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04/04/2005
Qual É o Preço da Inclusão? |
por Gassan Khatib |
Muitos políticos e analistas palestinos estão otimistas de que a organização Hamas, a ala militar da tradicional Fraternidade Muçulmana, esteja disposta a ser integrada no sistema político. Os pontos de vista variam, porém, acerca do preço que pode ser cobrado por isto, e qual o peso político que o Hamas virá a ter dentro do sistema.
A inclusão de partidos políticos islâmicos no mundo árabe tem sido controversa desde que as eleições argelinas foram canceladas no último minuto, quando ficou claro para quase todos que o movimento islâmico iria vencer. Embora isto tenha sido claramente antidemocrático, há sempre um ponto de interrogação sobre se os islamitas que tomam o poder por meios democráticos são comprometidos em manter a democracia parlamentar, ou a mudar o sistema para um regime islâmico com uma proposta diferente.
Esse debate tem sido particularmente acirrado nos últimos anos e tem incluído importantes pensadores de dentro dos movimentos islâmicos. A conclusão foi que se os movimentos islâmicos querem jogar o jogo democrático, devem fazê-lo adequadamente. Em outras palavras, eles têm que aceitar que a democracia deve alternar o poder entre eles e outros.
No contexto palestino, pesquisas de opinião pública indicam que o Hamas deve obter significativa minoria nas eleições parlamentares. Isto está tentando muitos palestinos, incluindo aqueles no poder, a fazer aberturas na direção do Hamas e de outros grupos fundamentalistas, para que façam parte do sistema com uma parte na responsabilidade pela tomada de decisões, porque, na medida em que são uma minoria, isto os forçará a respeitar a vontade da maioria.
É possível que o Hamas, que até aqui mantém uma porção ideológica fundamentalista e politicamente extremista, vá se tornar um movimento pragmático, caso tenha a chance de participar da política oficial, local, regional e internacionalmente.
A retórica do Hamas agora relembra muito da retórica da Fatah quando esta era tratada pelos poderes legítimos como um grupo terrorista ilegal. A Fatah trabalhou com sucesso sua mudança. Foi reconhecida e incluída no sistema em troca de fazer política dentro dos parâmetros da legalidade internacional.
É possível que o Hamas deseje seguir a mesma trilha. A questão, porém, é se desta vez a transformação também permitirá ao Hamas se transformar num fator determinante na política oficial. Em outraspalavras, seria o preço no qual o Hamas insiste apenas para sua inclusão no sistema político, ou ele exigirá um papel de liderança dentro do sistema, tal qual a Fatah obtivera.
É também importante lembrar que existe uma significativa diferença entre o Hamas de agora e a Fatah de então, ou seja, a antiga atitude ideológica fundamentalista e o extremismo político. Muitos setores da sociedade palestina estão perturbados pela idéia da dominação do Hamas por causa de questões que estão para além da política e tocam no social e ideológico. Estes setores insistem que o problema real não é o de encorajar o Hamas a participar do sistema, mas qual o preço que essa inclusão custará.
De forma geral, parece haver pouca dúvida de que, se o Hamas aceitar ser parte de um sistema político pluralista e submeter-se às regras da democracia que incluem aderência à Constituição, assim assegurando eleições regulares e alternância do poder, este seria um resultado útil para todos na Palestina e fora dela.
Mas um resultado que apenas substitua uma tendência política dominante por outra, não irá melhorar a situação interna palestina ou avançar o processo de democratização e reforma.
GHASSAN KHATIB é co-editor da bitterlemons.org, dabitterlemons-international.org e dabitterlemons-dialogue.org. É Ministro do Planejamento da Autoridade Palestina, da qual foi Ministro do Trabalho, tendo sido analista político e contato de mídia por muitos anos.
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