Uma das mais antigas cidades habitadas continuamente no mundo, Hebron vem sendo foco de reverência religiosa e disputa há mais de 2000 anos, com cada religião dominante em sua época reclamando a Tumba de Abraão para si mesma.
A cidade já foi palco de sangrentos massacres de judeus por árabes, e de árabes por judeus.
Os colonos de Hebron partilham, em geral, das ideologias mais extremistas do movimento de colonos. Suas fileiras incluem líderes e ativistas afiliados aos proscritos movimentos Kach e Kahane Chai.
Sentimentos racistas e fanaticamente anti-palestinos, anti-muçulmanos e anti-árabes são onipresentes em Hebron, pixados em hebraico sobre muros e portas de propriedades palestinas.
RELATÓRIO PAZ AGORA – HEBRON
Qual a diferença de Hebron em relação a outras cidades da Cisjordânia, com respeito a assentamentos?
Hebron é a única cidade palestina que tem colonos israelenses vivendo no coração de sua área urbana, lado-a-lado com palestinos.
Quantos colonos há em Hebron?
Entre 350 e 400 colonos, além de uns 200 estudantes de yeshivá (escola rabínica) vivem no coração de Hebron. Esses colonos são, para os propósitos do Bureau Central de Estatísticas de Israel, considerados como parte da população do assentamento de Kiriat Arba, situado a poucas centenas de metros do centro de Hebron, cuja população ao final de 2004 era de 6.651 colonos (incluindo os do centro da cidade).
A população de colonos de Hebron está aumentando?
A taxa anual de crescimento para a população – combinada dos colonos de Hebron e Kiriat Arba – foi de 0,7% entre 2003 e 2004. O crescimento anual médio desde 1999 foi de 1,2%.
Quantos palestinos vivem em Hebron?Conforme o Bureau Central de Estatísticas palestino, a cidade abrigava cerca de 160 mil palestinos ao fim de 2004.
Quantos assentamentos existem em Hebron?
No final de 2002, um plano para construir uma “passarela” para colonos ligando Kiriat Arba ao centro da cidade – aprovado pelo primeiro-ministro Ariel Sharon após um ataque terrorista na área – foi engavetado após gerar controvérsia dentro de Israel e oposição veemente dos EUA.
Qual o significado religioso de Hebron?
Acredita-se (religiosos judeus, muçulmanos e cristãos) que Hebron seja o local da tumba do patriarca bíblico Abraão (junto aos outros patriarcas e matriarcas Isaac, Jacó, Sara, Rebeca e Lea). Como Abraão tem um papel central nas crenças judaica e muçulmana, e posição importante na fé cristã – as três religiões são às vezes referidas como as “religiões abraãmicas” – a cidade tem uma enorme importância para todas elas.
Os nomes da cidade – Hevron em hebraico e al-Khalil em árabe, derivam, em ambos os casos, da palavra “amigo”, com referência a Abraão.
Uma das mais antigas cidades habitadas continuamente no mundo, Hebron vem sendo foco de reverência religiosa há mais de 2000 anos, com cada religião dominante em sua época reclamando a Tumba de Abraão para si mesma.
O muro original em torno da caverna, onde se supõem estarem localizadas as tumbas de Abraão e outros patriarcas e matriarcas bíblicos, foi construído por Herodes, o Grande (século I a.C.) Uma igreja foi construída mais tarde, durante o período bizantino (séc. VI d.C.). Esta foi convertida numa mesquita após a conquista árabe da região (VII d.C).
A mesquita foi convertida novamente em igreja pelos cruzados (XII d.c), e reconvertida em mesquita novamente pelos mamelucos turcos (XIII d.C). Embora Israel venha mantendo o controle de toda a cidade desde 1967, quando a tomou da Jordânia, o controle da “Gruta da Machpelá” (assim como o complexo do Monte do Templo/Esplanada das Mesquitas em Jerusalém) foi mantido em mãos de autoridades religiosas islâmicas (o Waqf). Judeus e muçulmanos têm entradas separadas para o local e oram em áreas distintas. Em grandes feriados religiosos judeus, o local todo é aberto exclusivamente para religiosos judeus, e nos grandes feriados muçulmanos apenas para o culto islâmico.
Por que Hebron tem importância especial para os colonos?
Além de sua conexão religiosa, Hebron tem importância especial por ter sido sede de uma comunidade judaica vibrante até 1929, quando foi arrasada por um pogrom. Com relação ao massacre de 1929, o Human Rights Watch escreve:
“Em 23 de agosto de 1929, em meio a revoltas anti-judaicas em boa parte da Palestina, 67 moradores judeus foram brutalmente assassinados por árabes palestinos, e algumas vítimas violentadas, torturadas e mutiladas”.
Alguns árabes palestinos deram abrigo a vizinhos judeus. Hoje o Arquivo Sionista mantém uma lista de 435 judeus que encontraram um refúgio seguro em 28 casas de árabes palestinos em Hebron durante a carnificina.
Os moradores judeus deixaram Hebron nos anos que se seguiram ao massacre de 1929, e hoje para os colonos israelenses a cidade tem um forte valor simbólico. Em novembro de 2000, via-se um grande cartaz próximo ao mercado palestino junto ao assentamento Avraham Avinu no centro de Hebron dizendo: “Este mercado foi construído sobre propriedade judaica, roubada por árabes após o massacre de 1929”.
Quando e como foram criados os assentamentos em Hebron ?
Hebron foi o segundo alvo dos colonos israelenses após a Guerra de 1967 (logo após Kfar Etzion – comunidade judaica que havia sido arrasada pelos árabes na guerra da Independência). Os primeiros chegaram à cidade em abril de 1968, como é narrado no website dos colonos:
“PROCURA-SE: Famílias ou solteiros para recolonizaram a cidade velha de Hebron. Para detalhes, contacte o Rabino M. Levinger”
O anúncio de jornal capturou a atenção de muitos israelenses em 1968… O rabino Levinger e um grupo de indivíduos de pensamento semelhante determinaram que havia chegado a hora de voltar para casa no recém-libertado coração de Eretz Israel [a Terra de Israel]. Como primeiro objetivo, decidiram renovar a presença judaica na cidade mais antiga do povo judeu, Hebron… Meta inicial: passar o Pessach [Páscoa] no Hotel Park de Hebron.
Os proprietários árabes do hotel passaram por tempos difíceis. Por anos haviam servido à aristocracia jordaniana que vinha regularmente gozar o ar fresco e seco da região. A Guerra dos 6 Dias forçou os turistas a mudar seus planos de viagem. Assim, os proprietários ficaram maravilhados em aceitar o envelope cheio de dinheiro que o rabino Levinger colocou no balcão da recepção. Em troca, concordaram em alugar o hotel para uma quantidade ilimitada de pessoas e por tempo indeterminado. Na manhã da véspera de Pessach em abril de 1968, a família Levinger, com outras de várias partes de Israel fizeram suas malas e 88 pessoas celebraram naquela noite o Seder de Pessach no coração de Hebron…
Dois dias depois, o rabino Levinger anunciou à mídia que o grupo pretendia permanecer em Hebron… O ministro da defesa Moshe Dayan estava ansioso por remover os pioneiros do hotel. Sugeriu que mudassem para um complexo militar que tinha vista para a cidade. Seguiu-se um quente debate. Havia os que sentiam que tal mudança para o complexo iria efetivamente estrangular o projeto. Outros viram na sugestão de Dayan um reconhecimento oficial, de fato, do seu objetivo.
Seis semanas após, os pioneiros mudaram para o complexo militar [que hoje é o assentamento de Kiriat Arba]. O rabino Levinger insistiu em acomodações para 120 pessoas, ainda que àquele tempo eles tivessem menos da metade disso. O rabino foi acusado de ser um sonhador irrealista. Em poucas semanas, porém, ele se provou correto. Os 120 lugares no complexo militar já não podiam acomodar as centenas de pessoas que queriam participar da renovação da vida judaica em Hebron, cidade dos Patriarcas. “Nós recebemos Eretz Israel numa bandeja de prata em 1967′, explicou Miriam Levinger…”