Resulta no mínimo paradoxal – mais parecendo um sintoma de uma doença chamada fanatismo – o fato de que certos judeus, claramente definidos pela sua ideologia maximalista e intolerante, pulem histericamente cada vez que publico as minhas opiniões sobre os afazeres acontecidos no Estado de Israel e/ou quando apresento o meu ponto de vista sobre o conflito Israel/Palestina.
Não economizam acusações, insultos e/ou epítetos indignos, e o mais curioso de tudo é que o que penso e digo reflete a mesma linha ideológica do movimento PAZ AGORA, do partido político Méretz, das organizações judaicas de direitos humanos, de parte importante do partido socialista Avodá (de Peres e Rabin), e dos milhões de judeus progressistas de toda a diáspora. Nenhuma das minhas idéias colide com as deles, mas muito pelo contrário.
Apesar do que esses judeus fanáticos gostam de divulgar, posso ser considerado tudo menos extremista. O que sim, a verdade é que não me falta certa dose de capacidade de “saber dizer”, chamando as coisas pelo seu verdadeiro nome. Talvez seja isso o que mais lhes incomoda.
Sempre que tenho oportunidade, convido a todos esses porta-estandartes do Grande Israel, que nunca existiu nem jamais existirá, a que provem que alguma das minhas opiniões vai de encontro aos princípios fundamentais que servem de base jurídica e ética ao Estado de Israel e/ou aos princípios fundamentais de PAZ AGORA, ou de Méretz, ou de todos aqueles que propuseram e viabilizaram os Acordos de Genebra, ou dos dizeres de Daniel Baremboim ou Uri Avnery ou Iossi Beilin ou Shlomo Ben-Amí, ou das muitas figuras do mundo da política ou da cultura de Israel que divulgam dioturnamente suas opiniões pelos microfones da rádio israelense (reshet bet – kol Israel), manifestando exatamente o mesmo que eu.
Não é difícil para quem lê o que escrevo sobre o conflito, constatar que não sou fanático nem muito menos parcial, mas que pelo contrário, combato o fanatismo e a parcialidade do próximo com a única arma que disponho: a palavra. O que acontece é que algumas vezes, ao argumentar contra o fanatismo dessa gente, caio na tentação de empregar o mesmo tom ríspido deles, e faço isso para não ser “atropelado” pelos seus gritos histéricos. É bom lembrar que nos debates de natureza política e/ou ideológica o que vale é o conteúdo da mensagem e não o continente do discurso.
Vejamos alguns exemplos que refletem o dito anteriormente:
(Atenção Atenção!:O PAZ AGORA é um movimento popular independente israelense no qual participei durante a segunda metade dos anos 70 e primeiros dos 80, quando vivi em Israel. O que, sim, ainda que a afinidade seja enorme, e que continue identificando-me com o seu programa, é proibido esquecer que não falei naquela época, não falo agora, e não falarei amanhã, em nome desse movimento, porque não sou quem pode fazê-lo, já que não faço parte dos seus quadros dirigentes. O que sim faço, é mostrar a similitude no ideário, que se reflete meridianamente nos muitos artigos da minha autoria publicados em diferentes “sites” dos Amigos de PAZ AGORA no mundo).
O PAZ AGORA declara – e eu também – que o “gadér” (ou cerca de arame) de separação atualmente em construção, é um direito de Israel, desde que o seu traçado respeite as fronteiras reconhecidas do Estado, e não como se está fazendo atualmente, anexando de fato mas não de Direito, território e povo palestino.
O PAZ AGORA pede, nos seus discursos, artigos jornalísticos e manifestações multitudinárias – e eu também – que se restrinja totalmente a selvagem atuação dos fundamentalistas judeus que campeiam soltos pelas terras ocupadas, e que se desarme a todos os assentados além das fronteiras do Estado de Israel, para assim minimizar o possível impacto de um anunciado “mered” (rebelião) desses grupos terroristas judeus, muitos dos quais já manifestaram publicamente sua disposição de usarem as armas contra o exército de Israel, e não poucos dos muitos rabinos que os comandam e dominam através de “pisquei din torá” (“sentenças” que obrigam a todos os discípulos) incendiárias, continuam pedindo aos soldados de Israel que se rendam a eles e deponham as armas para não cumprir as ordens emanadas da superioridade hierárquica. Nos últimos dias aprece com destaque nos jornais israelenses, a notícia de que também oferecem mil dólares a cada soldado que se recuse a despejar os assentados, descumprindo a ordem do governo.
O PAZ AGORA não condiciona – e eu tampouco – a retirada israelense dos territórios a qualquer gesto vindo da outra parte, já que como eu, sabe que as minorias existentes em ambos lados encarregar-se-ão de tentar torpedear qualquer promessa que não lhes agrade, e como eu, também considera que não se deve deixar nas mãos dessas minorias a última palavra.
O PAZ AGORA é um movimento que defende – e eu também –o que considera sejam os interesses básicos do Estado de Israel: Liberdade (que hoje está bastante recortada); Democracia (que hoje sofre limitações que o medo bem manipulado desde as instâncias governamentais mantém latente), e a não interferência do estrato religioso na administração do Estado.
O PAZ AGORA propõe – e eu também – a criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
O PAZ AGORA advoga – e eu também – pela concórdia entre irmãos, e esta só será possível se deus ficar restrito às sinagogas e à fé de cada um, e as promessas divinas confinadas no âmbito da memória.
O PAZ AGORA defende – e eu também – a tese de que território e soberania são assuntos humanos e não divinos.
Termino, mencionando o fato de que soam absurdas as acusações de extremismo ou, pior ainda, de pró palestinismo, com que me presenteiam alguns desafetos, já que o meu discurso é tão pró palestino como pró israelense, já que o único que realmente me interessa é a paz entre ambos povos, e não a vitória de uns sobre outros, que é o que no fundo e na forma interessa aos fanáticos de ambos bandos.
Existem os extremistas/maximalistas judeus, situados bem à direita do espectro político e religioso, que se negam a renunciar ao sonho (para eles, porque para o resto é um verdadeiro pesadelo) do Israel bíblico (melhor seria defini-lo como o Israel dos contos das Mil e Uma Noites), e os extremistas palestinos antissemitas, que se negam a renunciar ao sonho (tão pesadelo como o outro) da destruição de Israel e do estabelecimento de um Estado palestino em todos os territórios anteriores à partilha da Palestina pelas Nações Unidas.
Tanto eu, quanto todos os movimentos e partidos antes mencionados, estamos situados bem no meio, construindo pontes, e não bombardeando-as desde um F-18 em nome do deus dos judeus, ou fazendo-as voar pelos ares ao grito de “Alá uakhbár”
Sou judeu por nascimento; sionista por opção, humanista e progressista, por ser judeu e sionista. Levo nos meus genes a mensagem de todos os meus mortos, e na mochila da vida a lição de todos os mortos do povo judeu.
Quero um Estado de Israel que não seja grande, mas que seja nosso; que não seja bíblico, mas que seja a casa de oração para aqueles que assim o desejarem; que não seja um quartel, mas que seja forte; que não seja um cemitério, mas que jamais esqueçamos àqueles que caíram para construí-lo e defendê-lo.
[ © Bruno Kampel – http;//shalomshalom.blogger.com.br ]
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