Deixar os colonos em Gaza? Sim, retirando o exército.

 Retirar o Exército Israelense de Gaza
 por Moriah Shlomot

A população israelense decidiu há muito tempo desmantelar assentamentos, como evidenciado pelo seu enorme apoio ao plano de desligamento do primeiro-ministro Ariel Sharon, incluindo a remoção de todos os assentamentos da Faixa de Gaza e quatro do norte da Cisjordânia,

Na realidade, foi apenas a pressão pública que levou Sharon a iniciar seu plano de retirada, de forma a gerar uma saída política que pudesse extrair Israel do banho de sangue dos últimos anos. É uma boa nova para aqueles que apóiam o processo de paz ou o fim unilateral da ocupação.

Os colonos – e particularmente sua liderança extremista, o Conselho de Yesha – entendem que a decisão chegou. De seu ponto de vista, a única maneira de impedir esse movimento é provando que ele não é viável. Estão usando munição pesada, como ameaças de atacar soldados e assassinar o primeiro-ministro, de se engajar em desobediência massiva e, acima de tudo, deflagrar uma guerra civil. Nós, declaram eles, não seremos perdoados se não aceitarmos sua posição e sua visão.

Resistência ao desligamento

Resistência ao desligamento

Os colonos estão explorando o sentimento de destino comum e sacrifício coletivo portados por cidadãos de um estado-nação. A maior parte dos israelenses acha difícil imaginar a visão de pessoal de segurança se comportando agressiva e violentamente contra judeus. Tais imagens podem causar o fracasso de todo o empreendimento. Similarmente, uma campanha ameaçando com guerra civil está espalhando horror pela sociedade israelense. Sua eficácia pode impedir os israelenses de enxergar o caminho para o fim do conflito com os palestinos.

Desta forma, para assegurar que o desligamento tenha lugar, sem empurrar as forças armadas israelenses para um beco perigoso na consciência nacional, o governo deve anunciar um cronograma para todas medidas necessárias para remover os colonos de Gaza com respeito, sensibilidade e atenção às suas necessidades e seu protesto, incluindo compensações financeiras e outras voltadas para facilitar sua transição e ajuste para uma nova vida.

Entretanto, ao fim desse período, após sinceros esforços para remover o máximo número de colonos de Gaza e do norte da Cisjordânia – e num estágio posterior, o resto dos colonos da Cisjordânia e Gaza – o governo de Israel deve se retirar para uma fronteira reconhecida pela ONU e a comunidade internacional. A partir de então, os colonos restantes poderão retornar ao território soberano de Israel conforme a Lei do Retorno.

Esses passos irão nos poupar de imagens na TV de gás lacrimogêneo e balas de borracha sendo usadas contra colonos, e mulheres e crianças sendo arrastadas pelo chão. Isto iria esvaziar a luta dos colonos. O governo não pode fornecer um palco para as manifestações provocativas, heróicas e determinadas de oposição que constituem a arma mais forte dos colonos. Só dessa maneira Israel poderá se engajar num legítimo e democrático debate político, livre de ameaças e brutalidade.

deslig laranjasEsta, pois, é a decisão certa, política e estrategicamente. Continua a questão: se o exército israelense se retirar da Faixa de Gaza, o que acontecerá com os obstinados colonos que preferirem ficar no lugar, sem proteção, sem infra-estrutura e sem soberania? Não será o Estado de Israel responsável pelo seu bem-estar? É obrigação do Estado proteger seus cidadãos que estão violando  suas leis e decisões, fora de suas fronteiras? São questões pesadas.

O desmantelamento de assentamentos irá determinar se Israel irá se manter como um Estado nacional judeu. Conceitualmente (não taticamente) qualquer um que procure impedir o desligamento à força é uma bomba relógio que precisa ser rapidamente desarmada. Desmantelar assentamentos é uma condição vital para a existência do Estado. Quem o tentar impedir estará pondo em perigo o futuro do Estado.

Quando o futuro da sociedade israelense é posto na balança contra o desejo de um grupo de cidadãos que se põem a si mesmo em perigo, a resposta é clara.

Em paralelo, a Autoridade Palestina, em plena coordenação com Israel, deve assumir a responsabilidade pela segurança das vidas daqueles cidadãos israelenses –  se restar algum – que escolherem ficar no seu território.

Várias pesquisas realizadas entre colonos da Cisjordânia e Gaza os descrevem como gente responsável e pragmática, que não irá trair os interesses do país. Apenas uma minoria de entre 2 a 6% afirma que utilizará meios ilegítimos ou ilegais para combater o desligamento, Esses poucos milhares estão tomando todo o país como refém. É hora de virar a mesa e dizer não a eles: Não, vocês não irão controlar o nosso destino, o Estado ditará o seu destino num espírito de responsabilidade por todos seus cidadãos.

Sem um amplo apoio público, a determinação retórica dessa minoria será enfraquecida. Retirar as tropas israelenses de Gaza, com uma declaração inequívoca contra a remoção forçada dos colonos, irá estreitar os limites do conflito e canalizá-lo para caminhos legítimos e democráticos.

(c) bitterlemons.org 17/01/2005 – versão brasileira PAZ AGORA|BR

Moriah Shlomot foi secretária-geral do Movimento PAZ AGORA entre 2000 e 2002.

Este artigo também foi reproduzido no diário libanês Daily Star em  01|02|2005

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