Outposts = Despistamento

n164

  b i t t e r l e m o n s / B R
  original www.bitterlemons.org  versão brasileira PAZ AGORA/BR   
21/02/05 – Os Postos Avançados (Outposts)
 UMA VISÃO ISRAELENSE
 Despistamento
 por Dror Etkes

 

A idéia de dedicar este artigo a “postos avançados” provoca já de início uma objeção. Afinal, qual seria a diferença entre discutir os postos avançados e o próprio empreendimento dos assentamentos como um todo?

Claramente esses postos são nada menos que assentamentos novos ou expandidos, estabelecidos nos últimos anos.

Neste sentido, institucionalizar o “tema dos postos avançados” como uma questão separada de discussão é simplesmente mais uma expressão do sucesso dos colonos de direita em normalizar uma situação prolongada na qual as vidas de centenas de milhares de israelenses são vividas por trás das fronteiras soberanas do Estado, numa área onde por gerações viveu outra população, que foi privada de direitos básicos.

Além disto, o mero fato de uma discussão separada dos postos avançados serve aos colonos como uma linha adicional de defesa: qualquer um que tente rompê-la, e no processo sofrendo baixas políticas e de mídia, acordará num dia descobrindo que os assentamentos “legais” nesse meio tempo ” triplicaram ou quadruplicaram em tamanho.

Soa familiar? Esta em resumo é a história da colonização israelense na Cisjordânia nos últimos dez anos.

Eis um exemplo que claramente ilustra o fenômeno. Migron (cerca de 40 famílias), HaRoê (umas 15 famílias) e Havat Gilad (3 famílias mais um número variado de jovens irados), são 3 de uma centena de postos espalhados por toda Cisjordânia, cujos nomes surgem a cada poucos meses quando uma tentativa – normalmente abortada – é feita para remover um galinheiro ou container que foi contrabandeado para dentro deles na calada da noite.

Alguma pessoa séria, com algum mínimo conhecimento da rede de assentamentos que fatia a Cisjordânia em dezenas de enclaves separados, é capaz de acreditar por um minuto que a presença de no máximo 250 israelenses (a maioria crianças), vivendo nesses 3 assentamentos, de alguma forma altera o futuro do controle israelense sobre a Cisjordânia?

A periódica discussão a respeito desses e de outros postos avançados se constitui precisamente no muro de consciência e mídia que os colonos exploram para desviar a discussão para longe das reais questões que a sociedade israelense deve abordar urgentemente.

Se houvesse uma séria discussão sobre o futuro da Cisjordânia e dos assentamentos, os nomes alternativos que surgiriam seriam os das 3 colônias das quais esses postos avançados são próximos: Kochav Yaakov (4.000 pessoas), Eli (2.200) e Qedumim (3.000). Em todas elas, a população duplicou ou triplicou na última década. Tal discussão obrigaria a sociedade israelense, primeira e principalmente, a reconhecer e internalizar dois simples fatos reais.

Primeiro, que dois povos separados, judeus israelenses e árabes palestinos, vivem nesta terra. E segundo, que é impossível que o destino de um destes povos seja arbitrariamente determinado por um período prolongado pelo outro, precisamente o programa político para cuja implementação os assentamentos e os postos avançados foram estabelecidos.

Ainda assim, uma discussão histórica dos assentamentos parece chamar a atenção para a particularidade de um aspecto dos postos avançados – mais precisamente de alguns desses postos criados nos últimos anos – que difere da história geral da empresa de colonização.

A criação de alguns dos postos avançados reflete um estágio evolucionário onde a própria força do establishment político-burocrático criado para servir aos assentamentos começou a criar anti-corpos.

Estamos num estágio em que o governo central israelense perdeu o controle não apenas sobre o comportamento dos colonos, mas também sobre a disposição dos enormes recursos que o Estado pôs à sua disposição.

Chegou-se a uma realidade distorcida, na qual chefes dos conselhos regionais de colonos na Cisjordânia, escolhidos para recolher taxas para manutenção  de estradas e calçadas, acabam formulando as políticas externas e de segurança de Israel.

Talvez, numa geração ou duas, quando a perspectiva histórica o permitir, alguém vá escrever um tratado abrangente que procure abarcar todo o empreendimento dos assentamentos na Cisjordânia. Uma rápida olhada no índice de nomes e conceitos do livro provavelmente observará muitas referências ao nome Ariel Sharon, seguido por conceitos como “insensato”, “mau”, e talvez até “ingênuo”.

E, com certeza, o termo “ironia”.

Dror Etkes chefia a Equipe de Monitoramento de Assentamentos do PAZ AGORA desde o início de 2002.   

  b i t t e r l e m o n s / B R

bitterlemons.org mantém completa simetria organizacional e institucional entre os lados palestino e israelense. Os originais em inglês podem ser encontrados no site www.bitterlemons.org

[ publicado pela bitterlemons em 21/02/2005 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.