas não teriam sido possíveis sem a insistência da OLP na unidade nacional, e sua adoção das formas mais eficazes de luta, baseadas em políticas cuidadosamente examinadas e estudadas, governadas pelo mais alto interesse nacional para o povo palestino, e de acordo com resoluções internacionais.
Nós frustramos planos que visavam eliminar a identidade política do povo palestino e seus direitos nacionais. A OLP foi capaz de levar a nossa causa até os mais distantes rincões do mundo, para todos os povos, até que as portas das Nações Unidas se abriram para nós. Naquele pódio, o presidente Yasser Arafat falou em nosso nome, segurando um ramo de oliveira, pedindo a todo o mundo que não a derrubasse. Seguiu-se o reconhecimento internacional e regional de nosso povo, da OLP e de nossos direitos.
Isto se constituiu como uma reserva política da qual ainda obtemos força e uma presença internacional efetiva. Da mesma forma, lançamos iniciativas políticas com nossos irmãos árabes e muçulmanos, expressas em decisões equilibradas em cúpulas árabes e islâmicas. Estas decisões colocaram os direitos nacionais do povo palestino como causa central em ambos os mundos, árabe e muçulmano, de uma maneira que se dirige ao mundo inteiro com uma linguagem da modernidade. Isto nos forneceu um indispensável apoio político e moral em todos os cenários de nossa luta nacional e política.
A OLP liderou esta importante e histórica era, a despeito da presença do seu líder, instituições e quadros no exílio. Ela enfrentou muitas batalhas duras para se manter nesta missão defendendo os direitos do povo palestino. A OLP e a revolução palestina não poderiam ter sobrevivido e nem superado as tentativas de eliminá-las, se além da obstinada luta armada, não tivessem assumido corajosas iniciativas políticas. Estas acrescentaram um impulso à causa palestina e receberam grande apoio, tanto internacionalmente quanto regionalmente. Isto levou ao reconhecimento da OLP como única representante do povo palestino, e porta-voz autorizada de seus direitos nacionais.
Desta tribuna, que é parte do nosso Conselho Nacional Palestino (CLP), enfatizo a necessidade de completar o diálogo entre todas as facções e partidos, para ativar nossa organização, renovar suas estruturas e quadros, e melhorar seu desempenho em todos os níveis. Nós iniciamos este diálogo há muito tempo, e é hora de colher os resultados esperados.
Neste contexto, gostaria de lembrá-los de outro importante marco em nossa luta nacional: nossa corajosa e histórica iniciativa na sessão de 1988 do Conselho Nacional Palestino em Argel. Essa iniciativa incluiu a declaração do estabelecimento do Estado da Palestina no exílio, e a Declaração de Independência que acompanhou nosso reconhecimento das Resoluções 242 e 338 da ONU. Isto traçou a fundação de nosso futuro Estado e definiu seus contornos e conteúdo, e ampliou o nível do reconhecimento internacional.
A erupção da primeira revolta popular (Intifada) no ano de 1987 decisivamente contribuiu para a adoção da nossa iniciativa. O mundo começou a lidar com nosso povo, nossa causa, e nossa liderança, como de um Estado para outro, o que deu à ofensiva palestina de paz, naquele tempo, uma profundidade política que foi além de uma declaração unilateral, para se tornar um compromisso internacional para todos aqueles que a reconheceram e estabeleceram, em conformidade, relações plenas com o Estado da Palestina.
Esta luta política trouxe frutos quando houve um importante desequilíbrio na arena internacional como resultado da queda da União Soviética e o início da segunda Guerra do Golfo. Esses eventos demandaram uma reavaliação e a formulação de novas equações para a estabilidade na nossa região.
Se a Palestina não tivesse se apresentado como um Estado reconhecido, tendo a OLP como forte órgão político representativo, o mundo, com suas novas forças, nos teria ignorado. Ninguém teria pensado em nós no contexto de quaisquer arranjos internacionais ou regionais. Aproveitando essa presença, um processo político foi iniciado e o diálogo americano-palestino, que por muitas décadas foi um tabu, foi lançado.
O processo de paz foi iniciado em Madri, e todos conhecemos seus capítulos e evoluções. Ao mesmo tempo, houve canais secretos de trabalho que levaram aos Acordos de Oslo, e o reconhecimento mútuo entre OLP e Israel.
Houve muitos rumores infundados com respeito àqueles Acordos, objetivando questioná-los. Os mais importantes eram que os Acordos de Oslo teriam sido assinados pelas costas do povo palestino, dado que as negociações foram feitas em estrito segredo. Devo repetir aqui o que já disse em muitas ocasiões. Tal ação política em segredo é um procedimento normal em todas ou na maioria das negociações feitas entre duas partes em conflito. Quanto aos resultados das negociações, elas são absolutamente públicas, e são legítimas pois foram apresentadas a instituições políticas representativas para aprovação. Isto aconteceu quando submetemos os Acordos às instituições legislativas e executivas da OLP, que os discutiu, votou e endossou.
Desde então, aceitamos e respeitamos o direito de qualquer indivíduo, grupo ou facção política a expressar sua objeção aos Acordos de Oslo. Mas não aceitamos e nem aceitaremos qualquer questionamento da legitimidade dos Acordos. De fato, desde a hora em que foram endossados, tornaram-se uma realidade política com a qual continuamos comprometidos.
Falando objetivamente, embora consideremos que Oslo não incorporou tudo o que desejávamos, os Acordos levaram ao estabelecimento da primeira Autoridade Nacional Palestina (ANP) em partes da nossa terra natal. Eles permitiram o retorno de milhares dos nossos da diáspora e do exílio. Eles estabeleceram este Conselho.
Mesmo que Israel tivesse desejado no início que o CLP fosse meramente um conselho administrativo, isento de qualquer representação legislativa ou de conteúdo político, nós o impusemos como um órgão de natureza similar a um parlamento estatal. Nós impusemos eleições como forma de escolher seus membros, e desenvolvemos sua responsabilidade e mandato para chegar ao que chamamos hoje de Lei Básica – nossa constituição temporária até o endosso de uma Constituição permanente para nosso país.
Embora as conquistas no início dos Acordos de Oslo pudessem parecer modestas para alguns – pois a retirada israelense nos primeiros estágios não superava 1%, Israel saiu, em fases subsequentes, de todas as nossas cidades. O processo de paz deveria findar a ocupação de todos os territórios ocupados em 1967, e resolver todas as questões de um status definitivo, conforme os Acordos de Oslo, através de negociações.
Gostaria de recordar como os extremistas se mobilizaram em Israel, levando ao assassinato do primeiro-ministro Rabin, quando ainda estávamos no começo do caminho. Na realidade, esse não foi um mero assassinato político, mas um esforço intencional de interromper o processo de paz que estava avançando com firmeza.
Foi uma tentativa de substitui-lo por um processo diferente, consistindo da negação do parceiro palestino, a imposição de soluções unilaterais baseadas na lógica da força, e a imposição de uma realidade pelas armas, com a continuidade da expansão de assentamentos.
As subsequentes políticas israelenses seguiram um programa e implementaram medidas visando o cancelamento dos Acordos de Oslo. Isto congelou o processo de paz, desatou o extremismo, e destruiu todos os esforços para criar uma nova atmosfera entre os palestinos e os israelenses. Tudo isto pavimentou a estrada para a era do primeiro-ministro Ariel Sharon, que declarou uma batalha aberta contra o povo palestino, e promoveu a destruição sistemática das instituições e infraestruturas da AP.
Durante este período, o muro racista de separação foi construído e as atividades de assentamento foram duplicadas na Cisjordânia. Ele introduziu uma política de punhos de aço contra o povo palestino em todos os lugares, sitiando-os e ao seu presidente até a sua morte.
Gostaria aqui de enfatizar que estamos buscando, com nossos irmãos de todo o mundo, as razões da morte do nosso presidente, do nosso líder Yasser Arafat. Não encerramos este caso. A questão de seu falecimento ficará em aberto até que a verdade surja.
O governo israelense adotou o unilateralismo como substituto a negociações. Gostaria de lembrar que o passo do primeiro-ministro Ariel Sharon para sair de Gaza foi interpretado pelo nosso lado como um procedimento cirúrgico dirigido a cancelar o Road Map. Nós aceitamos o Road Map como uma iniciativa internacional incorporando compromissos palestinos e israelenses a nível de segurança, e compromissos israelenses com respeito à cessação da expansão de assentamentos, à retirada militar; à convocação de uma conferência internacional; ao retorno à mesa de negociações para resolver todas as questões de um status permanente, especialmente refugiados, Jerusalém, assentamentos, fronteiras e água, para chegar ao fim da ocupação, à criação do desejado Estado Palestino e alcançar um paz justa e duradoura.
Gostaria de pedir sua atenção para uma realidade objetiva que caracterizou o período desde o assassinato do premier Rabin: o extremismo israelense teve sucesso em nos sugar para um ciclo vicioso de ações e reações sangrentas, e criou um ambiente no qual a política e a negociação tornaram-se difíceis de implementar para administrar o conflito.
Por outro lado, não podemos ignorar as sérias tentativas, em altos níveis, de por um fim à situação de deterioração como um todo. Isto inclui as cúpulas de Sharm el-Sheikh, de Camp David, e finalmente o Road Map, e a visão do presidente americano George W. Bush do estabelecimento de um Estado Palestino independente, democrático e próspero vivendo lado-a-lado com o Estado de Israel em paz e segurança. Esta foi sem dúvida uma evolução histórica na posição dos EUA.
Neste contexto, e baseado nos mais altos interesses do nosso povo palestino, uma trégua foi conseguida, a qual proporcionou – pela primeira vez – um período sem precedentes de calma de mais de 3 meses. Ele foi seguido no último ano por outro período de calma que nos empenhamos juntos com toda a seriedade para manter, de forma a propiciar um ambiente adequado para iniciar o processo político e voltar à mesa de negociações com base na legitimidade internacional e acordos assinados.
Senhoras e senhores,
Membros do CLP,
Sobre outro assunto, há muita conversa, de forma exagerada, sobre o tamanho da máquina administrativa da AP, e de seu alto custo financeiro. Entretanto, podemos ignorar que as agressões israelenses durante os anos da Intifada deixaram efeitos devastadores sobre nossa situação interna, tanto econômica quanto administrativa? Ela levou a filas de dezenas de milhares de desempregados, que foram proibidos de entrar em Israel. A política israelense de punições coletivas, cercos, checkpoints, destruição de infraestrutura, arrancamento de árvores e muitas outras medidas que transformaram a vida dos palestinos num inferno levou à redução de investimentos do setor privado na Palestina, e à destruição e perda de várias instituições econômicas.
A situação previamente descrita fez com que a ANP tivesse que carregar sozinha este fardo. Tornou-se, dadas essas circunstâncias, responsável por resolver problemas sem fim. O primeiro deles foi a absorção dos desempregados, especialmente os milhares de novos diplomados nas universidades, incapazes de encontrar oportunidades de trabalho em vista da fraqueza do setor privado e sua incapacidade de absorvê-los. Esta questão transformou a ANP, sem considerer suas intenções, no maior empregador. Isto, por necessidade levou a uma grande burocracia, com ministérios e instituições inchadas de servidores civis.
Como todos vocês sabem, esta situação sobrecarregou o orçamento, e nos tornamos crescentemente dependentes de ajuda externa. Aumentou-se assim a demanda do setor público, em termos de salários e outras despesas correntes, num processo que requer que todo governo palestino se mobilize constantemente para assegurar a entrada de fundos dos irmãos árabes e da comunidade internacional.
Embora tenha havido erros e excessos no passado, ainda temos que lembrar as conquistas em termos de construção e reconstrução de instituições em todos os campos, particularmente educação e saúde. Os governos anteriores iniciaram – sob a direção e supervisão do CLP – um processo de reforma abrangente dirigido a corrigir esta situação financeira excepcional através da racionalização do setor público, aliviando o orçamento. Apesar dos desafios, a este processo, especialmente a continuidade das medidas israelenses e a difícil situação econômica resultante, foi registrado progresso considerável. O próximo governo tem – por responsabilidade nacional – de continuar este esforço.
Senhoras e senhores,
De minha posição como presidente eleito da ANP e com presidente da OLP, e baseado no programa pelo qual fui eleito, quero enfatizar o seguinte:
Primeiro, nós, como presidência e governo, iremos continuar compromissados com o processo de negociação como a única escolha política, pragmática e estratégica pela qual colheremos o fruto de nossa luta e sacrifícios de longas décadas. Encontraremos oportunidades práticas caso conduzirmos negociações com sabedoria para atingir os nossos objetivos nacionais que são apoiados por resoluções internacionais.
Como dependemos do processo de negociação como opção política, continuaremos a desenvolver outras formas de luta popular pacífica. Todos nós precisamos continuar ativando e fortalecendo o papel da OLP como o único representante legítimo do nosso povo, para conduzir e supervisionar todos os assuntos relativos ao seu destino, incluindo as negociações com o lado israelense.
Segundo, a obstrução do processo de negociação e sua substituição pela política de punhos de aço, aventuras unilaterais e a continuação do muro de separação, expansão de assentamentos e assassinatos irá levar apenas a maior deterioração, deixando para trás a paz e a estabilidade.
Qualquer um que pense que esse tipo de políticas pode forçar nosso povo a mostrar a bandeira branca e desistir, está enganado. Ele não conhece a realidade deste povo, sua fé, determinação e perseverança em obter todos os seus direitos. Gostaria de enfatizar nossa total rejeição ao unilateralismo.
Conclamo o mundo, ansioso como está por ver paz e estabilidade no Oriente Médio, e especialmente o Quarteto e o governo dos EUA, a iniciar imediatamente esforços sérios no sentido de reativar o processo de negociação. Isto, por sua vez, deve ser realizado com base na legitimidade internacional e na visão do presidente Bush, na Iniciativa Árabe de Paz e nos acordos e entendimentos assinados desde Oslo até o Road Map.
Terceiro, as mudanças internas – ocorridas com as eleições para o Segundo CLP que levaram os membros do Hamas a ter a maioria – não devem ser usadas para justificar maiores agressões contra o nosso povo, ou como pretexto para chantageá-lo. O povo palestino não deve ser punido por sua escolha democrática que foi expressada através das urnas. A liderança deste povo e eu, pessoalmente, rejeitamos esta chantagem. Peço a todos que a abandonem.
Quarto, o processo de reforma dentro da ANP não pode parar. Continuarei a patrocinar todas as iniciativas de reforma, sejam promovidas pelo judiciário palestino, como implementação de decisões da parte de vocês, ou quaisquer novas iniciativas na mesma direção.
Estou determinado a executar o meu programa, para cujo mandato fui eleito, e a aplicar meus melhores recursos para chegar a uma Autoridade estável, unificada, forte e eficaz que proporcione segurança a todos os seus cidadãos. Uma Autoridade que tenha a capacidade de manter seus compromissos e proteger os interesses de seu povo. Uma Autoridade que respeite a lei, e se comprometa a implementá-la. Uma Autoridade cujas instituições estejam comprometidas com a separação de poderes, particularmente em termos de fortalecimento do judiciário, a imposição da lei para todos, com uma única e legítima arma e com um sistema pluralista. Uma Autoridade que lance as fundações para o estabelecimento de nosso Estado Palestino independente com Jerusalém como capital.
Esperamos ver este Estado como uma adição de qualidade à lista dos países da região. Um acréscimo que realize seus compromissos de maneira confiável, e que goze seus direitos baseados na justiça.
Não queremos mais do que nos cabe pela lei internacional. Como fizemos eleições livres e transparentes, almejamos ver um governo que encare os desafios e desempenhe eficientemente suas tarefas. Falando de nosso governo, gostaria de recordar aos membros deste CLP – e membros do futuro governo – da necessidade de respeitar todos os acordos assinados, e de trabalhar em conformidade com o interesse nacional para acabar com o caos das armas. Como todos atualmente estão participando na estrutura de uma autoridade nacional com todas suas instituições, todos devem honrar a existência de uma única arma, a arma da legitimidade.
Quinto, Gostaria de reiterar um fato que sempre foi o escudo protetor de nossa revolução, da OLP e da ANP. Não seremos levados a qualquer eixo de qualquer sorte. Como palestinos, somos orgulhosos de nossa profunda identidade árabe e muçulmana, somos orgulhosos de nosso papel de união e unificação como tais, assim como somos orgulhosos de todos os que estão conosco, pelos nossos direitos, pela justiça de nossa causa, respeitando nossa decisão nacional independente.
Senhores e senhoras,
Permitam que me refira a um dos mais importantes aspectos de nossa experiência dentro da AP, a segurança. Como a experiência dos últimos dez anos mostrou, nosso desempenho em segurança é a coluna vertebral da qual depende o futuro do nosso projeto nacional. Segurança significa assegurar os cidadãos de toda a comunidade, assegurar a vida em todos os seus aspectos.
Significa a segurança de todos aqueles que vivem em nossa terra, e a implementação de nossos compromissos internacionais. Temos todos a responsabilidade de enfrentar os aspectos do caos que reina em algumas de nossas cidades, como saques, ataques armados, sequestros de nossos amigos estrangeiros e irmãos árabes que vivem em nossa terra, e que estão entre nós para oferecer apoio e cooperação.
Não permitirei, e o governo tampouco deve permitir, a continuação deste fenômeno desgraçado. Medidas firmes e eficazes devem ser tomadas para por um fim nisto. Nenhuma pessoa irresponsável poderá manipular os mais altos ideais para justificar os mais deploráveis ataques contra cidadãos e sua propriedade ou contra visitantes e missões diplomáticas.
Conseguir segurança exige dar ao establishment de segurança toda a atenção que ele precisa para capacitá-lo a cumprir seu papel, incluindo equipamento e treinamento. O lado israelense, junto aos membros do Quarteto, deve facilitar o fornecimento de armas e equipamento para as forças de segurança. É também importante continuar o processo de reestruturar as forças em conformidade com a Lei Básica. Neste contexto, trabalharemos de maneira séria e determinada para ativar o trabalho do Conselho de Segurança Nacional, de forma que possa desempenhar seu papel em traçar as políticas de segurança e dirigir o trabalho das forças de segurança.
Senhores e senhoras,
Membros do CLP,
As tarefas e encargos são muitos. O setor de educação requer um rápido desenvolvimento, construção de escolas, instituições e universidades que sejam capazes de nos manter com progresso intelectual e social.
A educação moderna – baseada nas demandas de desenvolvimento, da necessidade de se abrir ao mundo, no princípio de livre pensamento e criatividade, e no ethos de resistir ao chauvinismo – é a válvula de segurança para criar novas gerações. É necessária para criar uma atmosfera saudável que contribua para o desenvolvimento, progresso e modernização da nossa sociedade e do nosso povo. Adicionalmente, há outros setores: saúde, economia, indústria, agricultura, comércio, cuiltura, esportes, turismo, e meio-ambiente, todos os quais requerendo continuação e desenvolvimento do que queremos na direção da criação de uma sociedade livre e avançada e de um palestino novo, com esperança no futuro. Além disto, é necessário cuidar dos deficientes físicos e feridos, famílias de mártires e prisioneiros, jovens desempregados e famílias pobres. Não podemos esquecer que a grande maioria da nossa gente está vivendo abaixo da linha de pobreza.
Construir um Estado e uma sociedade que se qualifique como moderna e progressista exige de todos nós que protejamos as conquistas obtidas pelas mulheres na sociedade palestina, e que impeçamos qualquer diminuição de seu papel. A mulher palestina lutou, resistiu à ocupação, e fincou pé em suas terras ao lado dos homens. Ela foi uma igual ao homem no martírio e na prisão, e deve ser igual a ele em todos os direitos, tal qual foi igual em todos os deveres.
Eu gostaria de enfatizar a necessidade de proteger as liberdades públicas e individuais de acordo com a lei. Elas não podem ser solapadas sob qualquer pretexto. Isto inclui a liberdade de expressão, credo, e outras liberdades, incluindo a liberdade de instituições da sociedade civil.
Outro assunto que eu gostaria de lembrar-lhes refere-se ao tecido social e nacional do nosso povo palestino. Muçulmanos e cristãos da Palestina são cidadãos iguais diante da lei. Estamos comprometidos a conceder, proteger e cuidar de todos os templos muçulmanos e cristãos. Não permitiremos a qualquer grupo iniciar distúrbios étnicos. A Palestina é o berço das religiões monoteístas: é a terra de Al Aqsa, e a terra da Igreja da Natividade e do Santo Sepulcro.
Isto me leva à questão de Jerusalém, o coração vivo da Palestina. Gostaria de afirmar diante de vocês, e diante do mundo inteiro, especialmente os israelenses, que as atuais medidas tomadas para isolar a cidade, expulsar seus cidadãos no que é uma forma de limpeza étnica de palestinos, sejam cristãos ou muçulmanos, e a insistência em judaizar a cidade, ao lado de outras medidas israelenses que contradizem a lei internacional, não serão legítimas, e não serão aceitas por qualquer cidadão palestino.
A obstinação israelense com respeito a Jerusalém e seu futuro irá impedir o alcance de nosso desejado objetivo, o de uma paz justa entre os Estados da Palestina e Israel.
Eu percebo, assim como vocês, a extensão dos perigos que ameaçam a cidade de Jerusalém e seus moradores. Insto os mundos muçulmano e árabe e o mundo cristão a dar uma mão aos palestinos de Jerusalém, para propiciar meios de subsistência para que eles continuem lá. Faremos o máximo para dar ao nosso povo os meios para se manter em Jerusalém.
Senhoras e Senhores,
Em seu nome, eu gostaria de apresentar minhas saudações, meu apreço e gratidão a todos os nossos irmãos nos países árabes, aos nossos irmãos no mundo muçulmano, e aos nossos amigos no mundo inteiro, povos e governos, por seu apoio, ajuda, e reconhecimento do nosso povo palestino.
Dirijo-me pessoalmente aos israelenses, especialmente ao estarem às vésperas de eleições parlamentares. Eu garanto a eles que o caminho da segurança só pode passar através de uma paz justa. Estamos seguros de que não existe uma solução militar para o conflito. Negociações entre nós, como parceiros iguais, devem colocar um fim, há muito devido, ao ciclo de violência.
Digo a eles com toda a honestidade e clareza que a continuação da ocupação e da expansão de assentamentos – inclusive seu último ataque alvejando a região do Vale do Jordão para isolá-lo do restante das terras palestinas na Cisjordânia – que checkpoints, assassinatos arbitrários, o muro de separação, e prisões, apenas irão levar a ódio, desesperança e mais conflito.
Façamos juntos a paz hoje, antes do amanhã. Vamos viver em dois Estados vizinhos. Vamos educar nossos filhos com a cultura da vida, não a cultura da morte. Ensinemos a eles que homem livre é aquele que defende a liberdade do outro e quem ama Deus, ama a Humanidade.
Gostaria de ressaltar, em particular, que a era de soluções unilaterais acabou. Tentar determinar o futuro do nosso povo através de cantonização, reservas, rasgando a Cisjordânia, usurpando terras no Vale do Jordão, e consolidando blocos de assentamentos, irá fechar a janela para uma solução entre nós.
Existe um parceiro palestino que está pronto para sentar numa mesa de negociações com um parceiro israelense de forma a chegar a uma solução que seja baseada na legitimidade internacional, na Iniciativa Árabe de Paz e no Road Map. Uma solução que seja baseada no respeito a todos os acordos e compromissos anteriores.
Desejamos uma solução justa que garanta uma paz completa, não uma solução unilateral, parcial ou temporária que matará a chance para paz, nem um Estado com fronteiras provisórias.
Estamos aguardando que o governo israelense determine sua direção e tome sua decisão neste respeito. Estamos decididos e completamente dispostos a iniciar imediatamente negociações para um status permanente.
Asseguro ao mundo que acreditamos fortemente que a justiça prevalece sobre a força. Teremos a mesma perseverança na busca dos nossos direitos e no desejo por paz. O mundo todo deve assumir a responsabilidade por transformar este sonho em realidade…
Paz na Terra Santa … Paz na terra da Paz!
Muito obrigado.