O cachorro, os judeus, os antissemitas e a caravana

Não poucas lembranças da minha infância transcorrida em Buenos Aires, Argentina, estão pintadas com a frase: Haga pátria, mate um judío. Eram tempos nos quais um peronismo filo nazista imperava soberano na rainha do Prata.

Não poucas paredes e não menos portões da minha vida estão pichados com homilias e consignas de desprezo à fé mosaica e de ódio ao deus dos judeus, desprezo e ódio exercidos e praticados sempre em nome de outra fé e de outro deus.

Não pouco espaço da minha memória está impregnado do eco de frases do tipo “…para que aprenda, seu judeu filho da puta!…” ou “…vou te ensinar, judeuzinho de merda!…”, que alguns torturadores pronunciavam no seu empenho de “salvar a gloriosa pátria dos malditos comunistas, dos maçons de merda e dos judeus assassinos de Cristo”, enquanto grudavam os fios elétricos nas partes sensíveis do meu corpo.

Não poucas vezes na História os canalhas escreveram o seu ódio com sangue inocente sobre a pele e a memória do povo judeu: a Inquisição, os pogroms, o Holocausto, a profanação dos cemitérios, a queima de livros sagrados, o incêndio de sinagogas, o neonazismo que hoje galopa livremente em não poucos países da Europa, são poucos porém “bons” exemplos.

E, entretanto, e a pesar de tudo isso, e também por causa disso, é bom que se saiba que os judeus continuamos morando dentro das quatro paredes das nossas casas, e que as feridas próprias ou herdadas do passado, não só doem, mas também e principalmente servem de lembrete, lição e couraça, e que assim será pelos séculos dos séculos.

Os antissemitas ladram enquanto os judeus passam. E passam. E passam. E passam. E passam. E passarão. E passarão. E passaremos. E passaremos. E passaremos. E passaremos. E passaremos. E passaremos. E passaremos.

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