n234
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14/04/2005
O QUE SIGNIFICA VIÁVEL ?
O Único Problema de Viabilidade é a Vontade Nacional |
por Yossi Alpher |
Viabilidade é uma palavra que tem sido muito mal usada. Se todos os países que não são, ou não eram, viáveis aos olhos de algum importante ator externo fossem eliminadoso mundo poderia ser muito mais pobre.
Vamos começar por nós mesmos, Israel, que para os ingleses que saíram em 1948 seria incapaz de absorver mais de 100 mil refugiados judeus imigrantes sem entrar em colapso, e que requereria uma injeção anual de bilhões de dólares dos EUA e da comunidade judaica mundial para se desenvolver e se proteger. Viável?
No vizinho Egito, talvez mais antiga nação com 7.000 anos, um ministro da área econômica disse há 20 anos para israelenses que tudo que ele poderia almejar era manter o nível de pobreza e miséria abaixo do limite de segurança. Alguns dos imensamente ricos emirados árabes do golfo, onde dois terços da população são trabalhadores apátridas, às vezes parecem bem menos viáveis.
Na África, muitos Estados são freqüentemente citados como inviáveis, por serem criações coloniais cujas fronteiras acabam cruzando linhas tribais que caso contrário teriam se desenvolvido como nações viáveis. Mas ó único país étnica e linguisticamente uniforma da África Negra, o que deveria ser o mais viável, a Somália, é o mais miserável de todos.
Então precisamos ser muito cuidadosos ao discutirmos a viabilidade de outra nação.
Alguns detratores dizem que a Palestina, seja qual for a configuração final de fronteiras, é fadada a ser inviável, porque é superpopulosa, privada de recursos naturais, cindida por tensões internas, não tem coesão nacional e cidadania, e será não contígüa. Mas o único desses critérios que nunca foi aplicado a países prósperos e relativamente estáveis como Singapura e, sim, Israel, é o problema da contigüidade.
A falta de contigüidade territorial é realmente um impedimento potencial à viabilidade nacional palestina. Mesmo se as fronteiras forem no final configuradas para proporcionar uma contigüidade razoável entre o norte e o sul da Cisjordânia, a Faixa de Gaza ainda ficará separada do resto da Palestina por quarenta e poucos quilômetros de território israelense.
Uma falta de contigüidade territorial se provou desastrosa para o Paquistão/Bangladesh pré-1971. Apenas os EUA, com Estados muito afastados no Alaska e Hawaí, parecem ser capazes de se dar este luxo.
Mas 40 km é uma distância facilmente transponível no século XXI: por rodovia, ferrovia, tubulações de água e óleo. Em condições de paz e estabilidade, a Palestina não-contígua parece problemática, mas administrável.
Isto significa que o futuro Estado da Palestina pode ser viável se quiser ser; se tiver o desejo nacional. Este é o verdadeiro desafio da viabilidade palestina.
A Palestina tem uma das mais bem-educadas cidadanias do mundo árabe. Ela pode suprir em recursos humanos tudo que lhe falta em riquezas naturais. O teste real de sua viabilidade é se terá o desejo coletivo de viver em paz com Israel; de optar por uma coexistência pragmática em vez de insistir em exigências, como o direito de retorno, que se baseia numa narrativa e numa definição de justiça unilaterais, que são totalmente incompatíveis com a existência de Israel; parar de barganhar sobre aquele 1% a mais de território antes que não haja mais nada para ser barganhado. Em resumo, em termos de viabilidade nacional, crescer e lidar com o mundo real.
Israel, cuja viabilidade como Estado judeu e democrático depende pelo menos em parte do sucesso dos palestinos em estabelecer um Estado viável, teria interesse em ajudar, assegurando uma visão razoável de um Estado Palestino – algo que o primeiro-ministro Sharon infelizmente se recusa a fazer. Mas os próprios palestinos se fazem um grave desserviço ao continuar culpando Israel por sua falta de perspectivas para um Estado viável.
Aqui o que é de grande preocupação sobre o futuro palestino é a provada falta de aproveitamento das oportunidades por sua liderança nacional, que rejeitou os 82% da Palestina que lhes foi oferecida pelos britânicos em 1937, aos 48% oferecidos pela ONU em 1947, e então a autonomia sobre a Cisjordânia oferecida em Camp David I, os mais ou menos 21% oferecidos por Ehud Barak em Camp David II – e em cada uma das ocasiões preferiu optar pela violência.
Não sei quanto território o presidente Bush imagina oferecer aos palestinos toda vez que fala sobre um Estado Palestino viável. Mas se eles rejeitarem a oferta, seu problema não será de viabilidade. Será de relevância.
Os únicos problemas reais de viabilidade da Palestina são o desejo nacional e a liderança nacional. Todo o resto da conversa sobre viabilidade – de todos os lados – é reflexo de agendas ocultas.
YOSSI ALPHER é co-editor da bitterlemons.org e da bitterlemons-international.org. Foi diretor do Jaffee Center for Strategic Studies e assessor do ex-primeiro ministro israelense Ehud Barak.
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