A recente declaração do premier israelense Ariel Sharon, de que iria suspender a cooperação israelense com as eleições parlamentares em janeiro, caso candidatos do Hamas participarem contrasta com a própria experiência que ele teve com a influência moderadora que a responsabilidade pública pode exercer sobre visões extremistas.
Quando procurava explicar o seu giro de 180 graus, ao partir da posição de forte defensor de assentamentos israelenses em Gaza para se tornar a força motriz de sua evacuação, Sharon observou repetidamente que ‘o que você vê daqui [do gabinete do primeiro-ministro], não se pode ver daí. Em outras palavras, só foi quando obteve o cargo de maior responsabilidade em Israel que Sharon começou a reconhecer a ameaça que os assentamentos em Gaza representavam para o Estado.
Não existe equivalência entre os horríveis atos terroristas que o Hamas tem infligido sobre israelenses e a paixão de Sharon pela expansão de assentamentos, mas é claro que o presidente palestino Mahmoud Abbas está tentando dominar a sua oposição islâmica através de um processo de ‘sharonização’ (ou seja, cooptando os militantes ao estimulá-los a concorrer a cargos públicos e a assumir responsabilidades governamentais, na esperança de que este processo conduza à sua moderação).
Num mundo ideal, Abbas decidiria por cercar os terroristas palestinos, dar ordens ao seu ministro do Interior, e aí ficar sentado esperando que os bandidos fossem postos na prisão ou mortos ao resistir a ela. Mas não vivemos num mundo ideal. Embora Abbas deplore o terrorismo, ele deseja evitar uma guerra civil palestina. E mesmo que estivesse disposto a iniciar uma, um Abbas que ainda está lutando para controlar os acontecimentos dificilmente terá uma vitória das tropas à sua disposição.
Além disto, se derrotar os terroristas palestinos apenas pela força fosse assim tão fácil, Israel já o teria feito há muito tempo. As forças militares de Israel foiram vigorosamente aplicadas nos territórios ocupados por quase 40 anos. Conseguiu algumas impressionantes vitórias táticas. Mas não teve sucesso em eliminar as bases do terror. O Hamas e seus seguidores ainda estão na ativa, e é por isto que Sharon está ocupado estimulando Abbas em combatê-los.
Abbas merece uma chance de ver se seu jeito funciona melhor, além de que deve estar preparado para, após as eleições legislativas palestinas, enfrentar pela força os indivíduos que continuem engajados no terror. É do interesse de Israel ver um Abbas fortalecido com auxílio econômico e encorajado a realizar reformas internas, assim como assegurar que as forças de segurança palestinas leais a ele se fortaleçam de forma a capacitá-lo a cumprir suas tarefas.
Também é do interesse de Israel assegurar que as próximas eleições palestinas ocorram da forma mais tranqüila possível. Com sua saída de Gaza, Israel não poderá mais impedir as competições naquela região. Mas pode decidir – como Sharon já afirmou – torná-la impossível para os palestinos da Cisjordânia.
Se tais impedimentos forem colocados pelos israelenses, será esvaziada toda a legitimidade de qualquer vitória que os candidatos nacionalistas seculares possam obter sobre os candidatos do Hamas, dando força assim à posição dos próprios terroristas que Israel busca enfraquecer. E também será rompida a calma que permitiu a Israel sair em calma de Gaza.
Se o governo Bush não foi entusiástico a respeito das idéias de Sharon sobre as eleições palestinas, é porque a própria Casa Branca tem buscado a ‘sharonização’ dos militantes armados que operam em áreas sob controle americano no Iraque. Lá, as milícias curdas e xiitas não foram forçadas a se dissolver, e isto não tem impedido que representantes desses grupos concorressem em eleições e conquistassem posições de destaque no atual governo.
Os candidatos do Hamas se saíram bem nas duas rodadas anteriores de eleições municipais. Acabaram descobrindo ser necessário trabalhar com israelenses a nível local para tratar de assuntos mundanos como esgoto e água. E seus interlocutores israelenses se dispuseram a falar com eles. Este tipo de contato prático está muito longe de ter como resultado imediato ver terroristas depondo suas armas, mas talvez aponte para uma forma de avanço.
O governo Bush deve estimular Sharon a deixar Abbas verificar se pode reproduzir este processo no nível nacional da política palestina. Se ele tiver sucesso, Israel estará mais seguro e a sociedade palestina mais estável. E caso ele fracasse, Israel ainda terá uma ampla força militar com a qual contar.
Debra DeLee é presidente da APN – Americans for Peace Now – www.peacenow.org.
[ publicado no AMIN – Arab Media Internet Network e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]