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O Fórum Social Mundial pode ser visto como um grande happening da esquerda, a colorida e alegre concentração de gente vinda de muitos lugares do mundo: pessoas diferentes na aparência, nas idéias, no estilo de vida. Mas o Fórum, em verdade, foi concebido como um lugar de debate. E há muito o que debater no Fórum. A questão principal é: qual o caminho da esquerda no século 21?
O século que passou viu a ascensão e a queda do comunismo. A ascensão foi lenta e correspondia às expectativas de milhões de pessoas que, vítimas de um capitalismo selvagem e implacável, sonhavam com uma sociedade mais justa. Já a queda foi rápida e deixou um vácuo não preenchido. Dá para dizer que o fundamentalismo, por exemplo, substitui os ideais igualitários do comunismo? De jeito algum. Um sistema de crenças que vê a mulher como ser inferior, que censura livros, filmes e jornais e que pune descrentes até com a morte não pode ser o ideal para a humanidade.
Mas a pergunta que não quer calar está aí: por que o comunismo foi derrotado, se tinha ideais tão generosos?
Por várias razões. A primeira delas: a opção por formas ditatoriais e pelo culto à personalidade de figuras atrozes como a de Stalin. E por que o capitalismo venceu? Porque, mesmo mantendo imensos contingentes na miséria, acenou, e acena, com promessas. O capitalismo é lúdico. Permite à pessoa que aposte: na Bolsa, na especulação, em suas próprias habilidades e talentos. O capitalismo é excitante. O comunismo exigia reuniões demais, como dizia Oscar Wilde. Bem que os países comunistas tentavam despertar o interesse das pessoas – com o esporte, por exemplo. Produziram grandes atletas. Que volta e meia fugiam para o Ocidente.
O capitalismo associou-se à democracia. Isto é o que permite a Bush justificar suas intervenções. E o fato soberano, que o século passado só confirmou, é exatamente este: com todos os defeitos que possa ter a democracia (e cada campanha eleitoral os comprova), ainda é o melhor regime. A esquerda mais moderna, a do PT inclusive, deu-se conta disso. Democrático já não é mais uma palavra para ser pronunciada com desprezo. É verdade que a esquerda ainda não se acostumou completamente a isso. O termo mais em voga entre a intelectualidade não é “democrático”, é “republicano”. Nada a ver com o Marechal Deodoro, nada a ver com os partidários de Bush. Republicano aí significa voltado para a coisa pública.
Voltando à nossa pergunta: qual o caminho para a esquerda? Muitos desistiram das grandes respostas, que envolvem uma tentação totalitária, para optar por causas pontuais: ecologia, direitos de minorias, feminismo. Outros, porém, continuam comprometidos com a transformação de nosso mundo. Não há receita para isso; não existem mais as certezas que emergiam, claras, lógicas e doutrinárias, da obra de Marx. O desafio, portanto, permanece. É assunto para muitas noitadas de bar. Falando em bar: perto da ACM, onde faço ginástica, há uma lanchonete que, desde dezembro, tem estado semivazia. Comentei o fato com a proprietária, que concordou, mas disse: “Nossa esperança é o Fórum.
A dela e a de muita gente.