n125
“Estamos no limiar de uma nova era, que traz a esperança da paz”
[ entrevista de Ron Pundak para o jornal palestino Al Quds]
Numa entrevista especial para o jornal palestino Al Quds, baseado em Jerusalém, Ron Pundak afirmou que as mudanças sofridas pela Autoridade Palestina (AP), e as eleições que resultaram na vitória de Mahmoud Abbas (Abu Mazen), claramente indicam que as ruas palestinas se encaminham para a mudança e reconstrução, e que entendem o ponto de vista do lado israelense.
A população palestina quer restaurar as relações palestino-israelenses através da coordenação de atividades, o que deve ter resultados positivos dentro de ambas as sociedades, contribuindo finalmente para encontrar uma solução para o complexo problema.
“Agora vivemos num ambiente substancialmente diferente do passado, na medida que mesmo as forças extremistas entre as partes do conflito começaram a entender que persistir na trilha da violência não conseguirá nada além de engajar os dois povos desses países em destruição, guerra e fome.
Mudança é a palavra-chave da situação agora – e para melhor – porque a situação está mudando de fato. Há checkpoints (postos de controle militar) que estão sendo transferidos dos locais atuais, e a AP está recebendo mais poder e controle para desempenhar seu papel na manutenção da paz e cessação da violência. Todas essas mudanças representam razões para sermos otimistas quanto à direção positiva das mudanças”.
Ron Pundak expressou a esperança de que um cessar-fogo será implementado entre as duas partes, com a cessação de todas formas de violência e contra-violência. Instou o atual governo israelense a responder pacificamente às recentes mudanças, e a iniciar uma trégua, deixando de fazer novas incursões, assassinatos seletivos e perseguição de ativistas, dizendo que é de seu maior interesse participar com o lado palestino em seus esforços de mitigação.
Ele demandou que o atual sistema, baseado em checkpoints em cidades e aldeias palestinas, seja alterado, e que os prisioneiros palestinos sejam libertados de acordo com uma agenda pré-fixada.
Pundak adicionou, “Sou esperançoso de que testemunharei em breve cooperação e participação entre os lados palestinos e israelenses para trazer a vida de volta a seu ritmo normal e conseguir desenvolvimento econômico e segurança para eles”. Pundak acredita que isto poderia ser o início de uma marcha em direção à paz, quando a reconciliação histórica entre as nações palestina e judia será alcançada.
“Doze anos se passaram desde que o Acordo de Paz de Oslo foi assinado em 1993, que é considerado um marco para a paz através do diálogo político e diplomacia positiva. Eu gostaria de ver uma mudança de fato agora, e a continuação das negociações que começaram em Oslo com o objetivo de alcançar a paz, estabelecer um Estado Palestino independente, retornando às fronteiras de 1967 com algumas mudanças secundárias, e encontrando uma solução razoável para o problema dos refugiados”.
O Sr. Pundak disse que dentro do establishment militar israelense, assim corno dentro do atual governo, existem forças que gostariam de assistir a essas mudanças de que falamos, apesar de algumas reservas de parte da inteligência israelense. Mas ele esta otimista de que as mudanças do lado palestino sejam sinceras e genuínas, dizendo que os palestinos estão sendo sérios na busca de um cessar-fogo e assegurar uma estabilidade de forma a iniciar a marcha da paz.
Pundak enfatizou a necessidade de realizar um encontro de ação conjunta entre Sharon e Abu Mazen, e que o diálogo entre eles continue regularmente.
Respondendo à questão de se Shimon Peres teria qualquer influência sobre Sharon, ele disse que Peres tem uma visão, e tem todo respeito por Sharon. Eles compartilham uma forte e sincera aspiração de executar o plano de desligamento de Gaza e um plano similar na Cisjordânia, como passo inicial para implementar o Road Map, e chegar à paz.
Com relação à posição da sociedade israelense diante dos atuais acontecimentos, Pundak afirmou que os israelenses preferem a paz, mas que os quatro últimos anos, representados pela Intifada de Al Aqsa, criaram uma boa dose de desconfiança, instabilidade, clivagem e anarquia. Mas a situação agora é diferente, especialmente após a eleição de Abu Mazen, pelo que a maioria dos israelenses deseja e apóia a paz, e gostaria de ver a sociedade palestina se livrando da violência. Depende do povo palestino convencer a população israelenses de que é sério e claro sobre mudar e sobre alcançar a paz e o estabelecimento do Estado Palestino de uma maneira pacífica.
Pundak frisou que a oposição israelense é relativamente forte dentro do Knesset, mas fraca nas ruas. E o que é necessário são esforços para um cessar-fogo e a mitigação para fortalecer a oposição nas ruas e convencer o público de que existe boa vontade.
Expressou sua convicção de que melhorar a economia nacional palestina só será conseguido através da ativação de projetos conjuntos em campos como turismo e o estabelecimento de parques temáticos, assim como cooperação, com assistência a agricultores palestinos. Temos que explorar a oportunidade da retirada de Gaza, de forma a fornecer ao Banco Mundial e países doadores uma oportunidade de investir ali e começar a reconstrução e desenvolvimento dentro da Faixa, assim como investimentos na Cisjordânia, através do estabelecimento de projetos vitais dirigidos ao renascimento e bem-estar da população palestina e a melhoria e estabilização da economia palestina.
Disse ainda que o turismo irá resultar em benefícios de grande escala tanto a israelenses como a palestinos e à região como um todo. Devemos, portanto, reconstruir instalações e locais que atraiam turistas.
Pundak afirmou claramente que devemos avançar para a paz e não perder esta oportunidade. Não temos outras alternativas. Ambos os lados sofremos imensamente nos últimos anos, e ambos cometemos muitos erros e criamos um monte de obstáculos.
Precisamos agora evitar repetir esses termos e olhar adiante para o futuro, agarrar as oportunidades à disposição e alcançar a estabilidade e a coexistência aspiradas para nossos filhos, longe da violência e da fome.
[ entrevista por Zaki Abu Halaweh | publicada no jornal palestino Al Quds (www.alquds.com) em 01/02/2005 | traduzida pelo PAZ AGORA|BR ]
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